Estado de alma

Estado de alma

Vamos por partes, aquilo que se viu um agente do SIC fazer, num vídeo amador de um transeunte, foi uma execução extra judicial.

POR: José Kaliengue

Foi um assassinato. Só que boa parte dos angolanos entende de outra forma. Entende que foi uma espécie de justiça. E há uma justificação para isso: o estado de alma. Há uma sensação de se estar a viver uma espécie de guerra em Angola, com criminosos que tentam impor a sua ordem, “sitiando” bairros inteiros, sequestrando o direito aos espaços na cidade. O reflexo disso é a forma como os bairros se esvaziam ao cair da noite. Como as actividades culturais conseguem pouca gente, como as pessoas andam desconfiadas, com medo. Não se trata de carteiristas, roubo por esticão ou coisa parecida. Estamos a falar de assassinos à solta. Quase todos os dias há notícias nos jornais de alguém assassinado, violado, famílias inteiras mortas por causa de uma garrafa de gás, por causa de um telefone. Os meliantes sentem-se donos da situação, os cidadãos reféns do medo. O Ministério do Interior comunicou a abertura imediata de um inquérito ao caso da morte, em público, de um jovem inofensivo, mas o debate veio de imediato ao de cima, com vários cidadãos a defender o polícia. Sentiram-se vingados. É que, infelizmente, são aos milhares os luandeses que já se viram ameaçados por uma arma de fogo. Mais do que no tempo da guerra. E porquê que o povo aplaude a execução? Porque matar em tempo de guerra não é crime. Esta guerra é que tem de ser resolvida.