O lobo

O lobo

Continuo sem perceber por que razão os lobos uivam à lua. Continuo sem perceber muita coisa, aliás. Nós, os humanos, continuamos a pretender sozinhos o brilho que jamais alcançaremos.

POR: José Kaliengue

É uma questão de educação, claro, mas um polimento intelectual do tempo também pode ajudar. O lobo, bem, vai então, o homem até é vistoso, no seu metro e oitenta e poucos, fisicamente sem grandes estragos, ao contrário dos seus colegas oficiais superiores da Polícia com barrigas maiores do que a minha, muito maiores (estavam a civil, mas eu conheço-os). Chego cá fora já ao telefone, “onde é que tu estás? Estão aqui todos e todos os chefes tinham alguém para os receber lá dentro, estás no parque? A circular? Está a gozar? Anda cá já seu…”disse palavrões, disse mesmo, e acho que foram as únicas frases em que se expressou correctamente em português, o resto era o reino das discordâncias. Cá fora, na área de chegadas do aeroporto, ele fazia questão de falar em voz alta. Chegou o jovem, parou o carro, top de gama, claro, o nosso lobo abandonou o carrinho com as malas, não o cumprimentou, dirigiu- se à viatura e enquanto caminhava falava e gesticulava: “traz isso, seu… arruma isso no carro”. Pensei na enormidade de enganos neste país que promoveu à categoria de gente quem não o merecia e, juro, continuo sem perceber por que uivam os lobos para a lua-cheia.