Percepção da corrupção aumenta em Cabo Verde, segundo um estudo da Afrosondagem

Percepção da corrupção aumenta em Cabo Verde, segundo um estudo da Afrosondagem

A percepção da corrupção aumentou em Cabo Verde no ano passado, com a polícia a ser considerada a mais corrupta, segundo um estudo hoje divulgado, que concluiu ainda que a confiança nas instituições diminuiu de forma generalizada. Segundo os segundos resultados do estudo do Afrobarometer/Afrosondagem sobre a corrupção, confiança e avaliação de instituições governamentais, no ano passado a percepção da corrupção aumentou entre 2% e 4% em todas as instituições públicas do país.

Em todas as instituições analisadas, a polícia é aquela que os cabo-verdianos consideram a mais corrupta (23%), seguido dos vereadores (17%), funcionários públicos, primeiro-ministro e funcionários do seu gabinete, Presidente da República e gabinete e deputados da Assembleia Nacional (com 16% cada) e juízes e magistrados (11%).

A percepção da corrupção é sentida também no sector privado, com 20% dos cabo-verdianos a considerar que os empresários estão envolvidos, bem como os líderes religiosos (11%) e as organizações não-governamentais (9%).

Relativamente à luta contra a corrupção, a maioria dos cabo-verdianos (58%) considera que deve ser combatido por todos, contra quase um terço (31%) que considera que as pessoas comuns não têm papel nenhum na luta contra a corrupção em Cabo Verde.

Questionado sobre se as pessoas comuns são encorajadas a relatar a incidência de corrupção, a maioria dos cabo-verdianos (60%) considera que há risco de retaliação, contra 36% que acha que qualquer pessoa pode relatar atos de corrupção sem medo porque não lhe irá acontecer nada.

A maioria dos cabo-verdianos (61%) avalia negativamente o desempenho dos sucessivos Governos na luta contra a corrupção, contra 26% que acha que têm feito um bom trabalho.

Os cabo-verdianos consideram ainda que a corrupção se passa na alta esfera do Estado e entre as pessoas mais ricas.

Segundo o Afrobarometer/Afrosondagem a confiança dos cidadãos nas instituições diminuiu de forma generalizada em Cabo Verde, uma tendência que se verifica desde 2011.

Apesar de uma diminuição de três por cento, as Forças Armadas são a instituição que os cabo-verdianos mais confiam (62%), seguida nos três primeiros lugares dos tribunais judiciais (55%) e da polícia (53%).

Durante a apresentação dos dados, o diretor geral da Afrosondagem, José Semedo, destacou o facto de, apesar de a polícia ser a instituição que os cabo-verdianos consideram a mais corrupta, está também na lista das mais confiáveis.

O estudo revelou que as instituições não eleitas continuam a ganhar maior confiança dos cabo-verdianos em comparação com as eleitas e que, entre estes, o presidente da República merece um maior grau de confiança, seguido pelo primeiro-ministro.

Relativamente ao desempenho das instituições, o primeiro-ministro é o mais bem avaliado, com 77% de aprovação, ultrapassando pela primeira vez o Presidente da República, que mantém os 67% de aprovação dos cabo-verdianos.

Seguem-se os presidentes das Câmaras Municipais (48%), deputados da Assembleia Nacional (44%) e os vereadores (40%).

Segundo o estudo, os cabo-verdianos continuam a considerar o desemprego o principal problema do país, seguido do crime e insegurança, pobreza, saúde e a seca, que registou o aumento mais expressivo, de 8% para 24%, devido a falta de chuvas no país no ano passado.

O estudo concluiu que o Governo é avaliado negativamente na área económica, mas consegue melhores desempenhos nas áreas sociais e de infraestrutura.

A Afrosondagem está ligada à Afrobarometer, uma rede de pesquisa apartidária em 36 países africanos, e já realizou inquéritos idênticos em 2002, 2005, 2008, 2011 e 2014 sobre as atitudes dos cidadãos em matéria de democracia, governação, economia, sociedade civil, e outros tópicos.

Nesta sondagem, com recolha de dados entre 20 de Novembro e 05 de Dezembro de 2017, foram entrevistadas 1.200 pessoas com mais de 18 anos nas ilhas de Santo Antão, São Vicente, Fogo e Santiago, e o estudo tem uma margem de confiança de 95%.