Acordo nuclear e os seus efeitos

O acordo nuclear denominado Joint Comprehensive Plan of Action (JCPOA) – Plano de Acção Conjunto Global foi aprovado em Julho de 2015 e firmado por grandes potências mundiais como os Estados Unidos da América, China, França, Alemanha, Rússia, Reino Unido e a União Europeia

Com a entrada em vigor em Janeiro de 2016, o documento estabelece um nível de stock de urânio enriquecido do Irão, que é utilizado para a produção de combustíveis para reactores, tal como para o fabrico de bombas nucleares por um período de 15 anos.

O acordo limita também, por um período de 10 anos, o número de centrífugas para enriquecer o urânio. Destaca-se que a entrada em vigor do acordo aconteceu após a Agência Internacional de Energia Atómica certificar que o Irão implementou as disposições chaves a que se havia comprometido.

Entretanto, o Presidente norte- americano, Donald Trump, anunciou a sua insatisfação com o acordo assinado pelo seu antecessor, Barack Obama, chegando a declarar que o acordo era ineficiente, pois não impediria que o Irão desenvolvesse uma arma nuclear. Apesar das tentativas dos aliados europeus, durante meses, para convencer o Presidente Trump a permanecer no acordo, no dia 08 de Maio do ano corrente Donald Trump efectivou a retirada do país do acordo e declarou que o seu país voltará a impor sanções contra o Irão.

O Departamento do Tesouro dos EUA estabeleceu um prazo de seis (6) meses para que todas as sanções relacionadas a armas nucleares sejam reajustadas. Destaca-se que as sanções incluem proibições de acesso dos iranianos a dólares norte-americanos, tal como os esforços por parte da administração Trump para impedir que o petróleo iraniano circule no mercado internacional.

Relativamente a posição do Irão após a decisão de Trump, o presidente da Comissão de Política Externa e Segurança Nacional do parlamento iraniano, Alaeddin Boroujerdi, declarou que o país permanecerá no acordo enquanto a Europa honrar os seus compromissos. Para a definição do rumo do acordo, representantes da França, Alemanha, Reino Unido e União Europeia reuniram-se com o vice- ministro das Relações Exteriores do Irão, Abbas Araghchi, em Bruxelas.

A União Europeia expressou o seu apoio para a manutenção do acordo. De forma semelhante, a Rússia também concordou com a continuidade do acordo nuclear.

A reacção nos mercados internacionais foi imediata, apesar das incertezas relacionadas ao desfecho do acordo nuclear. Após o anúncio da decisão dos EUA, o preço do crude atingiu os níveis mais elevados dos últimos três anos.

O Brent atingiu a cotação de 77,21 USD/barril, que representa uma valorização diária de 3,15%, enquanto o WTI fixou-se em 71,14 USD/barril, um aumento de 3,01%. No acúmulo semanal, o Brent e o WTI valorizaram 3,01% e 1,41%, para 77,12 e 70,70 USD/barril, respectivamente.

No mesmo período, as bolsas norte-americanas beneficiaramse com a performance do preço do petróleo, que impulsionou as acções das empresas do sector de energia.

O índice bolsista Dow Jones registou uma valorização diária de 0,75%, situando-se em 24.542,54 pontos, enquanto o índice S&P 500 valorizou 0,97% para 2.697,16 pontos. Durante a última semana os ganhos de ambos índices atingiram 2,34% e 2,41%, encerrando com a cotação de 24.831,17 e 2.727,72 pontos, respectivamente.

Para alguns analistas as sanções contra o Irão beneficiarão os países que mais dependem da exportação de crude, como Angola, conforme demonstrado na recente entrevista do actual Presidente do Conselho de Administração da Sonangol, Carlos Saturnino, que declarou que o preço do petróleo, Brent, que serve de referência para as exportações do país, acima dos 70 USD/barril, tem um impacto positivo nas contas nacionais angolanas, porque o Orçamento Geral do Estado para 2018 foi elaborado com o barril a valer 50 USD.

O preço das ramas petrolíferas angolanas registou um aumento rápido nas últimas semanas, tendo-se em consideração que têm como referência a cotação do Brent, desempenho que favorece as contas da empresa estatal, em um diferencial de 20 USD/barril em comparação com as perspectivas do Governo. Importa ressaltar que o Irão produz actualmente cerca de 3,814 milhões de barris/dia, segundo as fontes secundárias consultadas no último relatório da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP).

A OPEP abordará na sua próxima reunião a possibilidade de escassez no fornecimento global de petróleo, decorrente da redução da produção iraniana, visto que o país é membro da organização. Entretanto, para colmatar a situação, a Arábia Saudita já levantou a possibilidade de aumentar a sua produção diária com o intuito de evitar uma restrição no abastecimento resultante da saída dos EUA do acordo.