Nove municípios de Benguela “privados” de Cuidados Intensivos

Nove municípios de Benguela “privados” de Cuidados Intensivos

Os serviços de saúde em Benguela apresentam lacunas em diversos sectores. Um exemplo disso é a incapacidade do gabinete provincial de adquirir equipamentos novos, estando o Hospital Geral de Benguela sem TAC há três anos

Texto de:  Zuleide de Carvalho, em Benguela

Nove dos dez hospitais municipais da província de Benguela não têm Unidade de Cuidados Intensivos (UCI) e quatro estão sem bloco operatório, revelou o director local da Saúde, António Cabinda. Neste momento, apenas o Hospital Geral de Benguela (HGB), localizado na sede provincial, oferece esse serviço aos pacientes desta província, que alberga cerca de 2.500.000 habitantes, apesar dos constantes casos de traumas registados a nivel local, inclusive acidentes nas estradas inter-municipais. Razão pela qual, somente lá se internam pacientes que estejam gravemente lesionados, em risco de vida, bem como os que necessitem de cuidados intensivos.

“Precisamos de reforçar os serviços de cuidados intensivos. Neste momento, só o município de Benguela é que tem uma unidade propriamente com características de cuidados intensivos, acaba por suportar toda a província”, realçou António Cabinda.

Nessa única unidade para cuidado de pacientes em estado crítico, agrava-se a necessidade de esforço redobrado devido à demanda e às limitações nos recursos humanos, havendo “alguma dificuldade de pessoal nesta especialidade”, declarou o director.

Reduzir a mortalidade materno- infantil Segundo o titular provincial da pasta da Saúde, os gestores locais almejam que todas as unidades hospitalares nos municípios tenham condições de prestar cuidados obstétricos e neonatais de urgência.

Actualmente, uma parcela considerável dos hospitais municipais, fundamentalmente nas zonas do interior, está incapacitada para tal. E, apesar da gravidade, não há prazos definidos para superação desta problemática. “Estamos muito preocupados com a mortalidade materna. Nesta ordem de ideias, é importante que os hospitais municipais estejam dotados de um bloco operatório e de pessoal capacitado”, salientou Cabinda.

O rácio provincial de mortalidade é de 450 mães em cada 100.000 partos e 40 bebés em 1000 nados vivos, logo, considera fundamental que “pelo menos as cirurgias obstétricas e urgências” fossem “feitas nos municípios”. António Cabinda explicou que caso se materialize não será necessário a transferência de pacientes para os municípios do litoral, uma vez que ainda enfrentam dificuldades de transporte nas vias de acesso.

“Não é fácil transportar uma paciente do interior para o litoral”, frisou. Assim, a grande meta do Governo de Beguela é proporcionar aos habitantes de cada município um hospital devidamente equipado com meios humanos e material para atender às suas necessidades e emergências, num raio máximo de 25 Km de distância das suas casas.

Saúde pública com “sangue novo” à vista

Benguela conta com somente 12% de médicos dos que seriam ideais para cuidar da população residente. Havendo 88% de défice, contabilizam-se 1,2 médicos para cada 10.000 habitantes.

Dos 321 médicos, apenas 191 são nacionais. Há 37 médicos com diploma a exercer medicina que ainda estão cadastrados como enfermeiros e, no concurso público iniciado a 3 de Setembro, prevê-se ingresso de 137 novos médicos.

“Estes 191 profissionais de saúde, mais os 130 médicos estrangeiros, trabalham distribuídos pelas cerca de 350 unidades sanitárias de Benguela, sendo que, apenas duas são hospitais gerais, existindo um municipal em cada localidade”, informou Cabinda.

Nesse número estão incluídos os prestadores de cuidados de saúde públicos e privados, compondo-se 58 centros de saúde, 140 postos de saúde, 10 hospitais municipais, 2 hospitais gerais, trabalhando 321 médicos para 2.500.000 habitantes.

O primeiro trimestre do ano foi uma das piores alturas para o Gabinete Provincial da Saúde em Benguela, admitiu o director António Cabinda, devido aos picos de malária registados, mas, a situação foi ultrapassada.