Agentes da PIR acusados de espancamento até à morte

Agentes da PIR acusados de espancamento até à morte

Cristina Malesso foi brutalmente espancada na presença de três dos seus filhos, por, alegadamente, se ter apropriado da carteira de um agente da Polícia de Intervenção Rápida (PIR) que, na verdade, havia sido extraviada e foi achada. A Polícia confirma o envolvimento dos dois efectivos que já se encontram presos.

POR: João Katombela, na Huíla

Dois agentes de 2ª classe, afectos à Unidade de Polícia de Intervenção Rápida (UPIR), da cidade do Lubango, estão detidos desde Terça- feira, 26, por terem presumivelmente morto à pancada uma cidadã de 32 anos de idade, na localidade do Luyovo, arredores da cidade do Lubango. De acordo com a denúncia, José Domingos Shalina e Angelino Chivela, de 40 e 41 anos respectivamente, terão cometido este crime na madrugada desta Terça-feira, durante um convívio com a vítima.

Os familiares da vítima declararam a OPAÍS que as agressões foram presenciadas por um dos filhos de Cristina Malesso, de 8 anos de idade, que clamou por ajuda aos gritos. Manuel Francisco Tchicambi, tio da vítima, explicou que foi alertado por uma sobrinha, prima da malograda, após esta ter notado a presença dos agentes à 1 hora da madrugada. “A minha sobrinha veio bater a minha porta, era uma hora da noite, para nos informar que estavam dois polícias a fazer confusão em casa da Mana”, frisou. Face ao adiantado da hora, Manuel Tchicambi decidiu esperar amanhecer para ir ver o que se estava a passar de concreto.

Assim que foi para lá, encontrou-a ferida, carregou-a às costas até à casa a fim de procurar um transporte que pudesse levá-la ao hospital, mas ela não aguentou e morreu. Segundo um dos irmãos da vítima, tudo terá sido motivado pelo desaparecimento de uma carteira de bolso de um dos agentes durante o convívio no interior de uma residência, onde se encontravam os efectivos da Polícia Nacional, a vítima e outros convivas na noite de Natal. Depois de terem suspeitado da mulher de 32 anos de idade, os agentes acusados partiram para a residência da mesma onde a terão arrancado à pancada, em frente de três dos seus seis filhos.

André José, irmão mais novo, descarta a possibilidade de existir uma relação mais íntima entre a sua irmã e um dos acusados, sublinhando que tudo não passava de uma “amizade de bar”. “Eram apenas amigos ocasionais porque estavam apenas a se pagar bebidas. Então, quando saíram do convívio, o Polícia pensou que quem levou a sua pasta era a minha irmã, quando na verdade havia caído e mais tarde veio a aparecer”, frisou. Acrescentou de seguida que “a carteira foi encontrada intacta, mas eles já tinham matado a minha irmã. De tanta surra, a cabeça dela inflamou”. Entre lágrimas e choros, os familiares que dizem encontrar-se de mãos atadas por não terem condições materiais para a realização de um funeral, pedem aos órgãos competentes que os dois implicados sejam responsabilizados de acordo o ordenamento jurídico angolano.

Agentes já na cadeia

Entretanto, o porta-voz do Comando Provincial da Polícia Nacional, na Huíla, fez saber que os dois acusados já se encontram detidos numa das unidades da cidade do Lubango. O superintendente Carlos Alberto, que admitiu que os dois acusados são realmente efectivos da Polícia de Intervenção Rápida, revelou que já foi instaurado um processo para se aferir a responsabilidade dos agentes para a responsabilização criminal dos mesmos. “Nós registamos este caso.

Aconteceu na madrugada do dia 26 deste mês, em que agentes da PIR estiveram num convívio familiar no qual, por desentendimento e ingestão de bebidas alcoólicas, resultou na morte de uma cidadã”, frisou. Confirmou ainda que esta morte foi causada por espancamento, envolvendo dois agentes que não mediram as consequências do seu acto. “Agrediram- na com violência e essa cidadã acabou por morrer”, informou.

Por outro lado, Carlos Aberto acautela os cidadãos lubanguenses, no sentido de continuarem a confiar nos serviços da Polícia Nacional, considerando que o que aconteceu na localidade do Luyovo é apenas um caso isolado e não faz parte dos modos de actuação da corporação. “Este acto em nada retira o prestígio que a Polícia Nacional tem. É um acto isolado. Fora daquilo que é orientação policial. Ocorreu num ambiente de convívio”, frisou. O oficial da Polícia advertiu que aqueles agentes que incorrerem nesta prática serão exemplarmente sancionados, no marco das normas de conduta da corporação.