Obstrução dos esgotos causa inundações em Benguela quando chove

Obstrução dos esgotos causa inundações em Benguela quando chove

A rede de esgotos no município de Benguela já foi bastante eficiente, testemunha Osvaldo dos Santos, funcionário da Câmara Municipal de Benguela no tempo colonial. Hoje, quando chove, a cidade das acácias rubras transforma-se num rio, de tão alagada que fica, porque os esgotos foram obstruídos

POR: Zuleide de Carvalho

Quando São Pedro deita água sobre Benguela, é um desastre. Numa fracção de minutos, com chuva intensa, as estradas e passeios desaparecem, inundando- se ao ponto de os automobilistas se desorientarem, sem saberem por onde transitam. Na manhã de ontem, Quinta-feira, choveu na cidade de Ombaka. Apesar de as quedas pluviométricas terem durado pouco, cerca de uma hora, começando às 7h15, os constrangimentos e danos causados são imensos. Nas artérias da cidade inundada viam-se contentores do lixo à deriva nas estradas alagadas, árvores caídas e várias eram as pessoas com os sapatos nas mãos, a atravessarem “os rios”, que horas antes eram estradas. As consequências da inundação afectam a todos.

Inclusive a entidade estatal responsável por resolver esta problemática dos esgotos, a Administração Municipal de Benguela, também sofre com o índice de absentismo elevado nos dias chuvosos. “Com esse problema da chuva, uma boa parte nem apareceu para trabalhar”, declarou ontem Maria José Garcia, administradora municipal adjunta. Assim, na sede provincial, inúmeras pessoas faltaram aos empregos não porque chovia de manhã, mas porque as ruas, estradas e passeios, estavam intransitáveis, submersos, devido ao entupimento dos esgotos, que impede o escoamento das águas.

Benguela nem sempre foi assim… alagada

Osvaldo dos Santos faz hoje, 13 de Abril, 69 anos de idade. Em grande parte desses, dedicou-se a trabalhar no gabinete de urbanismo e arquitectura da Câmara Municipal de Benguela, na era colonial. Indignado com o actual cenário visto sempre que chove com ligeira intensidade, o senhor Osvaldo recorda que Benguela nem sempre foi assim… alagada. No seu tempo, o sistema de esgotos funcionava eficientemente, escoando as águas. Após a Independência, o munícipe sénior testemunhou e sempre criticou as intervenções que foram feitas no tapete asfáltico da sede provincial, pois têm profundos erros, sendo um dos principais a obstrução dos esgotos. “Em 2012, ao fazerem resselagem, lancilagem e calcetagem dos passeios, não tiveram em conta as bocas de águas fluviais que havia.

Essas bocas faziam a recepção das águas, levadas por uma conduta para o mar”. Questionado se na época colonial Benguela ficava assim, como hoje, inundada, em dias de pluviosidade, o ancião respondeu prontamente: “nem pensar!” Sobre os problemas verificados nos recentes anos, “infelizmente, houve erros que cometeram, gravíssimos, talvez por ignorância e um bocadinho de malvadez das pessoas que governavam Benguela”, argumentou o técnico aposentado. Com os esgotos tapados pelo asfalto, as águas da chuva acumulam- se porque a cidade das acácias é plana, explicou o funcionário da câmara reformado. Porém, no tempo colonial houve estudos topográficos para construção das estradas. Dada a falta de inclinação na cidade, os portugueses configuraram estradas com lancis altos e aberturas para a rede de esgotos, escoando as águas da chuva subterraneamente, 500metros mar adentro, mantendo-se Benguela seca. Logo, Osvaldo dos Santos lamenta que o trabalho da Administração Municipal na reconstrução das estradas, após Independência, desrespeite as normas previamente estudadas pelos topógrafos, condenando a cidade das acácias à inundação por inexistência de esgotos.

Munícipes esperam que o governo arranje os esgotos O jovem Pedro Cassua faltou ontem ao emprego porque em Benguela não havia condições para transitar com a sua motorizada. Ainda tentou, mas, andou no passeio a empurrar a mota, pois as estradas estavam submersas. “Tem muita água mesmo, está a impedir muito, principalmente nós, que vamos trabalhar de mota”, reclamou. Francisco Candjeke, cobrador de táxi, enunciou que “não há condições para ir trabalhar, infelizmente, há muita água na cidade, está muito complicado.” De manhã, passou pelo Hospital Geral de Benguela, lamentando vê-lo completamente alagado. O cidadão culpa o Governo, pois, a seu ver, na “nossa cidade, seria bom que tivesse esgotos. A falta de esgotos causa esses transtornos” e, as valas de drenagem não funcionam, têm de ser limpas. Já Ivone José, tem 42 anos, vive na sede provincial há mais de 30 anos. A

comerciante não conseguiu ir às suas bancadas, na praça, porque as ruas que a levariam ao trabalho estavam intransitáveis. Recorda-se que na infância perguntava- se para onde ia a água da chuva, que era escoada. Porque só quando adulta descobriu a importância dos esgotos, pois, há alguns anos, as águas passaram a acumular- se nas ruas. Para si, é imperativo que o Governo faça alguma coisa, resolva esse problema, as pessoas não podem continuar a perder o ganha pão diário porque não conseguem circular na cidade, nos bairros, então, pior. A munícipe preocupa-se também com a sua saúde pois, após ter sido forçada a caminhar nas estradas alagadas, em água contaminada com lixo e fezes, resíduos arrastados pela chuva, teme ficar doente. Nos dias chuvosos, as ruas de Benguela ficam submersas durante horas.

Ontem, duas horas após ter parado de chover, finalmente, nas zonas com esgotos apenas parcialmente tapados, via-se a enchente de água a diminuir. Todavia, essas áreas são a minoria, pois a maior parte dos esgotos do município foram obstruídos. Deste modo, muitas ruas ficam alagadas durante os dias subsequentes à chuva, criando águas paradas no centro da cidade. Sabido na matéria, Osvaldo dos Santos aconselha a Administração Municipal a contratar topógrafos, se ainda não os tiver e, a consultar a experiência dos antigos que trabalharam na época colonial, pois já não restam muitos. Isto para que, num futuro breve, sejam feitas intervenções profundas no tapete asfáltico municipal, para que se recuperarem os esgotos, tarefa que será árdua, mas possível e necessária, livrando Benguela das constantes inundações.