FNLA: um partido com dois presidentes

FNLA: um partido com dois presidentes

Agora cabe ao Tribunal Constitucional(TC) dirimir mais este conflito de liderança desta força política cada vez mais fragmentada

POR: Ireneu Mujoco

Agudizou-se a crise de liderança desta força política, na esteira da realização de dois Congressos extraordinários: o primeiro por membros do Comité Central(CC), e o segundo pela direcção do partido. Desde o dia 21 do mês passado que esta força política conta com mais um presidente: trata-se de Fernando Pedro Gomes, eleito por membros do Comité Central, num congresso realizado em Luanda. Paralelamente a este Congresso, realizou-se um outro pela direcção do partido, liderada por Lucas Ngonda, no Huambo, durante o qual foi reconfirmado na liderança do partido.

O conclave do Huambo foi marcado com a redução dos membros do Comité Central de 411 para 221 membros, e a expulsão de três membros deste órgão que tiveram grande influência na realização do conclave de Luanda. Trata-se de Fernando Pedro Gomes, Ndonda Nzinga, Tristão Ernesto, João Lombo e Laiz Eduardo, este último antigo porta-voz do partido. A situação da liderança agrava-se ainda mais numa altura em que o processo de reconciliação está encalhado por falta de consenso entre as partes desavindas, sendo uma de Lucas Ngonda e outra do político Ngola Kabangu. Aliás, as constantes resistências ao diálogo são reflexos do fracassado Congresso de Reconciliação de 2004, conhecido também por conclave da FILDA, onde o mesmo teve lugar. Promovido sob mediação de algumas figuras eclesiásticas angolanas, em que despontavam o bispo católico Dom Anastácio Kahango, o reverendo Ntony-ANzinga da Igreja Baptista, e o jornalista William Tonet, ainda na presença do presidente-fundador do partido, Holden Roberto, não surtiu os efeitos esperados.

Os desentendimentos do Congresso da FILDA continuaram a se exacerbar, chegando-se ao ponto de a ala de Lucas Ngonda terse auto-proclamado como sendo a direcção legítima do partido, com alegações de aplicar reformas democráticas internas. As prometidas reformas nunca tiveram lugar, cujas promessas provocaram a saída massiva de vários quadros com os quais tinha “desertado” do velho Holden Roberto. Entre os vários militantes que abandonaram Ngonda, destacam- se o seu antigo vice-presidente Jorge Vunge, o secretáriogeral Alberto Mavinga, e o secretário para os assuntos políticos Miguel Pinto. Também bateram com a porta o conhecido psicólogo Carlinhos Zassala, Paulo Jacinto, Nsanda Wa Makumbu e outros, tendo parte destes abandonado a política activa e outros cessado a sua militância no partido.

Ngonda já não reúne consenso

Em conferência de imprensa realizada em Luanda por uma outra ala do Comité Central da FNLA, na véspera dos dois Congressos extraordinários ( de Luanda e do Huambo), liderado por Tristão Ernesto, revelou-se que o presidente Lucas Ngonda já não reunia consenso para continuar à frente deste partido. Tristão Ernesto afirmou sem rodeios que o próprio presidente do partido “tem plena consciência de que já não tem condições de reunir o Secretariado do Bureau Político, o Bureau Político e o Comité Central, por falta de quórum”.

Salvar o partido

Cansados de Lucas Ngonda, o grupo liderado por Ndonda Nzinga optou por um Congresso extraordinário destinado a eleger um novo presidente do partido capaz de congregar todas as partes desavindas. É nesta lógica que Lucas Ngonda viu-se desafiado pelos seus colaboradores mais directos que o querem fora do partido. Fernando Pedro Gomes poderá ser o homem que se segue na liderança deste partido, caso o Tribunal Constitucional(TC) reconheça o Congresso que o elegeu em substituição de Ngonda. A escolha de Pedro Gomes, um “maquisard” natural de Nambuangongo, está a ser considerada nos círculos políticos nacionais como uma oportunidade viável para dar um novo rumo à FNLA. Político, professor universitário com várias formações superiores, feitas em Angola e em Portugal, Fernando Pedro Gomes é tido pelos seus colegas do partido como um quadro disciplinado, competente e íntegro.