Benguela tem um médico para cada 10 mil habitantes

Benguela tem um médico para cada 10 mil habitantes

Dos quase 6.000 trabalhadores activos na saúde, nesta província, somente 321 são médicos, dos quais 191 são nacionais e 130 estrangeiros. Juntam-se-lhes 3.076 enfermeiros

POR: Zuleide de Carvalho

A província de Benguela tem um défice de médicos de cerca de 88%, dado que, de acordo ao director do Gabinete Provincial da Saúde, António Cabinda, há apenas um médico para cada dez mil habitantes. Em consequência disso, diariamente, evidencia-se, um pouco em cada unidade sanitária provincial, a constante enchente de pacientes que afluem, bem como as “infindáveis” horas de espera para se ser atendido. Isto por existirem nesta parcela do território nacional vários “problemas, que já estão identificados no sector da saúde”, fez saber o gestor público, médico internista de profissão, António Cabinda. Entre as carências do sector predomina a escassez de pessoal. “Estamos com o rácio de 1,2 médicos para cada 10.000 habitantes. Não vai de acordo àquilo que está preconizado pela Organização Mundial da Saúde”, um médico para 1.000 pessoas. E, fora do âmbito de insuficiência de profissionais de saúde, os enfermeiros estão razoáveis, existindo “12,7 enfermeiros para cada dez mil habitantes”, frisou, o director Cabinda, ressaltando que o recomendado pela OMS é um para cada mil cidadãos.

A saúde de Benguela em raio X

António Cabinda avançou, sem precisar o número, que na sua jurisdição existem aproximadamente 350 unidades sanitárias, incluindo-se públicas e privadas, contando com hospitais, postos médicos, centros de saúde e clínicas. Dos quase 6.000 trabalhadores activos na saúde, nesta província, somente 321 são médicos. Destes, 191 são nacionais e 130 estrangeiros. Juntam-se-lhes 3.076 enfermeiros. Os demais são técnicos de diagnóstico, terapêuticas e funcionários de apoio hospitalar. António Cabinda dirige há 10 meses o gabinete provincial, somará em Outubro 10 anos enquanto funcionário neste sector. Sendo médico especialista em medicina interna, é um dos que contribuem para ampliar o rácio, esmagadoramente deficitário. Em entrevista concedida à TV Zimbo e ao jornal OPAÍS, anunciou que os planos do Governo ambicionam multiplicar o número actual nos próximos sete anos, isto é até 2025, incrementando o rácio, obtendo-se cinco médicos para 10.000 habitantes. Deste modo, acredita que, nos anos vindouros, Benguela atingirá esse patamar, ainda assim, será profundamente insuficiente, compondo somente 50% das necessidades, pois o ideal é o estabelecido pela OMS.

Enfermeiros em falta obrigam milhares de mães a mudarem-se para as pediatrias quando têm filhos doentes, não havendo mãos especializadas suficientes para cuidar dos internados, logo, “23 enfermeiros para cada 10.000 habitantes” é a pretensão. Porque a carência de médicos é um problema de importância vital, ameaçado dia após dia, com a elevada taxa de natalidade e crescente índice demográfico,“o que fizemos recentemente foi a contratação de 14 médicos”. “Esse número não erradica as lacunas, mas ajuda, pois foram angariados fruto do surto epidemiológico que a província esteve a viver até Junho”, disse Cabinda, tendo-se agregado ao quadro quase 20 enfermeiros, trabalhando em comunas. Num cômputo geral, a principal patologia que assola a população é a malária, primeira causa de morte, com 375.990 casos diagnosticados e atingindo mortalmente 1.413 benguelenses em 2017. Em 2018, de Janeiro a finais de Julho, “registámos mais de duzentos mil casos de malária, com maior incidência nos municípios da Ganda, Balombo, Cubal, Bocoio e Benguela” causando, “setecentos e vinte mortes”, informou Cabinda. Nesta província, no topo das doenças diariamente diagnosticadas constam também as do foro respiratório, diarreicas e a mal-nutrição aguda. Doenças crónicas não transmissíveis, cardiovasculares e diabetes, têm crescido progressivamente.

Distribuir na escassez

Em função da densidade populacional, “grande parte dos nossos recursos humanos, médicos e enfermeiros, estão nos municípios do litoral”, que são: Baía Farta, Benguela, Catumbela e Lobito. Logo, “absorvem perto de 70% dos nossos profissionais”. Deste modo, os restantes 30% do pessoal efectivo, estão distribuídos pelos 6 municípios do interior, Balombo, Bocoio, Caimbambo, Chongoroi, Cubal e Ganda, indo maior proporção para os que albergam um maior índice demográfico. Apesar de ser no litoral onde reside quase metade da população, absorvendo 70% dos profissionais de saúde, quando deflagram surtos de malária é no interior onde há maior incidência, contando com menos profissionais para acudir.