Yuri Quixina: “O debate que devia estar sobre a mesa hoje seria economia e criação de riqueza”

Yuri Quixina: “O debate que devia estar sobre a mesa hoje seria economia e criação de riqueza”

O professor de Macroeconomia, Yuri Quixina, defende que o país devia investir todo o saber para a criação de emprego e de riqueza e só depois pensar-se-ia nas autarquias. O Economista analisou também a visita do Presidente da República à Europa e outros temas da semana

POR: Mariano Quissola / Rádio Mais

Vamos doravante fixar o ponto prévio no processo de auscultação autárquica. Qual é a sua opinião sobre este processo, do ponto de vista macro- económico e financeiro?

Primeiro, é um tema muito importante para todos os angolanos e fundamental para os economistas. É Constitucional a criação das eleições autárquicas, para que localmente o povo participe na governação. É crucial. Mas é importante referir que tendo em conta a história política, económica e social recente de Angola, defendo que nesse mandato cuja tarefa principal é organizar a bagunça na economia, o tema seria a criação de riqueza, mercado, emprego e não autarquias. Autarquias não trazem emprego.

Mas era preciso começar de alguma forma, não pensa assim?

Hoje todo o mundo só está a pensar autarquia, esquecemo-nos de pensar economia. Esquecemos que é o grande problema. Os juristas sempre mandaram na economia na legislatura passada, com o Presidente Eduardo dos Santos. Pensei que seria diferente porque o discurso do Presidente João Lourenço, desde a campanha, era economia, a criação de riqueza, porque o povo está numa pobreza extrema.

Mas qualquer estratégia mesmo macro-económica deve ter base legal!?

As leis com fome não funcionam. A economia tem leis próprias, o direito deve regular aquilo que existe. Para mim, as eleições autárquicas seriam em 2022, para organizarmos a economia. Devíamos começar com desconcentração económica, na medida em que gera liberdade económica e o Estado que se ocupasse das suas funções clássicas. na medida em que gera liberdade económica e o Estado que se ocupasse das suas funções clássicas.

Na reunião do Conselho da República o Presidente referiu-se ao processo da desconcentração que estava em curso. Lembra-se?

Sou economista, e para mim, a fome só acaba se as pessoas tiverem emprego, e se as famílias e as empresas tiveram actividade económica. As autarquias também podem aprofundar assimetrias regionais. O debate que devia estar sobre a mesa hoje seria economia, a criação de riqueza.

O foco dos políticos está fixado no conceito do gradualismo, sustentado na viabilidade económico-financeira dos municípios. Que solução?

Os políticos não estão a debater economia, o que é fundamental. A criação de emprego e o combate às assimetrias. Os políticos estão a pensar autarquias mais na perspectiva do poder. Autarquia sem mercado é zero.

Qual é a sua opinião sobre o cancelamento do consórcio Air Conection Express e o sector público, pelo Presidente da República?

Parece muito contraditório. O Presidente disse que não vai avançar por se tratar de uma companhia fictícia. Fiquei com a impressão de que o Presidente sabia do projecto, e o ministro ficou com a responsabilidade de anunciá-lo e desenvolve- lo. Não acredito que o ministro anunciou à toa. Agora, se o Presidente não sai do projecto é ainda mais grave. Não há orientação e o presidente foi desautorizado.

Parece-lhe que o Presidente da República encabeçou pessoalmente o desafio da diplomacia económica?

Angola nunca aproveitou a diplomacia económica, as relações internacionais de Angola foram sempre políticas. Veremos com o novo Presidente se está aí uma estratégia. Mas depende da nossa estratégia de maximizar os acordos. Está provado que se a economia angolana não se basear no modelo económico que assenta no comércio externo e não conseguir buscar o que de mais avançado há lá fora, não vai se desenvolver.

Governador do Cuanza-Sul apela os empresários agropecuários a produzirem para exportação.

A questão aqui não se resume ao apelo, é preciso ver até que ponto os empresários desse sector são competitivos com o resto do mundo. Estamos a falar de empresários que nunca exportaram bens e serviços, logo é fundamental o Governo criar plataformas efectivas para exportação.

Mais uma da série Trump. Guerra comercial à vista com a Europa, por conta das taxas sobre o alumínio e o aço. Que consequência?

No fundo só está a praticar aquilo que prometeu na campanha e anunciou ao nível mundial. Trump acredita que os Estados Unidos ajudaram muito a Europa e esta não está a pagar essa ajuda.

Sugestão de leitura: Título: “Falando Ciência” é um guia dirigido a jovens cientistas, sobre a necessidade de se apresentar um trabalho científico para qualquer público – seja ele formado por seus pares, examinadores, ou o público em geral.

Autor (a): Suzana Herculano-Houzel, neurocientista, autora e palestrante experiente, apresenta um guia prático de comunicação científica útil para iniciantes e profissionais. Ano de publicação: Março/2015

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