Adolescente “fazem prova” sobre sexualidade

Adolescente “fazem prova” sobre sexualidade

Abordar com adolescentes e jovens temas relacionados com a sexualidade pode ser tabu para muitos pais, mas a verdade é que eles, os educandos do século XXI, estão mais por dentro do assunto do que se pode imaginar. Para tal, os professores de Educação Moral e cívica, disciplina leccionada da 7ª a 9ª classe, têm jogado um papel preponderante, segundo relatam vários entrevistados de OPAÍS

Texto da Cambamba

A nossa primeira entrevistada foi a dolescente Sílvia Junto, de 16 anos, estudante da 11ª classe. Deparamo-nos com a púbere que estava acompanhada por uma das suas colegas e dirigiamse ao Hospital Militar para visitar um doente. Apesar da pressa que tinham, Sílvia, parou e falou-nos sobre o que sabe ou ouviu dizer de educação sexual.

Explicou que as noções básicas de educação sexual lhe foram transmitidas por professores, embora “não tenha sido uma discussão aberta como esperava, porque, defende, os adultos e adolescentes falam pouco.

“Outros não falam sobre o assunto, por considerarem muito delicado”, frisou. No entanto, considera-se sortuda por ter obtido tais conhecimentos, pois, reconhece, faz parte da vida do homem e que aqueles que não os têm (os conhecimentos) estão mais propensos a cometer erros irreparáveis que podem acarretar graves consequências. Pelo facto, aconselha os adolescentes a absorverem o máximo de informação possível sobre esse tema tanto nas aulas como através de conversas com adultos responsáveis, de modo a se prevenirem, na eventualidade de vierem a manter relação a sexual.

Questionada se namora ou se já teve um relacionamento, Sílvia Junto negou perentoriamente. No entanto, defende que para namorar não é necessário ter uma idade exacta, mas sim maturidade e deixar que os órgãos anatómicos se tenham desenvolvido o suficiente para começar uma fase determinante da vida. Por outra, defende que a adolescência é um período em que o organismo está em desenvolvimento, pelo que é importante não interferir neste processo. “Por agora, penso que ainda não é o momento oportuno para namorar.

Prefiro aproveitar ao máximo a fase da minha adolescência e aumentar os conhecimentos sobre educação sexual”. Já Arlete Domingos, de 18 anos, estudante da 12ª classe, contou que obteve conhecimentos de educação sexual por via das disciplinas de EMC e Formação de Atitudes Integradoras (FAI), o que considera importante.

Ela comunga da ideia de que a educação sexual contribui em grande medida na constituição da personalidade da pessoa e municia- a de conhecimentos sobre técnicas de prevenção contra as doenças sexualmente transmissíveis, entre outros riscos. Fruto do aprendizado que teve nas classes anteriores, Arlete diz estar em melhores condições de identificar o momento em que o seu organismo estará pronto para namorar e que métodos deverá usar para se prevenir de doenças e de gravidez indesejável.

Apesar de já ter passado a fase da adolescência, diz que, com base nos ensinamentos que recebeu dos professores e da sua progenitora, ainda não é o momento certo para namorar. Contou que algumas amigas dizem que se pode começar mais cedo a namorar, desde que tenha responsabilidade, porém não compartilha esta ideia porque há demasiados riscos que podem comprometer toda uma vida. Grávida por falta de conhecimento Já Bibiana Cutala José, de 24 anos, não teve a mesma sorte que as outras duas interlocutoras.

A indisponibilidade dos pais para abordarem o assunto em casa e a ausência constante da professora de Educação Moral e Cívica contribuíram para que a sua vida tomasse um rumo totalmente diferente do que havia projectado. Aos 18 anos de idade ficou concebida, fruto de uma relação ocasional e deu à luz uma menina.

Actualmente vive maritalmente e voltou aos estudos, com vista a concretizar os seus sonhos de proporcionar um futuro melhor para a sua família. Angelina Emílio Nunes, de 18 anos, confessou que já teve uma relação, todavia sem envolvimento sexual, por estar consciente de que não era o momento certo e o seu organismo não estava preparado para tal.

À semelhança de Arlete Domingos e Sílvia Junto, contou que tomou tal decisão por influência dos conhecimentos absorvidos nas aulas de EMC e das tias e primas com as quais tem conversado, pois, tanto a sua mãe como a sua irmã mais velha abstêm-se de abordar com ela esse assunto, por, presumivelmente, a considerarem menor de idade.

“Soube que não era o momento oportuno para começar a namorar ou dar início à vida sexual e que caso viesse a ter relação sexual sem preservativo correria o risco de adquirir determinadas patologias como a sífilis, gonorreia e SIDA”, detalhou Andresa Manuel, de 20 anos.

Pais podem ser pontos de equilíbrio ou desequilíbrio As nossas interlocutoras, cada uma à sua maneira, apelam aos pais e encarregados de educação a conversarem mais com os filhos sobre determinados assuntos, sobretudo a educação sexual.

“A minha família não fala sobre sexo, quando tento falar dizem-me que não é o local ideal, vais aprender noutro sítio”, lamentou Andresa Manuel. Daiana dos Santos, de 18 anos, por seu turno, não encontra obstáculos para falar sobre educação sexual, pelo facto de que para além de ter aprendido na escola, em casa a sua mãe que fala abertamente para as filhas. Como resultado, a adolescente diz que namora há mais de um ano, mas ainda não iniciou a vida sexual, seguindo os conselhos da sua professora de EMC e da sua mãe.

“Namorar não basta ter idade para tal, mas condições” Ao contrário das entrevistadas do sexo feminino, os rapazes dizem que para colmatar a falta de diálogo sobre o assunto com os pais recorrem aos amigos. Hernâni Pedro Panda, de 19 anos, sublinhou que aprendeu mais sobre sexualidade entre amigos, ou seja, fora de casa e na escola do que em casa, apesar de que a irmã mais velha lhe tem transmitido informações sobre as formas de prevenção. Também foi na escola onde o adolescente Osvaldo Sinduca aprendeu algumas regras básicas da educação sexual, com o objectivos de não ter um filho indesejado ou padecer de doenças sexualmente transmissíveis.

Quanto a conversa em casa, contou que acredita que os pais não falam considerando que o adolescente irá sentir-se atraído e procurar realizar acções sem responsabilidades. Alertou que por se evitar conversar sobre sexo no seio da família e outros fóruns de caracter social, por agora tem constatado que há um número considerável de jovens com certas patologias que adquiriram por não conhecerem ou dominarem o assunto.

Sinduca disse que, apesar de se considerar jovem e ter energia que o leve a pensar em namorar, teve de repensar e chegou a colocar na balança a vontade de namorar e avaliar os resultados. “Se eu namorar agora, o que vou ganhar com isso e que não tenho? Verifiquei que os resultados serão insuficientes se optar por namorar agora, ao contrário de esperar o momento certo”, frisou Sinduca.

Explicou que a opção de não namorar não se deve apenas a idade, mas sim, às condições necessária para tal. “Tenho antes de trabalhar e ter uma vida estável, ainda dependo financeiramente dos meus pais, até porque o namoro é a preparação para o casamento e não pretendo namorar cerca de 10 anos”.

A pré-adolescente, Angelina Felipe da Silva, de 13 anos, estudante da 8ª classe, sobre a educação sexual, sabe sobretudo que é perigoso começar a vida sexual cedo, porque pode resultar em gravidez e ser forçada a abandonar o ano lectivo ou, em casos mais dramáticos, pode perder a vida, porque o corpo ainda não está preparado para determinadas mudanças.

“A professora informou que a idade para namorar não é 13, 14, 15 ou 16 anos, pelo facto de ser considerada ainda uma criança, mesmo na fase adulta é seguro começar um relacionamento quando o jovem já terminou a sua formação ou tem já um trabalho que permita sustentar- se financeiramente e ter a certeza de que pretende ter uma família”, disse, a estudante do 1º ciclo. Angelina da Silva disse ainda que fala sobre o assunto abertamente com a sua mãe. –