Presidente português afasta demissão do governo mas não se recandidata perante novos incêndios

Presidente português afasta demissão do governo mas não se recandidata perante  novos incêndios

O Presidente da República portuguesa , Marcelo Rebelo de Sousa, afasta um cenário de demissão do Governo perante uma nova tragédia como os incêndios do ano passado, mas afirma que, se isso acontecer, será “impeditivo de uma recandidatura” sua.

O chefe de Estado luso assumiu esta posição na segunda parte da sua entrevista à Rádio Renascença e ao jornal Público, divulgada hoje, na qual expressou “uma funda expectativa” de que Portugal não viva novamente fogos como os de 2017, que no seu conjunto mataram mais de 115 pessoas, acentuando: “Nem é só esperança, é expectativa”.

Confrontado com a declaração que fez ao país na sequência dos incêndios de Outubro, em que prometeu exercer todos os seus poderes contra a fragilidade do Estado, e questionado sobre se houver uma nova tragédia o Governo tem condições para continuar em funções, respondeu: “É um cenário que se não coloca no meu espírito. Não vai acontecer”. Marcelo Rebelo de Sousa preferiu destacar outra parte da sua intervenção de 17 de Outubro do ano passado, aquela em que considerou que “o mudar de vida neste domínio é um dos testes decisivos” à avaliação que fará do seu mandato – que no seu entender é “a parte mais importante” desse discurso feito a partir de Oliveira do Hospital, no distrito de Coimbra.

“Eu disse: é fundamental para o próprio juízo que o Presidente fará sobre o seu mandato presidencial. Como quem diz: quando eu avaliar, em meados de 2020, o mandato presidencial, portanto, olhar para o passado, e depois também avaliar ou não a existência de um dever de consciência [em relação a um eventual segundo mandato]”, realçou. Interrogado se esse será um dos critérios para ponderar uma recandidatura sua nas eleições presidenciais de 2021, afirmou: “Não, é decisivo”. E repetiu: “É decisivo”. “Dito por outros termos: voltasse a correr mal o que correu mal no ano passado, nos anos que vão até ao fim do meu mandato, isso seria só por si, no meu espírito, impeditivo de uma recandidatura”, acrescentou.

Nesta entrevista, conduzida pelos jornalistas David Dinis e Eunice Lourenço, o Presidente da República manifestou-se confiante de que a investigação judicial ao furto de material militar de Tancos terá um desfecho antes de terminar o seu mandato presidencial, dizendo: “Mal seria se não tivesse”. Marcelo Rebelo de Sousa apontou os fundos estruturais da União Europeia como a sua maior preocupação neste momento, “e não é só pela posição de Portugal, é pelo significado para a Europa”, e alertou para “o risco de uma pulverização maior do Parlamento Europeu, com as consequências na formação da Comissão Europeia”, após as eleições europeias de 2019. No seu entender, isso pode ser suceder no atual contexto “de populismos, de xenofobias, de contestações inorgânicas, que estão a subir um pouco por todo o lado, em véspera de eleições para o Parlamento Europeu”.

Frisando que, como europeísta, quer “uma União Europeia que pese no mundo”, observou: “Era mau que a futura Comissão Europeia fosse mais fraca do que esta Comissão e que a União Europeia saísse das eleições para o Parlamento Europeu com uma base de sustentação muito débil em relação aquilo que se exige de fundamental”. De acordo com o chefe de Estado, a situação da banca “não tem comparação” agora com as “preocupações vividas” há tempos, quando o sistema financeiro o fazia dormir “um bocadinho menos bem”, porque havia “vários nós górdios que era preciso resolver e estava difícil”.

Em relação ao Montepio, não se quis pronunciar e fez apenas uma observação, sobre a superação de fatores “irritantes” nesse processo, que não nomeou, pegando numa expressão usada pelo ministro dos Negócios Estrangeiros e pelo primeiro-ministro a propósito das relações com Angola – tema que abordou em tom de desdramatização, defendendo que há que “relativizar aquilo que é verdadeiramente menor”. “É fundamental para os que estão envolvidos directamente nessa instituição [Montepio] e é fundamental para quem gere a coisa pública, como o Governo, mas é fundamental para o Presidente da República que corra bem. Todos queremos que corra bem, continue a correr bem, e que, portanto, também aí se ultrapasse o que possa haver de ‘irritantes’, e o essencial seja salvaguardado”, declarou.