Mistério “ Cuna Mata” deixa escolas às moscas

Mistério “ Cuna Mata” deixa escolas às moscas

Com as informações postas a circular, da existência de um suposto grupo de presos fugitivos, denominados “Cuna Mata”, que estão a atacar alunos com objectos cortantes contaminados, muitos estudantes se recusaram ontem a ir à escola, com medo de serem atacados pela alegada quadrilha. A Polícia tranquiliza os pais e assegura que as informações não passam de boatos que ganharam corpo por via das redes sociais

POR: Domingos Bento
fotos de de Raul Fortunato

Ontem, devido aos sentimentos de medo e de insegurança causados pela informação da existência de um suposto grupo de presos doentes, denominados “Cuna Mata” que, recentemente, fugiram da comarca de Viana para as ruas e escolas de Luanda com intuito de violentar e contaminar pessoas com agulhas e outros objectos cortantes infectados com uma patologia estranha, muitos alunos, com a anuência dos encarregados de educação, não se fizeram presentes nas escolas com medo de virem a ser atacados. Como resultado, professores ficaram sem trabalho e os pátios dos estabelecimentos de ensino estiveram completamente às moscas, sem nenhum expediente.

Uma ronda feita pelo OPAIS nas escolas 5111, 5001, 5.112, no Instituo Médio do Kapalnga e no Instituto Médio João Beirão testemunhou um clima desolador e de profunda preocupação. Em todas as instituições, os responsáveis foram unânimes em reconhecer que foi a força da informação da suposta existência do grupo que forçou a ausência dos alunos nas salas de aulas. Só no Instituto Médio João Beirão houve uma redução de alunos na ordem dos 80 por cento como explicou o seu director pedagógico, Gilberto Morais. Segundo o responsável, depois do tumulto de Quarta-feira, era previsível a “fuga” e o aproveitamento por parte de muitos educandos. “Houve um aproveitamento generalizado. É assim, para além do nosso corpo da guarda, o nosso instituto é instalado com câmaras nas salas de aulas, nos pátios e nos muros. E em nenhum momento registamos a entrada de pessoas ou grupos estranhos. O clima que se viveu aqui foi desnecessário”, explicou.

“Cuna Mata” não alteram ano académico

Por seu lado, Miguel da Silva, subdirector do Instituto Médio do Kapalanga, que ontem também esteve às mocas devido ao sentimento de medo, disse que, apesar da falta em massa dos alunos, o plano académico do ano não será alterado. Os alunos vão é justificar as respectivas faltas e na sequência tentarão recuperar as matérias perdidas. “A estória desse grupo apanhou-nos de surpresa. É que não tivemos a invasão de nenhuma força, mas os alunos entraram em pânico. E como resultado estamos a registar esse vazio na escola. Houve uma redução de alunos na ordem dos 40 por cento. Esperamos que os próximos dias venha a melhorar”.

Calemba-2 foi o ponto de partida

Ao contrário do que se propala, Kiakuma Kiangala, director da escola número 9020, vulgarmente conhecida como Ana Paula, fez saber que a estória da existência dos Cuna Mata teve inicio no Calemba-2 e não no município de Viana como muitos afirmam. No seu estabelecimento de ensino, localizado no bairro Calemba- 2, município do Kilamba Kiaxi, o responsável explicou que a informação foi espalhada por um grupo de três alunas e baseava-se em informações postas a circular nas redes sociais que rapidamente se expandiu por toda a escola, tendo gerado um pânico generalizado no meio da comunidade estudantil. Diante da situação, a direcção da escola fechou as portas para tranquilizar e assim inviabilizar a saída de alunos.

Mas estes, rapidamente ligaram para os respectivos encarregados de educação que, minutos depois, apareceram e invadiram o muro da instituição para os “salvar”. Já no interior da escola, muitos pais que não conseguiam sair pelo portão principal, acabavam por jogar os filhos de dentro para fora. Outros trepavam às árvores e arremessavam de fora os seus educandos que corriam assim o risco de partirem algum membro ou contraírem lesões graves. No entanto, neste corre-corre, muitos estudantes tiveram desmaios devido à enorme agitação. De imediato, explicou a fonte, a Polícia foi accionada para tranquilizar a situação. Postos no local, os agentes da ordem não encontraram nada que justificasse tal alvoroço. Não havia nenhum vestígio do suposto grupo. “É que não havia nada, meu irmão. Alias, se o tal grupo Cuna Mata estivesse por cá, então seriam os guardas os primeiros a os verem. Toda a gente que entra na escola passa pela portaria. E aqui não houve o registo de estranhos. Não entendemos o porquê deste pânico todo desnecessário.

Foi tudo uma encenação, um ouvir dizer baseado em boatos das redes sociais”, conta o responsável escolar. No entanto, com a ocorrência, muitas pessoas, que iam passando junto à escola, recebiam as informações de forma deturpada e começaram a espalhar o “ boato” nas redes sociais e a telefonarem para os parentes e amigos afirmando que os “Cuna Mata” invadiram a escola e teriam contaminado centenas de crianças e assassinado mortalmente o director e o guarda. “Mas tudo falso. Então se nos matassem hoje não estaríamos aqui. Foi tudo mentira que nos deixou espantados. Eu não percebo de onde é que as pessoas foram tirar isso. Se esse tal grupo existe então não passaram por aqui. Não vimos nada. O que houve foi uma pura invenção das pessoas”, afirmou Constantino Kionjo, guarda da escola. Depois do Calemba-2, a fama do misterioso “Cuna Mata” seguiu para o município de Viana, Cucuaco e Belas com os alunos a entrarem em pânico generalizado. Nas escolas 2025 no município de Belas e 5107, em Viana, alguns alunos tiveram desmaios e arranhões quando tentavam fugir dispersamente. Mas, nestes estabelecimentos também não houve o registo de nenhuma invasão por parte de grupos estranhos.

Polícia cria SOS “ Cuna Mata”

Já o director do gabinete de comunicação institucional e imprensa da delegação do ministério do Interior de Luanda, Mateus Rodrigues, tranquilizou os pais, afirmando que, até ao momento, não houve nenhuma confirmação da ocorrência. Segundo o oficial, a Polícia também tomou conhecimento do suposto grupo por via de informações postas a circular nas redes sociais a nível dos bairros. A informação, explicou, propalou- se de uma forma acelerada nos bairros e criou um sentimento de insegurança, o que forçou a imediata acção da Polícia que criou um grupo de trabalho específico a atender a estes casos. Todavia, das diligências feitas, Mateus Rodrigues assegura que a corporação não confirmou nenhuma informação relativamente ao grupo e as suas acções. Contudo, a Polícia diz-se aberto a denúncias que podem ser feitas por via do contacto 914 041039, que está a atender a qualquer hora do dia. “Queremos tranquilizar os pais para continuarem a levar os filhos à escola porque não há nenhuma confirmação da existência deste grupo”,concluiu.