Crianças e adolescentes no centro de acolhimento do Huambo clamam por ajuda

Crianças e adolescentes no centro de acolhimento do Huambo clamam por ajuda

Criada com o propósito de zelar pela vida dos mais desfavorecidos, proporcionando condições de abrigo, alimentação, saúde e formação, a Casa dos Rapazes do Huambo, bem como as suas instalações conexas, tais como a Escola de Artes e Ofícios, precisa urgentemente de reabilitação.

A Casa dos Rapazes do Huambo tira da rua rapazes viciados, sob o risco de se perderem, para fazer deles homens úteis para a sociedade. Acolhe jovens e adolescentes e precisa de ajuda urgente, segundo o seu director, o padre Marcelino Pungulimue. Em entrevista ao OPAÍS, o padre Marcelino Pungulimue disse que estão a passar por inúmeras dificuldades e uma delas está no cuidado dos meninos. “Nós precisamos de alavancar a escola de Artes e Ofícios, porque é uma componente bastante importante para a obra. Por causa da crise, a pessoa que devia financiar desistiu e desde 2014 que não se fez algum trabalho de reabilitação dos dois blocos, pelo que estamos a lutar para o seu apetrechamento”, disse. A Casa dos Rapazes do Huambo é uma instituição de caridade afecta à Igreja Católica, que tem como vocação acolher, proteger, cuidar e educar crianças órfãs e abandonadas, bem como aquelas que, por diversas situações, não podem viver com as suas famílias, isto é, aquelas que vivem em situações de vulnerabilidade.

Está localizada na parte Alta da Cidade do Huambo, na Avenida da República, Bairro Kapango Urbano e, neste momento, precisa de todo o tipo de ajuda, desde bens alimentares, material escolar, dinheiro, materiais de construção, entre outros. “Nós não temos nenhum apoio institucional, para que no final de cada mês, por exemplo, tenhamos algum orçamento. Por isso, pedimos a todos que ajudem como puderem. Apesar de termos o apoio da Igreja, precisamos também de apoio externo”, clama o padre. Conta ainda que este ano a casa recebeu três vigilantes vindas do Ministério da Acção Social, que têm dado uma grande ajuda no cuidado das crianças. A própria casa precisa de reabilitação porque está degradada. O padre Marcelino Pungulimue explicou que a mesma casa tem como representante legal o Arcebispo do Huambo, Dom José de Queirós Alves, sendo ele o representante da Igreja Católica no Huambo, já que a Casa dos Rapazes do Huambo é parte da acção social da Igreja. “Temos feito todos os esforços para que os rapazes aprendam a ler, a escrever, ter boas maneiras, mas que tenham também a oportunidade de aprender uma profissão, para quando saírem poderem caminhar por meios próprios. Só que o estado avançado de degradação em que se encontra o pavilhão onde os jovens aprendem artes e ofícios deixa muito a desejar”, afirma.

Mais de 50 crianças na casa

Na casa, actualmente vivem 55 rapazes, dos oito aos 23 anos, estudantes da primeira até ao ensino médio. A maior parte deles é natural do Huambo e outros procedentes de outras províncias. “De 2009 para cá (ano em que passei a fazer parte da história dessa obra de beneficência), ela vem dando alguns passos, embora tímidos, pois não conta com nenhum apoio institucional e sobrevive de doações de pessoas de boa vontade e, por isso, debate-se com uma série de dificuldades, que nos dificultam atingir os nossos objectivos”, fez saber.

Além desse número, controlam também algumas crianças de rua, de diferentes idades e de ambos sexos. Esse grupo de crianças familiarizou-se com a Casa dos Rapazes a partir do “Natal Dos Sem Abrigo” que todos os anos realizam no dia 25 de Dezembro. Zelar pela vida dos mais desfavorecidos, proporcionando condições de abrigo, alimentação, saúde e formação consta nos propósitos da Casa dos Rapazes do Huambo. “Nesta casa acolhemos crianças vindas de famílias que vivem no limiar da pobreza, na rua e órfãos de pais. Fazemos deste espaço um local onde se sintam em família e tenham formação”, disse o padre Marcelino Pungulimue. Desde a sua fundação, a Casa dos Rapazes do Huambo teve sempre uma componente de formação profissional das crianças e adolescentes. Além de ser um centro de acolhimento ou internato, foi também, no passado, uma casa de formação profissional, para facilitar a futura integração dos jovens na sociedade. Cerca de 100 jovens já passaram pela mesma desde a entrada do padre Marcelino. Actualmente são oito quartos que albergam quatro beliches com oito camas.

Dados históricos

A casa dos rapazes do Huambo foi fundada a 15 de Agosto de 1955 pelo Padre António Ferreira da Silva, de nacionalidade portuguesa, com o seguinte objectivo: “Tirar da Rua rapazes viciados e em perigo de se perderem, para fazer deles homens úteis a si e à sociedade. Entregues aos seus vícios e caprichos seriam amanhã homens perdidos, uns eternos descontentes, amaldiçoando a sua sorte e a daqueles que os trouxeram ao mundo. Aqui é que se lhes ministra a instrução, porque grande maioria deles vem só com a instrução da rua…”. Daí a razão do nome com que também era conhecida no passado: “Obra da Rua”. E para completar o seu objectivo, o padre integrou no projecto a Escola de Artes e Ofícios, que era composta pelas seguintes áreas: Marcenaria, Serralharia, Tipografia, Padaria, Moagem, Sapataria, Alfaiataria, Mecânica Auto e a Agropecuária. “A sociedade angolana, e não só, é testemunha do quanto essa Casa já fez por aqueles que por ela passaram, aliás, ela já chegou a ser um dos maiores lares de Angola, na fase do seu esplendor. Como se pode ver, estamos a falar de uma Instituição com longa experiência no cuidado de crianças e, por isso, o seu valor social é incalculável e inquestionável”, diz o padre Marcelino Pungulimue.

Premiado com Pomba Dourada da Paz

O Padre Marcelino Pungulimue foi premiado Internacionalmente com uma “Pomba Dourada da Paz” (o segundo maior a nível do mundo, no ramo dos Direitos Humanos) no passado dia 4 de Junho de 2017, a partir de Israel. A Pomba Dourada da Paz foi criada pelo Artista Alemão Richard Hillinger por ocasião do 60º aniversário dos Direitos Huamnos das Nações Unidas, em 2008. O prémio em causa já foi para altas figuras mundiais, bem como para algumas instituições internacionais como: Amnistia Internacional, Greenpaece, Nelson Mandela, Mikhail Gorbashev, Papa Bento XVI , Barak Obama, Dalai Lama, Angela Merkel Lar de Crianças Neve Hanna.

Desafios para a casa

Segundo o padre, a melhoria das condições de vida dos meninos, melhoria das estruturas físicas da residência dos meninos (cozinha, casas de banho, principalmente), reabertura da Escola de Artes e Ofícios com as seguintes áreas: carpintaria, serralharia, canalização, electricidade, corte e costura, informática, culinária e pastelaria, tipografia são alguns desafios. Igualmente a abertura de cozinha comunitária para os “ Sem-abrigo”.