Há pouco menos de 72 horas do fim da II edição do Ciclo de Cinema Messu, cinéfilos de vários pontos de Luanda, continuam a aderir às sessões no auditório do Banco Económico, o palco da exibição.
Depois da exibição, Sábado, do documentário Nelisita do antropólogo angolano Ruy Duarte de Carvalho, o Ciclo de Cinema Messu, entra agora na sua fase derradeira com a exibição de quatro películas e uma vídeo-instalação. Hoje, ante-penúltimo dia deste prestigiado ciclo, as sessões estarão reservadas aos filmes “A embaixada”, de Filipa César, e “Pabia di nos”, de Catarina Laranjeiro, ambos da Guiné-Bissau e amanhã, será dia dos documentários. Na sua produção de 39 minutos, Filipa César aborda os códigos de representação da antiga Lei Colonial Portuguesa na Guiné-Bissau e o conflito de regras, perspectivas e modos de produção de memórias diferentes. Um álbum de fotografias representa a perspectiva do colono, que fotografou paisagens, pessoas e arquitectura com perplexidade e rigor documental, nos anos 1940 e 1950.
Já no segundo filme, “Pabia di nos”, que encerrará a sessão desta noite, Catarina Laranjeiro retrata a Guiné-Bissau, 40 anos depois da guerra, os que aderiram ao movimento de libertação e os que lutaram no exército colonial põem em cena uma multiplicidade de discursos e memórias irreconciliáveis. Quinta-feira, 11, último dia do ciclo, as sessões desenrolar-se-ão à volta dos filmes “Republika”, de César Schofield Cardoso e uma vídeo-instalação multimédia, 8’30’’+2’30+1’30’’. Nesta produção de César Schofield Cardoso, do Arquipélago Cabo- verdiano constata-se que em “Nacionalidade (8’30’’)” recria-se o ciclo de conquistas de soberania, quer pela tomada de consciência do povo cabo-verdiano, através da música e da palavra, do direito à auto-determinação, quer pelas conquistas políticas da independência e da democracia ou, até mesmo, simbolicamente, pelas vitórias internacionais da equipa nacional de futebol.
Já “Territorialidade (2’30’’)” preocupa- se com a noção de território, ar, terra, mas sobretudo mar, o imenso mar, outrora símbolo de evasão, actualmente espaço de invasão, pelos tráficos, pela circulação sem autorização ou pela delapidação dos recursos marinhos por grandes unidades pesqueiras estrangeiras. O filme termina com a “Identificabilidade (1’30’’)”, olhando-se para as representações e identificação dos indivíduos, operações essas naturalmente transportadoras de conceitos e preconceitos. Ou então, de como ao longo dos tempos nos representamos a nós próprios. Já em relação ao filme 10 “Canhão de Boca”, de Ângelo Lopes, proposto para o encerramento desta II edição do Ciclo de Cinema Messu, os cinéfilos estarão ao corrente do contexto de luta de libertação da Guiné-Bissau e de Cabo Verde, países os quais Amílcar Cabral usava a expressão “Canhão de Boca” para se referir à Rádio Libertação. Este é um documentário sobre a construção da liberdade em Cabo Verde, a partir da rádio, que combina dois tempos, o presente e o passado histórico. Sintoniza, tanto a frequência das vozes do contemporâneo, a economista e comentarista Rosário Luz e o director da Rádio Morabeza, Nuno Ferreira,assim como as da Rádio Libertação, com Amélia Araújo, locutora das emissões em português, a voz mais conhecida da rádio criada em 1967 – e que foi crucial para difundir os ideais do Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC).
Debates
O primeiro debate desta II edição do Ciclo de Cinema Messu, realizado recentemente no auditório do Banco Económico, reuniu produtores e cinéfilos, e concentrou-se no “Cinema e a Memória Colectiva”, tendo como base o retrato das acções culturais em Angola, para conservação da memória cinematográfica. Os debates, com a moderação do cineasta Jorge António, contarão com a presença de José Mena Abrantes, Domingos Magalhães e o realizador Fradique (Mário Bastos) que partilharam, reflectiram e debateram os desafios da preservação da Cultura e do espólio cinematográfico do país. Este debate antecedeu a V Sessão do Ciclo de Cinema, que exibiu a 4 deste mês, o filme Nelisita, de Ruy Duarte de Carvalho, 1952 – 64 minutos, uma história de ficção. Esta produção de Ruy Duarte de Carvalho, retrata a fome que domina o mundo, restando apenas duas famílias, a qual um dos seus homens parte em busca de comida encontrando num armazém onde certos “espíritos” guardam enormes quantidades de géneros alimentícios e roupas. Apropriandose do que pode transportar regressa mais tarde, acompanhado pelo seu vizinho, que acaba por denunciá- los aos “espíritos”. O II Ciclo de Cinema Messu é mais uma iniciativa do Banco Económico e da This is Not a White Cube para a valorização e divulgação da arte e da Cultura em Angola.