Trabalhadores da Hemodiálise de Benguela há 6 meses sem salário

Trabalhadores da Hemodiálise de Benguela há 6 meses sem salário

Mais de 200 funcionários das clínicas de hemodiálise dos municípios de Benguela e do Lobito, tuteladas pelo Instituto Nacional do Rim, estão há seis meses sem salário, tendo o último pagamento sido feito em Dezembro de 2017. Os pacientes lamentam o facto e mostram-se solidários com a causa dos profissionais

Texto de: Constantino Eduardo, em Benguela

Até a presente data, os funcionários só não paralisaram as suas actividades, como forma de pressionar a entidade empregadora, porque temem pela vida dos pacientes. Perto dos seis meses sem ver a cor do dinheiro, o que os move para estar todos os dias naquela instituição é o “amor que têm pelos pacientes”, já que estes podem perder a vida.

Uma funcionária que preferiu o anonimato, em conversa com o Jornal OPAÍS, mostrou-se agastada com a situação que se arrasta desde Dezembro, tendo lamentado, por outro lado, a falta de informação por parte do Instituto Nacional do Rim. Todavia, caso não lhes sejam pagos os ordenados, embora já o tivessem feito em 2017, os trabalhadores prometem novamente paralisar as suas actividades, pondo, com o gesto, em causa a vida a duas centenas de pacientes nas clínicas de Benguela e Lobito.

Os trabalhadores garantem que os atrasos estão a ter reflexos negativos nas suas vidas. “Não consigo pagar a escola do meu filho e vivo de ajudas da minha família. Outra vez, perguntaram- me porque é que estou sempre a pedir-lhes dinheiro se todos os dias de manhã cedo saio para trabalhar.

Não tive o que responder”, ressalta outro funcionário. Dona Maria Etélica, paciente, recebe tratamento de diálise na clínica de Benguela há um ano, três vezes por semana. Ela deixou a província de Cabinda na esperança de encontrar cura em Benguela. Solidária, lamenta o facto de o Governo e outros órgãos competentes não olharem com preocupação os problemas salariais dos funcionários.

Reconhece que esta situação a prejudica, enquanto paciente, bastante, uma vez que “sem salário, o enfermeiro perde o ânimo de trabalhar. Isso não está bom, temos de sentir a dor do outro”, apela. O nosso jornal não teve sucesso ao contactar a direcção do Instituto Nacional do Rim, no sentido de apurar como anda a negociação com o Ministério das Finanças para o pagamento de uma dívida contraída pelo sector da Saúde.

Entretanto, em Novembro de 2017, conforme noticiara OPAÍS, Jesus Rasgado, administrador do Instituto, revelara à imprensa que a dívida relativa a 2017 era superior a 1 bilhão de Kwanzas, tendo o Ministério das Finanças liquidado apenas 260 milhões de Kwanzas. Apesar da referida dotação das Finanças, segundo disse, os centros debater-se-iam com outros tipos de problemas relacionados fundamentalmente com a aquisição de fármacos.

“Mas é evidente que temos problemas do valor para aquisição de medicamentos e outros consumíveis (aquisição de água e combustíveis) e é necessário dinheiro para dar resposta positiva”, esclareceu o responsável, na altura.

De recordar que os enfermeiros dos centros de hemodiálise de Benguela e Lobito entraram em greve de 13 a 15 de Novembro de 2017 para reclamarem de quatro meses de salários em atraso.

Foi preciso assinarem um acordo, urgentemente, para que os funcionários dos centros de hemodiálise regressassem aos trabalhos, para atenderem os 220 doentes de insuficiência renal crónica. A vida daqueles pacientes corria risco, uma vez que dependem dos serviços prestados por aqueles profissionais para sobreviverem.