A esperança que renasce

A esperança que renasce

“Por ocasião da tomada de posse do novo Presidente da Republica escrevi para o Jornal “OPAÍS” um pequeno texto de opinião que resultou do que captei de algumas conversas numa viagem de autocarro no trajecto FAPA-Multiperfil a bordo do autocarro da Macon.

POR: Bernardino Muteka

A discussão tinha como ponto principal alguns extractos do discurso do PR que na opinião de algumas pessoas lançavam algumas luzes de esperança. Volvidos cerca de 11 meses e em face das reacções aos Resultados do Congresso Extraordinário do MPLA e fundamentalmente ao discurso do seu novo Presidente anima-me partilhar novamente o texto já publicado com ligeiros arranjos”. A mãe natureza é pródiga em exemplos simples em que se pode ver que não obstante à violência do machado e o descuido humano a flora se renova. Em alguns casos, tudo acontece ao cabo de muito tempo e noutros casos ao fim de poucos dias. Esta imagem trazida para a nossa experiência angolana faz-nos viajar para o tempo e reviver todo um passado de honras e glórias mas também de lutas, suor e lágrimas na luta incessante pela afirmação de um pouco que como outros povos também tem dignidade. Há gente que caminha suada há 42 anos, outros há 15 anos e outros há cinco anos. Os dois últimos (15 e 5 anos) parecem os mais sofridos para a generalidade da população pois não aconteceu apenas o empobrecimento material mas sobretudo o empobrecimento antropológico e espiritual. Muitos fenómenos confirmam o atrás dito: a lisonja como profissão, a prostituição como emprego, o roubo e a trambiquice como estilo de vida, a delinquência como modelo social, a mentira como religião e a fofoca como forma de comunicação institucional. Poucas são as famílias e poucos são os profissionais que não alinharam por estes caminhos. Entretanto e como diz o Cohelet: “ há tempo para tudo debaixo da terra…..” Começou a época chuvosa e começou uma nova era….uma era em que “os impossíveis” de outrora estão a acontecer….o impensável está ao alcance da mão….e qualquer cidadão situado no recôndito Bolongongo ou na longínqua Tunda dos Gambos pode novamente sonhar…e acreditar ser possível ter uma vida digna e honrada e até mesmo estar preparado para morrer tranquilo sem medo de que o fi lho seja levado para parte incerta pela falta de escola e trabalho ou a filha seja forçada a amadurecer antes do tempo e transportar um fardo pesado para o resto da sua vida. Há um renascer da esperança e sobretudo há um reviver espiritual visível no rosto do camponês sem insumos e sem alfaias, dos desempregados acomodados nos arredores e periferias das grandes cidades e quem sabe no rosto de muitos angolanos que buscam apenas uma vida à altura da dignidade de fi lhos de Deus. Há um ressuscitar “de boas vibrações” para muitos que por pensar e serem diferentes foram trucidados e sem justa causa acantonados em casa por ordens superiores e o seu futuro adiado ainda em idade útil; Há um reviver na transcendência para aqueles que partiram tristes por terem deixado crianças órfãs num país difícil.Há um “nascer da fome e da justiça” por um país digno de todos os seus filhos. O discurso e a atitude do novo Presidente do MPLA abrem um novo ciclo na história das grandes reformas políticas que Angola precisa. “ Como deveria ser grande a incorruptibilidade dos generais, como deveria ser grande o seu autodomínio em todas as coisas! Grande a sua boa-fé, a sua afabilidade, as suas faculdades naturais, o seu toque de humanidade “ (Cícero, Sobre o Comando de Pompeu, o Grande, 36). Que o empenho honesto e profundamente humano de todos faça Angola ressurgir e possamos cantar gloriosamente como o fizeram os pais fundadores: “aos campos, às nossas praias, à sombra da Mulemba” e na diáspora interna e externa …”a Angola nossa terra, nossa mãe havemos de voltar”….. sendo “1º o angolano” e… “com pão, paz e liberdade” ergamos dignamente a Pátria que nos viu nascer.