Angolanos procuram ‘mil e uma formas’ de sobreviver em Windhoek

Angolanos procuram ‘mil e uma formas’ de sobreviver em Windhoek

Apesar das dificuldades, derivadas do aumento do custo de vida na República da Namíbia, muitos dos cidadãos angolanos que residem e trabalham neste país são unânimes em afirmar que só regressarão à “ casa” quando existir estabilidade social e garantia de emprego

POR: Afrodite Zumba, na Namíbia

A pouca oferta de emprego disponível para cidadãos estrangeiros, bem como a morosidade das transferências bancárias de dinheiro provenientes de Angola, têm levado muitos cidadãos angolanos residentes na República da Namíbia a “ desdobrarem-se de mil e uma maneiras” para conseguirem o auto-sustento. A maioria imigrou com o objectivo de se formar, mas durante a trajectória acabou por constituir família. Uns sem oportunidade de emprego, outros a trabalhar e a receber um baixo salário, a melhor opção de muitos tem sido o trabalho por conta própria, oferecendo serviço de tradução (inglês/ português), guia turísticos, hospedagem ou transporte aos “compatriotas”. Em depoimento ao jornal OPAIS, por ocasião do Dia Internacional do Trabalhador, que se assinalou ontem, Alcides Pataca, também conhecido como “Mr. Pascoal”, conta que veio parar à Namíbia, em 1995, onde se formou em Engenharia Informática.

Tentou trabalhar na área, mas, apesar de ser licenciado, havia uma disparidade salarial, em relação aos outros colegas com o mesmo grau, por ser estrangeiro. O seu agregado familiar cresceu, bem como as despesas para a garantia do bem-estar, nomeadamente a renda da casa, alimentação, saúde e educação, o que o levou a pensar em criar o seu próprio negócio. Para tal, decidiu investir no ramo do turismo, optando por ser guia. O serviço é organizado em “pacotes”, cujos preços variam consoante a necessidade do cliente. “Se o cliente vier a passeio, faço a reserva junto dos hotéis e também levo-os a conhecer outras províncias namibianas, como Welvis Bay, Oshakati, e tiro a minha comissão”, detalhou, sem revelar a quantia.

Já para a aqueles que se deslocam a consultas, e procuram os serviços de tradução, são cobrados entre 2000 a 3000 dólares namibianos (equivalente a 34 e 51 mil Kwanzas ao câmbio do Banco Nacional de Angola ou 70 a 105 mil Kz, se comprados no mercado informal angolano). Alcides reconhece que o negócio já foi mais rentável, pelo que a crise em Angola surpreendeu a todos. “Estou em Windhoek porque tenho filhos que aqui estudam. Como deveis saber, há qualidade de Ensino e de Saúde”, disse, acrescentando que tão-logo os filhos concluam a formação, regressa ao país.

Quem partilha da mesma opinião é Afonso Neto, que reside neste país há 10 anos. Para ele, foi necessário muita disciplina e empenho para adquirir independência financeira. A sua jornada profissional em Windhoek começou como tradutor de consultas, que lhe permitiu, depois de quatro anos, comprar o seu primeiro carro e colocá-lo no serviço de táxi. Actualmente, além de taxista, o nosso entrevistado auxilia a esposa na gestão de uma Guest House, a Rose Ville, em Windhoek North, propriedade de uma parente. Afonso frequentemente tem visitado os familiares em Angola e não descarta a possibilidade de um dia regressar, caso tenha garantias de ofertas de emprego. “A vida é feita de oportunidades e em Angola têm faltado”, reforça.

Vendo sumo de múcua e bolinho para aumentar no rendimento

Para “driblar” os constantes atrasos nas transferências bancárias processadas a partir de Angola, uma estudante do curso de Gestão de Empresas e Informática, da Universidade Internacional da Namíbia, vende sumo de múcua e bolinho fritos aos irmãos da igreja. A garrafa de 350 ml vende a 10 dólares namibianos, o equivalente a 170 Kz (câmbio BNA ou 350 Kz (mercado informal). O negócio anteriormente lhe proporcionava uma renda extra de dois mil dólares namibianos/ mês, que ajudavam- na nas despesas do táxi, mas devido às dificuldades financeiras dos “irmãos”, teve quebra nas vendas, passando a obter apenas 600 dólares. Por esta razão, optou por procurar emprego e, conseguiu. Há pouco menos de um mês trabalha como empregada doméstica numa Guest house, em Dourado Velho, cujo o proprietário e um cidadão angolano. “Não tem sido fácil arranjar emprego aqui, os que têm sorte trabalham em restaurantes e lojas.

Os patrões gostam quando há pelo menos um funcionário angolano para facilitar a comunicação em português, caso seja necessário”, explicou. Durante a ronda que OPAI S efectuou na cidade, registamos a existência de duas cantinas, de cidadãos angolanos. A mais famosa e a da “Mamã Vivi”, localizada em Windhoek North. Para quem deseja maior oferta de produtos típicos angolanos recomenda-se uma visita ao mercado do Okuryangava, onde existem várias comerciantes angolanas que se dedicam sobretudo à venda de produtos agrícolas. Com o objectivo de obter dados estatísticos sobre cidadãos angolanos residentes na República da Namíbia, bem como o número de angolanos em empresas namibianas, a nossa equipa de reportagem contactou os Serviço Consular, naquele país, mas até ao fecho desta publicação aguardava pela resposta.