Yuri Quixina: “Dívida com emissão de Eurobonds deve ter efeitos multiplicadores”

Yuri Quixina: “Dívida com emissão de Eurobonds deve ter efeitos multiplicadores”

O economista Yuri Quixina fala das vantagens e desvantagem da emissão de Eurobonds e os efeitos da queda do rating de Angola de B2 para B3, no mercado internacional. O Economia Real aborda também, nesta edição, a falência do sector industrial no país

POR: Mariano Quissola / Rádio Mais

O Governo emitiu Eurobonds no valor de três mil milhões de dólares no mercado financeiro internacional. Expliquenos, de forma pedagógica, o seu significado antes de falarmos dos seus efeitos na economia. Eurobonds é um documento que representa uma dívida. Quem emite esse documento significa que está a endividar-se no mercado e quem compra é credor e define uma taxa de juro. Eurobonds tem valor e este está avaliado em três mil milhões de dólares.

Considera-se um sucesso, concorda?

Esse sucesso atribui-se ao Governo porque Angola entra para a lista dos poucos países que conseguiram tal feito em África, nomeadamente África do Sul, Nigéria e Senegal. Os três mil milhões de dólares foram divididos em duas partes: 1,75 mil milhões de dólares para dívida a 10 anos, com uma taxa de juro de 8.25% e 1,25 mil milhões de dólares, com juros de longuíssimo prazo, na ordem de 9,37%, que será paga em 30 anos. Portanto, só podemos considerar sucesso se não compararmos com a primeira emissão e na análise económica sem comparação não tem sentido.

E qual é diferença em relação à primeira emissão, em 2015?

Comparado com 2015 foi um fiasco porque, na altura, emitimos 1,5 mil milhões de dólares, a taxa de juro foi de 9,5%, diferença de 1,25%, em condições melhores do que em 2015, altura em que estávamos a entrar para a crise. O petróleo abaixo de 40, balança co-E qual é diferença em relação à primeira emissão, em 2015? Comparado com 2015 foi um fiasco porque, na altura, emitimos 1,5 mil milhões de dólares, a taxa de juro foi de 9,5%, diferença de 1,25%, em condições melhores do que em 2015, altura em que estávamos a entrar para a crise. O petróleo abaixo de 40, balança comercial de rastos, investidores estrangeiros a fugir… hoje as condições são melhores. Talvez seja um sucesso político, mas do ponto de vista técnico não.

Você só vê prejuízos nessa emissão?

O prejuízo dependerá da forma como será aplicado. Se o financiamento resultante dessa emissão não for aplicado em sectores que têm efeitos multiplicadores será um prejuízo.

Com essas taxas de juros quanto é que o país deverá pagar por ano?

Primeiro, a taxa de juros de 8,25%, que equivalem, no mínimo, a 144 milhões, 375 mil dólares e a taxa de 9,37% representam 117 milhões, 125 mil dólares. Somando, vamos pagar anualmente, no mínimo, 261 milhões, 500 mil dólares, até 2028 e deste ano a 2048, vamos ficar com a dívida de 30 anos, que vamos pagar 117 milhões, 125 mil dólares.

E a Moodys perspectiva que a dívida de Angola atinja 72,8%. Que impacto pode ter na atracção de investimento directo estrangeiro?

Os investidores levaram em consideração essa queda do rating de Angola de B2 para B3, para definirem o preço dos títulos. A Moodys diz que Angola vai se financiar muito internamente, que pressupõe ir buscar dinheiro ao sector bancário, o que afastará as famílias e as empresas do acesso ao crédito. E se assim for, não haverá crescimento económico.

O Governo aprovou ontem um regulamento que visa tornar “exequível o regime de emissão, contratação, negociação e gestão da dívida pública”. Isso acautela a dívida tóxica?

Esse é mais um diploma para controlar a dívida. Sabemos que a dívida pública em Angola foi dos maiores negócios e muita gente ficou milionária com esse negócio. E vou buscar sustentação naquilo que a secretária de Estado das Finanças disse em relação à dívidas falsas, que rondam os 25%.

Oito fábricas fecharam nos últimos sete meses no Huambo e o número sobe para 187, desde 2015, fruto da crise. Como inverter o quadro?

A questão que se coloca é que se essas indústrias são mesmo do sector privado. Mesmo na Zona Económica Especial, onde estão instaladas 76 fábricas, a maior parte está a encerrar. Dessas, apenas 10 funcionam. O resultado do Estado- empresário é falência. Não fizemos aquilo que a China fez. A China não fez Zona Económica Especial para colocar indústrias do Estado, mas para promover a atracção de investimento estrangeiro. O Estado queimou dinheiro nesses investimentos.

Na rubrica ‘Conselhos Úteis’ encerramos hoje a abordagem sobre cautelas a ter antes de pedir um crédito bancário. A incapacidade no pagamento é o motivo do elevado malparado na economia.

Todos os países que têm malparado no pico aumentam com cenários de despedimentos, os bancos ficam com o peso e pode colapsar o sistema financeiro. Hoje estamos a assistir a casos de pessoas cuja taxa de juro é superior ao seu salário.

Em resumo, o que temos de levar em conta antes de solicitar um crédito bancário?

Primeiro, avaliar se o seu salário é sustentável, segundo, para quê precisa do crédito, se conseguirá pagar a taxa de juto.