Jornalistas defendem maior rigor no licenciamento de órgãos de comunicação social

Jornalistas defendem maior rigor no licenciamento de órgãos de comunicação social

Os profissionais admitem uma certa “banalização” e pedem uma maior intervenção do Ministério da Comunicação Social

Texto de: Norberto Sateco

O jornalista Graça Campos afirmou existir uma certa “banalização” da actividade jornalística no país no que concerne ao licenciamento dos órgãos de imprensa (rádio, televisão e jornais), pelo Ministério da Comunicação Social, com destaque para os jornais semanários.

O profissional, que participava numa mesa redonda sobre “Memórias do Jornalismo Angolano”, entende ser necessário o reajuste dos requisitos e exigências para a legalização de um órgão, salvaguardando deste modo, a qualidade e o interesse público.

“O nosso ministério devia ser mais rigoroso. Hoje, qualquer ‘chico esperto’ que tiver um patrocinador pode criar um seu ‘pasquim’ mesmo não obedecendo aos critérios estabelecidos pela profissão”, disse Graça, para quem a má qualidade técnica resulta deste cenário, agravada pela fraca formação dos profissionais.

“Existe um ‘confronto’ declarado entre os jornalistas e a gramática” resumiu. Já a antiga secretária do Sindicato dos Jornalistas Angolanos, Luísa Rogério, insistiu na carteira e ética dos jornalistas como uma forma de se pôr fim à “anarquia” a que se assiste actualmente.

A também cronista lembrou que na fase em que abraçou a profissão os candidatos a jornalistas eram submetidos a um programa de estágio e acompanhamento nas respectivas redacções, o que não acontece hoje em alguns órgãos de comunicação social, deplorou.

“Tenho diploma, vou a uma rádio ou a um jornal e sou logo jornalista”, desabafou. Apesar de reconhecer uma certa abertura nesta fase de transição política, a classe jornalística ainda é usada por muitos profissionais para “exibições”, como é o caso de alguns jornalistas “presidenciais”.

A jornalista Sara Fialho corroborou as declarações de Luísa Rogério, ao denunciar como algumas pessoas estranhas ao exercício do jornalismo aparecem nos ecrãs a apresentar-se como jornalistas. “Pegam numa miss que ganhou qualquer concurso e no dia seguinte já é jornalista de uma televisão qualquer”, denunciou a antiga jornalista do Jornal de Angola. Na mesa redonda, em que participaram jornalistas de reconhecida capacidade profissional, foi também levantada a questão da autocensura que é vigente em algumas redacções.

O secretário do Sindicato dos Jornalistas Angolanos (SJA), o jornalista Teixeira Cândido, disse que este clima, em parte, tem sido incentivado pela ‘nata de vedetas’ da nova geração de profissionais, ainda que de forma implícita. “Tenha cuidado com aquilo e acolá para não chocar com este ou aquele, por ser nestes termos que o fenómeno ocorre”, disse Teixeira Cândido.

A mesa redonda contou com a presença de estudantes de comunicação e jornalistas no activo, tendo sido animada por vários prelectores, com destaque para Felisberto Graça Campos, Sara Fialho, Maria Luísa Rogério e Alves Fernandes.