UNITA contesta o 23 de Março como Dia da Libertação da África Austral

UNITA contesta o 23 de Março como Dia da Libertação da África Austral

O Secretariado Executivo do Comité Permanente da Comissão Política da UNIT A desqualificou o comunicado da 38ª Cimeira dos Chefes de Estado e de Governo da SADC, de 18 de Agosto de 2018, que assumiu o dia 23 de Março como a data da comemoração da libertação da África Austral.

Em comunicado de imprensa distribuído ontem, em Luanda, a UNITA lamenta o facto de os Chefes de Estado e de Governo da SADC “se terem deixado manipular pelo Executivo angolano, movido há muito por interesses inconfessos”. O comunicado avança que o dia 23 de Março de 1988 marcou o fim de uma batalha militar, travada nas margens dos rios Tchambinga, Kuzúmbia, Kuzizi e Lomba, numa campanha militar que decorreu de Agosto de 1987 a Março de 1988. Explica que os objectivos militares da coligação FAPLA/União Soviética/Cuba eram a tomada de Mavinga e da Jamba que foi frustrada, obrigando ao recuo das forças militares atacantes até à margem direita do rio Cuito, onde se verificou o impasse militar. Esta batalha, segundo a UNITA, conduziu à retirada das forças militares estrangeiras de Angola, cubanas e sul-africanas, negociada em Nova Iorque, em Dezembro de 1988. A referida batalha permitiu também às consequentes negociações políticas conducentes à independência da Namíbia, em 21 de Março de 1990, ao fim do apartheid, na África do Sul, em 17 de Março de 1991, e à democratização de Angola por via dos Acordos de Paz para Angola, firmados em Bicesse, a 31 de Maio de 1991.

A UNITA afirma que “a história está aí para registar que a batalha do Cuito Cuanavale não representou o fim da guerra em Angola nem significou a libertação da África Austral.” Adianta que Angola, a Zâmbia, o Botswana, Moçambique, o Malawi, a Tanzânia, a Swazilândia, o Zimbabwe e a própria África do Sul já eram independentes antes dessa batalha. Segundo a nota, o processo negocial angolano teve que passar por novas batalhas militares, como foi a última para a tomada da Jamba em 1990 igualmente fracassada e também por processos negociais anteriores a Bicesse, “como foram os fracassados Acordos de Gbadolite, em que se pretendia o exílio de Jonas Savimbi. A UNITA considera “ uma mentira grosseira atribuir a libertação da África Austral à batalha do Cuito Cuanavale, que apenas existiu devido ao fracasso da tentativa de tomada da Jamba”. No seu comunicado, o partido saúda a libertação de toda a África e não apenas da África Austral. “Pelos valores sublimes que ela encerra, designadamente a igualdade e a soberania dos povos, corolário para a justiça, a boa governação e a prosperidade para todos os povos africanos, a libertação de toda a África é a materialização do desejo dos pais fundadores do continente negro como Kwame Nkrumah, Hailé Selassié e Gamal Abdel Nasser”.

Esses valores, segundo o comunicado, deve resultar na dignidade da pessoa humana, traduzida em índices elevados e sustentáveis do desenvolvimento humano das nações. O partido liderado por Isaías Samakuva, considera a libertação total da África, um processo político- cultural ainda em curso, que envolverá o fim dos regimes neocoloniais, o fim dos regimes autoritários e de todos aqueles que, afirmando- se democráticos, são dominados por um Partido-Estado. De acordo ainda com a nota, a África Austral precisa, acima de tudo, de ser livre da fome, da pobreza e da exclusão a que está submetida a grande maioria dos seus povos. Acrescenta ainda que precisa de ser liberta especialmente dos flagelos da delapidação dos seus recursos e da corrupção, promovidos e protegidos por alguns dos seus governos que, paradoxalmente, se intitulam “libertadores da África Austral”. A UNITA está convencida de que a liberdade da África, fruto da vontade dos povos africanos e dos seus líderes, “deve voltar-se agora para os desafios da libertação e do desenvolvimento dos povos, que são a luta contra a pobreza, a industrialização e o combate à fuga de capitais”, lê-se na nota.