Zonas ribeirinhas do Bom Jesus querem água canalizada

Zonas ribeirinhas do Bom Jesus querem água canalizada

Segundo os moradores destas áreas, a maior parte das empresas que se instalam na circunscrição prometem canalizar água para os referidos bairros, mas não cumprem as promessas

POR: Alberto Bambi

Os coordenadores de Cassenda e Zambela, na localidade do Bom Jesus, município de Icolo e Bengo, em Luanda, Adão Domingos Francisco e Daniel José Francisco, respectivamente, mostraram-se agastados pelo facto de verem os projectos de água para as suas comunidades adiados, quando, quase todos os anos avistam novas condutas a passarem pelo bairro. “A maior parte das empresas que se instalam aqui prometem canalizar água do rio para a comunidade, mas depois só vemos os tubos passarem pelos nossos terrenos e mais nada”, reclamou Adão Francisco, coordenador do bairro Zambela.

Para o responsável, os empresários que pretendem investir na área deveriam ter a obrigação de traçar um projecto de apoio à comunidade, principalmente para as necessidades básicas, como água, energia e outros do sector agrícola. A recente conduta de água instalada na zona, que, segundo os moradores, abastecerá o novo aeroporto internacional, causou um grande descontentamento da população de Cassenda, que deixou de acreditar nas promessas das instituições. “Já tivemos garantias de exploradoras de inertes que até hoje estão por se concretizar. Então, agora só nos limitamos a ouvir quando uma entidade reúne connosco e diz que vai pôr água aqui”, comentou o coordenador.

Enquanto não chega o esperado, os residentes da povoação de Cassenda se desdobram acarretando água a partir do rio Cuanza, uma tarefa que, aos poucos, vai sendo atribuída às crianças, já que, no período da manhã, as mulheres se ocupam do cultivo e demais serviços no campo. Na ocasião dessa reportagem, OPAÍS detectou um grupo de miúdos a encarregar-se deste tipo de tarefas, sendo que a maioria carregava bidons plásticos de cinco litros, que, por serem transparentes, permitiam vislumbrar o líquido acastanhado colhido para o consumo e para outros fins.

Chafariz abandonado por empreiteira

A população de Zambela quase viu a água jorrar num chafariz construído no local, não fosse o abandono da obra, já em fase final, por parte da construtora, que, segundo o coordenador, prometeu terminar a empreitada mais tarde. “No ano passado veio aqui uma Organização Não Governamental (ONG) denominada Solmar, proveniente do Huambo, que iniciou, mas não acabou as obras”, revelou o Daniel José Francisco, tendo indicado com o dedo os dois tanques instalados numa posição mais acima, porém, sem a perfuração que permita a queda por gravidade do precioso líquido. O coordenador de Zambela informou que o trabalho foi feito apenas durante dois meses, findos os quais a direcção da empreiteira alegou que iria priorizar uma outra construção. A sua jurisdição também recebeu promessas, da parte das administrações anteriores, de que iria beneficiar de água canalizada das empresas dos arredores, já que uma parte da sede do Bom Jesus beneficiou deste bem precioso.

Saúde em risco

A falta de água potável nessas paragens traz consequências nocivas à saúde que o único posto sanitário instalado na comunidade de Zambela nem sempre consegue resolver. Segundo o coordenador Daniel, diarreias agudas, problemas estomacais e respiratórios têm sido as endemias de que os moradores mais se queixam, incluindo algumas anomalias na saúde da pele de alguns habitantes. “Os enfermeiros do posto médico já me pediram para resolvermos o problema da água para se evitar essas doenças e não surgirem outras mais”, revelou o coordenador, tendo acrescentado que os técnicos de saúde trabalham sempre em condições inapropriadas e muito limitadas, ao ponto de apenas fazerem consultas e receitas.