Eleição de reitores trará ‘independência de pensamentos’ às universidades

Eleição de reitores trará ‘independência de pensamentos’ às universidades

A indicação de gestores era um sinal da falta de democracia e contribuía negativamente para a liberdade de expressão nestas instituições, de acordo com os académicos ouvidos por OPAÍS. O Sindicato dos Professores Universitários quer que as eleições sejam realizadas no final deste ano

POR: Milton Manaça

No dia 26 do Abril do ano em curso, o Presidente da República, João Lourenço, orientou a ministra do Ensino Superior, Ciência, Tecnologia e Inovação para criar as condições para realização de eleições em todas as universidades públicas e suas unidades orgânicas, a partir do ano lectivo 2019. O académico Lukombo Nzatuzola considera legítimo que as universidades públicas no país voltem a realizar eleições para a escolha dos seus reitores e realça que, deste modo, voltou-se a repor a legalidade e a autonomia de pensamento. Lukombo Nzatuzola entende que as universidades devem ser as primeiras instituições a promover a democracia no país, por albergarem a nata do saber, onde se deve confrontar todo o tipo de ideias que permitem o desenvolvimento da sociedade.

O também sociólogo referiu que caso não fosse abolida esta prática, em 2010, na Universidade Agostinho Neto, com a escolha de Orlando da Mata, a democracia em Angola estaria mais amadurecida e outras instituições do Estado teriam seguido o mesmo exemplo. Para Nzatuzola, com a anulação de processos de votação, coartou- se a liberdade de expressão e a ética profissional que deve nortear qualquer universidade pública. Questionado sobre se o modelo de indicação usado até ao momento “asfixiava” os académicos, o sociólogo respondeu positivamente, argumentando que as escolhas eram feitas por conveniência, principalmente partidária, em detrimento da competência.

“Com o modelo de indicação, os reitores e decanos ficavam amarrados às orientações ditas superiores. Por isso, quem tentasse reivindicar para o bem da instituição era sempre visto com um não patriota”, apontou. O interlocutor disse que houve uma regressão, nos últimos anos, pois que todas as tentativas de reivindicação esbarram contra as reacções dos reitores indicados. Com a eleição, os gestores acostumar-se-ão a prestar contas. Não tem dúvidas de que o regresso das eleições trará desenvolvimento às universidades e à sociedade em geral, acrescentando que a formação de quadros com independência de pensamento evolui o país.

“Meteu-se ordem nas universidades”

O académico Supriano Dembe, chefe de Departamento de Comunicação Social da Universidade Agostinho Neto, partilha a mesma opinião, e acentua que a eleição vão premiar os melhores pensadores do saber científico. Dentre os perfis dos novos gestores, destacou o grau académico e produção científica que os eventuais candidatos deverão possuir caso queiram ser eleitos pelos professores, um critério que, segundo ele, é a base de eleições nas melhores universidades do mundo. Todavia, o interlocutor de OPAÍS, chamou a atenção para a necessidade dos futuros reitores possuírem a capacidade de gestão, que considera uma ferramenta indispensável, por considerar que a direcção de uma universidade não pode compadecer- se com o amadorismo. “Vamos ter mais qualidade nas universidades públicas com a eleição dos reitores, porque voltou a meter-se ordem. Porém, é necessário ter em conta que dirigir uma instituição do saber não é a mesma coisa que estar em frente de uma empresa qualquer”, disse, tendo acrescentado que a organização da universidade é o reflexo da sociedade.

SINPES quer eleições no fim deste ano

O secretário do Sindicato dos Professores do Ensino Universitário (SINPES) para a primeira região académica Luanda/Bengo, Carlinhos Zassala, também aplaudiu a decisão do Presidente da República, argumentando que se as eleições forem livres e justas, vislumbra-se uma luz no fundo do túnel para o desenvolvimento das universidades. Zassala considera prudente que o elenco que irá dirigir as universidades públicas, no próximo ano, saia de um acto eleitoral, já neste ano, para não começar a dirigir uma instituição a meio do ano. O professor universitário entende que os eleitos devem ser pessoas com vasta experiência na academia, e que não tenham queimado etapas na progressão de carreia, citando como exemplo pessoas que nunca exerceram cargos a nível de departamento ou como decanos e se candidatam a reitores.

Universidades e democracia de mãos dadas

De acordo com uma nota da Casa Civil do Presidente da República, o Chefe de Estado considera importante para a vida académica que se retomem os processos de eleição, de modo a unir as instituições do ensino superior público com os princípios democráticos que devem caracterizá-las. O país conta com seis universidades públicas, nomeadamente, a Universidade 11 de Novembro, com sede em Cabinda, cobrindo igualmente a província do Zaire; José Eduardo dos Santos, com sede no Huambo, com extensão no Bié e Moxico; Mandume, com sede na Huíla, cobrindo Namibe, Cuando Cubango e Cunene; Kimpa Vita, com sede no Uíje e extensão no Cuanza- Norte; Lueji ya Ankonde, com sede na Lunda-Norte, estendendo-se a Lunda-Sul e Malanje; Katiavala Buila, com sede em Benguela, cobrindo igualmente o Cuanza-Sul.