O poder político tem a decisão de realizar eleições credíveis em Kinshasa, defende Presidente João Lourenço

O poder político tem a decisão de realizar eleições credíveis em Kinshasa, defende Presidente João Lourenço

“Quem tem a decisão na mão, de realizar eleições credíveis ou não, é o poder político em Kinshasa”, afirmou o Presidente da República, João Lourenço, durante uma conferência de imprensa realizada ontem, em Paris, no final do encontro que manteve com o seu homólogo francês, Emmanuel Macron

  • Texto de: Rila Berta, em Paris
  • Foto de: Carlos Moco

O Chefe de Estado angolano, que respondia às questões apresentadas pela imprensa francesa, relativamente a instabilidade política na República Democrática do Congo, começou por esclarecer que aquele país, com quase cem milhões de habitantes, faz fronteira com pelo menos nove países africanos.

O que pressupõe dizer, explicou, que não é benéfico para as nações fronteiriças que se instale a instabilidade na RDC, pelas consequências que podem advir para toda aquela região, para a região central de África, para a região dos Grandes Lagos e até mesmo para a região da SADC, uma vez que a RDC é membro de pleno direito da SADC.

O Presidente da República referiu ainda que “não se trata de alguém dizer “Presidente Kabila váse embora”, aliás, ninguém tem o direito de o fazer, isto é um problema que só cabe ao povo congolês, sobretudo aos eleitores congoleses que nas urnas deverão expressar a sua vontade de eleger o Presidente que julgarem o mais preparado, o mais adequado para a nova etapa política que vem aí”.

Todavia, recordou o acordo entre o Governo e a Oposição que teve a mediação da Igreja. Por isso, apelou ao respeito pelo que foi acordado e esclareceu não haver somente intenção do Presidente do Rwanda e o Presidente de Angola – mas de uma forma geral os chefes de Estado que presidem a organizações regionais ali à volta da RDC.

“O Presidente Paul Kagame, por razões óbvias, por ser neste momento o presidente da União Africana; eu, não só na qualidade de Chefe de Estado de um país que é vizinho da RDC, mas, sobretudo, na minha qualidade de presidente do órgão de Política, Defesa e Segurança da SADC; o Presidente Sassou Nguesso na sua qualidade de vizinho, por um lado, mas sobretudo na sua qualidade de presidente da Conferência Internacional da Região dos Grandes Lagos; o Presidente Ali Bongo na sua qualidade de presidente da Comissão Económica dos Estados da África Central e o Presidente Cyril Ramaphosa na sua condição de presidente da SADC, todos nós – não apenas os dois, repito, Angola e o Ruanda, mas todos nós, temos vindo a conversar entre nós sobre o futuro da RDC; temos vindo a conversar com o próprio Presidente Kabila sobre o futuro do seu país”, esclareceu.

O titular do poder do Executivo esclareceu que Angola não pretende, “de forma nenhuma”, interferir nos assuntos internos de um outro país. Por outro lado, aconselhou que o melhor caminho, quer para os congoleses, quer para os países vizinhos, passa pelo respeito aos acordos de São Silvestre, “que dizem que deve haver lugar a eleições – por sinal já estão marcadas para 23 de Dezembro do corrente ano – e dizem também, entre outras coisas, que o actual Presidente não se deve candidatar, o poder político deve libertar os presos políticos, até para criar um bom ambiente para a realização das eleições; porque não se trata apenas de fazer eleições, é preciso que se faça eleições num bom ambiente político, de reconciliação com todos, com a sociedade civil, com a Igreja, e que essas eleições sejam aceites pela comunidade internacional porque fazer eleições só por fazer até se pode fazer já amanhã, mas se ninguém reconhecer, não se ganha absolutamente nada com isso”, explicou.

O Chefe de Estado angolano reiterou que, apesar de Angola defender que o Presidente Kabila siga as recomendações do referido acordo, “um aconselhamento não é uma obrigação, ele melhor saberá se aceita ou não aceita os nossos conselhos”.

“É evidente que, se não aceitar os nossos conselhos, nós não temos como pressioná-lo de outra forma; quem tem no fundo a decisão na mão, de realizar eleições credíveis ou não, é o poder político em Kinshasa”, disse. Contudo, João Lourenço alertou que, caso as eleições decorram num ambiente que não satisfaça a grande maioria e houver instabilidade num país com aquela população, e, consequentemente, afecte a todos da região, Angola estará no direito de querer proteger-se.

“Não queremos confusão nas nossas fronteiras, mas muito longe do que Kinshasa poderá estar a interpretar das declarações feitas pelo Presidente Emannuel Macron, que não tiveram nada de anormal.

Digamos que as conversas havidas entre o Presidente Kagame e o Presidente João Lourenço não foram feitas às escondidas, foram feitas ou têm sido feitas nas cimeiras em que nos encontramos”, referiu.