Silêncio revoltante

Silêncio revoltante

Há um silêncio que me está a fazer uma enorme confusão. Já pensei que fosse resultado de uma espécie de desprezo, mas chego agora à conclusão de tratar-se, antes, de uma grande vergonha.

Por: José Kaliengue

É o silêncio da vergonha. Os líderes políticos africanos, ante a divulgação da venda de cidadãos negros como escravos, na Líbia, estão tão envergonhados que se remeteram ao silêncio, assim espero, honestamente.

Bom seria se fosse um silêncio auto-flagelador, que lhes rasgasse a alma. Contrição que depois lhes abrisse os olhos, a consciência e o coração. Há uma pergunta de base: por que razão emigram os africanos e porquê da forma como o fazem, arriscando a vida no mar e agora até sujeitandose ao trabalho escravo? A resposta é simples: não emigram, fogem.

Por um bocadinho de humanidade, fogem! Porque os líderes africanos preferem colocar o dinheiro dos seus países em contas privadas no Ocidente, gerando lá emprego, formação, Saúde, bem-estar para os ocidentais europeus, e aqui, no continente, o desgarramento. Mata-se o sentimento e o orgulho de pertença. Aqui fica a grande desesperança.

O grito de revolta vem do secretário- geral da ONU, Guterres, que se diz “horrorizado” com relatos de venda de migrantes como escravos, e de artistas como Alpha Blondy. Já da União Africana e dos nossos líderes, apenas o silêncio. De vergonha, espero.