Angolanos unem-se no combate à violência contra mulheres

Angolanos unem-se no combate à violência contra  mulheres

A afirmação foi feita ontem, em Luanda, durante a Marcha de Repúdio à Violência contra as Mulheres. Apesar de ter sido uma actividade voltada para o público feminino, os homens juntaram-se à causa alegando que não existirá uma sociedade forte enquanto as mulheres forem vistas como “vaso frágil”

Por: Afrodite Zumba

Dezenas de mulheres de várias idades e extractos sociais marcharam em um acto símbólico de repúdio às diferentes formas de violência, das quais têm sido vítimas em território nacional. Sob o lema “Parem de Matar as Mulheres”, as participantes caminharam cerca de três quilómetros, num percurso que teve início no cemitério da Sant’Ana, no bairro Popular e terminou no Largo das Heroínas, exigindo que as políticas traçadas pelo Executivo “saiam do papel” e sejam melhor implementadas.

Em depoimento a OPAÍS , a coordenadora geral do Movimento Ondjango Feminista, Sónia Cunha, salientou que as leis criadas para a defesa das mulheres pouco se têm reflectido no seu dia-a-dia, visto que frequentemente têm sido noticiados pelos órgãos de comunicação social vários casos de agressões contra as mulheres que muitas vezes ficam impunes.

“As zungueiras têm sido alvo de violência física dos fiscais. Há mulheres que têm uma gravidez saudável e perdem os filhos nas maternidades pela escassez ou inexistência de materiais gastáveis nas unidades hospitalares”, disse.

A responsável esclareceu que estes factos contrariam os acordos internacionais assinados por Angola, dentre os quais o Protocolo de Maputo, principal instrumento jurídico para a protecção dos direitos das mulheres e raparigas no continente africano.

Defende que a nível do Parlamento seja criada uma Comissão de Inquérito para investigação dos casos de violência que têm ceifado a vida de vários cidadãos, bem como a nível da Assembleia Nacional sejam organizados debates sobre a reforma do sector da Segurança Pública com o objectivo de se adoptarem políticas integradoras.

Sobre estas últimas, a responsável explicou que, havendo um debate sobre o referido tema, poder-se-á chegar à conclusão de que os efectivos da Polícia Nacional deverão beneficiar de formação em Direitos Humanos, o que, de certo modo, lhes permitirá garantir a segurança dos cidadãos e, ao mesmo tempo, humanizar o atendimento às vítimas de violência.

Com os rostos pintados, trajadas de t-shirts brancas e pretas, exibiam cartazes e proferiam dizeres que apelavam ao fim das agressões contra o género feminino.” Não nos matem só, somos todos iguais”, ouvia-se o coro, acrescentando “basta, chega, justiça já!”, determinavam. Neste grupo, O PAÍS encontrou a zungueira Filomena Magalhães, de 37 anos, que havia abandonado o local em que se encontrava a vender, nos Congolonses, para se juntar ao aglomerado de mulheres que por ali passavam a exigir o cumprimento dos seus direitos. A comerciante alegou que frequentemente tem enfrentado a violência dos fi scais, que agridem-na e forçadamente recebem-lhe o negócio, com o qual tem sustentado cinco filhos. “ Gostei da iniciativa, por isso marchei dos Congolenses até aqui no 1º de Maio”, acrescentando que deseja arranjar emprego. Na primeira linha da marcha, estava Lina Sebastião, de 32 anos, que disse ter aderido ao evento em solidariedade com as mulheres que têm sofrido agressões físicas, verbais, sexuais e psicológicas, que nalguns casos terminam em homicídios.

A jovem alega que, apesar de não ter sido vítima das violências acima descritas, já foi alvo de descriminação por ser portadora de deficiência física. “ Graças a Deus nunca fui alvo dessas formas de violência, mas aconselho as mulheres que foram ou venham a ser, a não terem receio de denunciar os agressores, salientou.

Homens não ficaram em casa e juntaram-se à causa

Embora o evento fosse voltado ao público feminino, alguns homens juntaram-se à caminhada alegando que a mulher desempenha um papel relevante na sociedade e jamais deveria ser vista como um “ser fraco ou vaso frágil”.

Segundo Willi Piaça, de 39 anos, que exibia um cartaz com o dizer “Não quero ter medo de ir às ruas”, defende ser importante que a sociedade esteja consciencializada sobre as questões da violência contra a mulher, uma vez que dificilmente a mesma virá a ser forte se a mulher não ocupar o seu espaço.

A marcha de repúdio à Violência Contra as Mulheres enquadrase no âmbito das celebrações do Dia Internacional da Eliminação de Todas as Formas de Violência contra a Mulher, assinalado ontem, e visa chamar a atenção da sociedade civil e do Governo para a necessidade de serem postas em prática as políticas outrora traçadas para esse fim.

O movimento Ondjango Feminista, entidade promotora da marcha, é um colectivo de activismo e educação em prol da realização dos direitos das mulheres e meninas de Angola. Criado há um ano e quatro meses, o movimento tem um programa feminista transformador a partir de uma perspectiva de justiça social, solidariedade e liberdade.