Falta de energia eléctrica anula desenvolvimento do Songo

Falta de energia eléctrica anula desenvolvimento do Songo

O município do Songo, na província do Uíge, tem registado um fraco investimento no sector privado, resultante da falta de energia eléctrica, o que torna a vida dos munícipes um verdadeiro martírio, por falta de postos de trabalho

POR: Domingos Bento, no Uíge

A falta de energia eléctrica é apontada como principal empecilho ao desenvolvimento do município do Songo, que dista 40 quilómetros da capital da província do Uíge. A zona, potencialmente agrícola, sobretudo na produção de banana, com uma cifra de 250 toneladas por semana, vê-se impedida de receber investimentos privados, em grande escala, devido à ausência de energia eléctrica. Para o município não faltam intensões de investimentos privados, com vista a retirar a zona da inércia, mas as iniciativas não se efectivam por causa do referido problema.

Até ao momento, o município, com cerca de 65 mil habitantes, dos quais, 239 são Sobas, é iluminado por pequenos grupos de geradores que ultimamente têm “sofrido” das oscilações no fornecimento de combustíveis. Songo é tido como um município adormecido. A vila sede é o único local onde há algumas infra- estruturas básicas do Estado, que tem levado à movimentação dos habitantes, como é o caso do Hospital Municipal, as delegações da Saúde, da Educação, o Palácio da Administração, entre outras, que funcionam sem muita pressão porque não têm grande volume de trabalho.

O investimento privado é quase nulo e isso torna a vida dos munícipes num verdadeiro martírio por falta de postos de trabalho. Esta situação, segundo a administradora municipal, Adelina Pinto, responde pelo elevado nível de desemprego que afecta, sobretudo, os jovens que, na falta de alguma coisa para fazer, desperdiçam parte do seu tempo em actividades que não agregam valor. Outros munícipes preferem emigrar para outras zonas. Mário Sozinho, por exemplo, nasceu e sempre viveu no município. Em entrevista ao OPAÍS, o munícipe diz-se agastado com o estado em que se encontra a sua terra natal, que ele considera como um gigante adormecido, que precisa de energia e água para se reanimar. “Não há desenvolvimento sem energia e água. Somos uma terra onde se produz de tudo um pouco. Devíamos ter aqui fábricas e grandes centros que pudessem trabalhar no aproveitamento e transformação dos produtos aqui cultivados, mas, infelizmente, apesar de todo o nosso potencial, não temos nada, como vê”, lamentou.

No município, a única dependência bancária, uma agência do BPC, nunca funcionou, apesar de já estar há mais de dois anos construída e apetrechada com todos os equipamentos. A administradora municipal diz não saber as razões que estão na base do não funcionamento da agência, mas tudo aponta que seja devido à “falta de energia eléctrica”. Diante da situação, os munícipes, funcionários públicos, sobas e outras pessoas que precisam de resolver questões bancárias (como levantamento e depósito de dinheiro), são obrigados a percorrer 40 quilómetros, até à cidade do Uíge. Tem sido um transtorno, já que, mesmo a estrada que liga os dois pontos estando em bom estado de conservação, não há uma rede de transportes públicos. O que existe são pequenos taxistas que transportam as pessoas, com muitas dificuldades. “Espanta-nos como é possível construir-se uma agência e dois anos após a sua conclusão não seja aberta ao público. Da direcção do banco não recebemos, até ao momento, nenhuma informação. Essa situação inquieta- nos porque, se funcionasse, devia minimizar o sofrimento de muitos que são obrigadas a ir à capital da província”, lamentou a administradora local.

Sem água

Nas dificuldades sociais do município do Songo consta também a falta de água potável. As pessoas são obrigadas a consumir água do rio e de outras fontes inapropriadas, o que tem provocado muitos problemas de saúde, sobretudo às crianças, que são fortemente são afectadas pelas doenças diarreicas, segundo disse o director local da Saúde, Rodrigues Joaquim. De acordo com o responsável, o município tem apenas seis médicos e cerca de 30 enfermeiros que, com bastante sacrifício, trabalham para assegurar a saúde aos munícipes. O hospital municipal, apesar de velho, é ainda a grande infra-estrutura na qual são prestados os cuidados primários e secundários de saúde, sendo que os casos mais graves são transferidos para a capital da província.

Município há dez meses sem verbas

Para a administradora municipal, Adelina Pinto, algumas das dificuldades que a zona enfrenta poderiam ser resolvidas localmente, mas o município há dez meses que não recebe verbas do Estado. Conforme explicou, esta situação tem feito com que a municipalidade enfrente sérios problemas, até os mesmo de nível básico. “As dificuldades que enfrentamos já são do conhecimento do Governo Provincial e esperamos que sejam resolvidas em breve. Sem dinheiro não temos como trabalhar, estamos de mãos atadas”, disse.

Distância força abandono escolar

Por outro lado, os níveis de abandono escolar no município do Songo são elevados. Dentre os factores que contribuem para este mal destaca-se a distância entre a escola e a comunidade. Tal como constatou o OPAÍS, muitos alunos são obrigados a caminhar largos quilómetros à pé para assistirem às aulas. É o caso de Benilda Barroso, que, todos os dias, anda mais de uma hora, à pé, de casa para a escola e vice-versa. Por várias vezes a adolescente já pensou em desistir da escola, mas a força dos pais fazem-na continuar, apesar de tudo o que tem passado. “Tenho muitos colegas que já deixaram de estudar. O problema é que aqui não temos táxi e andar à pé, todos os dias, cansa. Se as escolas estivessem próximas, muitos de nós não desistiriam”, disse. Por outro lado, Manuel Zangala, director provincial da Educação, fez saber que, com vista a travar a desistência de alunos, se está a trabalhar num projecto local que visa aproximar as salas de aulas das zonas de moradia. A ideia, conforme explicou, é construir, nos próximos tempos, escolas que estejam a pouca distância de casa dos alunos, de forma a estimular a ida diária às aulas. Ainda dentro deste mesmo projecto, o responsável avançou que se vai trabalhar com a Delegação Provincial dos Transportes com vista a se criar uma linha de transportes públicos para levar os alunos. O município conta, até ao momento, com cem escolas de diferentes níveis, com excepção do ensino superior.