Carolina Cerqueira destaca qualidade da obra de Bonga

Carolina Cerqueira destaca qualidade da obra de Bonga

A ministra da Cultura, Carolina Cerqueira, evocou Quarta-feira, em Luanda, a necessidade de o músico Barceló de Carvalho “Bonga” continuar a criar obras que continuem a preencher de orgulho a cultura angolana no país e na diáspora

Numa mensagem emitida esta Quarta- feira, em alusão ao 76º aniversário natalício de Bonga, a governante realça o sucesso do cantor e homem de cultura no seu percurso em prol da música angolana, tornando-o um dos primeiros embaixadores da Cultura Angolana além-fronteiras. Segundo Carolina Cerqueira, fiel a uma linha rítmica assente na música das turmas de então, cuja influência está presente no carnaval angolano, Bonga criou um estilo próprio que o levou aos grandes palcos nacionais e internacionais onde, cooperando com outros autores, mais do que se deixar deslumbrar por outras influências culturais e musicais, soube e sabe como ninguém afirmar a especificidade da cultura angolana, preservando e transmitindo mitos, sonhos e tradições, sendo assim uma garantia de preservação e valorização da identidade cultural angolana. José Adelino Barceló de Carvalho nasceu em Porto Quipiri, província do Bengo, a Norte de Luanda, em Angola.

A família tratavao carinhosamente por Zeca. A sua infância foi passada em bairros como os Coqueiros, Ingombota, Bairro Operário, Rangel, e no Marçal. Aí vive-se um ambiente intimista de preservação das músicas e tradições angolanas, na época marginalizadas pela dominação colonial. O folclore dos musseques (bairros pobres) cedo fascinou o pequeno Zeca e por isso começou a frequentar e a participar nas turmas dos bairros típicos de Luanda, onde iniciou a sua actividade musical. Foi no bairro do Marçal que fundou o grupo “Os Kissueias”.

Bonga resolve criar o seu próprio estilo musical, afirmando a especificidade da cultura angolana, numa época muito conturbada. Carreira musical Em 1972, na Holanda, lança o seu primeiro álbum “Angola 72”, onde canta a revolução e o amor à pátria. É por esta altura que Barceló de Carvalho passa a chamar-se Bonga Kuenda. Adopta um nome africano que significa “aquele que vê, aquele que está à frente e em constante movimento”. Bonga actua pela primeira vez nos Estados Unidos em 1973, aquando da celebração da Independência da Guiné-Bissau, integrado num espectáculo em homenagem à cultura lusófona.

Em Abril de 1974, Bonga lança “Angola 74”. Nos anos 1980 torna- se o primeiro artista africano a actuar a solo, dois dias consecutivos no Coliseu dos Recreios (Lisboa), símbolo da música portuguesa, é o primeiro africano Disco de Ouro e de Platina em Portugal. O seu sucesso estende-se para lá das fronteiras lusófonas e Bonga actua no Apolo, no Harlem; no S.O.B. de Nova Iorque; no Olympia de Paris, na Suíça, no Canadá, nas Antilhas e em Macau.

O seu sucesso é resultado de um trabalho árduo, intensivo e metódico e de uma imaginação criativa que caracteriza toda a sua carreira. A marca Bonga Bonga cria uma fusão entre a sua pessoa e a música de Angola, tornando-as indissociáveis e tendo como maior estandarte, o Semba, um ritmo tradicional angolano correspondente ao samba brasileiro, mas precursor deste.

Também interpretou géneros musicais cabo-verdianos, sendo responsável pela roupagem da coladeira “Sodade” para um morna, 18 anos antes de Cesária Évora torná-la mundialmente famosa. Prémios Bonga arrebatou inúmeros prémios de popularidade e homenagens à sua obra, e conta com distinções várias, medalhas, discos de ouro e de platina e outras menções pelo mundo. Inúmeras vezes assumiu a sua solidariedade e altruísmo, através de concertos de beneficência para instituições como a MRAR, a Amnistia Internacional, FAO, ONU e UNICEF.

Tem participação em CDs, como o “Em Português Vos Amamos” dedicado a Timor, “Paz em Angola” ou ainda “Todos Diferentes, Todos Iguais”, um marco na luta contra o racismo. Possui acima de 300 composições, 32 álbuns, 6 video-clips, 7 bandas sonoras para filmes, e álbuns com inúmeras reedições pelo mundo.Os seus temas são interpretados por artistas anónimos e ilustres, tais como Martinho da Vila, Alcione e Elsa Soares no Brasil, Mimi Lorca em França, Bovic Bondo Gala na República Democrática do Congo, Heitor Numa de Morais no Uruguai, Vaya Con Dios na Bélgica, e por muitos artistas angolanos da nova vaga e não só.