Catarina andré, de 21 anos, sofreu uma cesariana no dia 26 de Maio, supostamente na Maternidade Augusto Ngangula, feita por um médico que diz desconhecer, tendo-lhe causado sérios problemas que põem em risco a sua vida. O médico que fez as correcções diz que ela teve muita sorte. Sobre a cesariana nada se sabe
sentada na sala, lugar que também é o seu quarto, Caty, como é curiosamente chamada, apresenta o corpo debilitado, completamente magro, por não estar a alimentar-se em condições devido à operação a que foi submetida.
Os problemas na sua vida terão começado a 26 de Maio, quando foi, alegadamente, na Maternidade Augusto Ngangula para ter o bebé. Foi submetida a uma cesariana de emergência, em que se salvaram a sua vida do bebé. Entretanto, “presume-se que terão deixado algum objecto no seu ventre”, segundo Domingos André, seu tio.
“Desde que sofreu a cesariana não goza de boa saúde. Está muito pálida, não consegue andar, e comer é um sacrifício tremendo. Durante a gestação gozava de boa saúde, pelo que a doença só aparece despois da cesariana”, lembra o tio.
No entanto, a maternidade, que a tem apoiado, não tem registos da cesariana. Caty passou a queixar-se de dores em baixo do ventre e nas costas. Levaram-na ao mesmo hospital, dois meses depois da cesariana, e foi submetida a cinco cirurgias que lhe salvaram a vida, tendo numa das delas, segundo o que os médicos disseram ao tio, encontrado um objecto, ainda não identificado, no ventre.
A família ficou preocupada, passou a acreditar que se tratava de um erro médico e que o hospital devia se pronunciar. “O espanto foi que, mesmo doente, sem condições de se movimentar, Catarina recebeu alta”. A comida que Catarina ingere e as suas fezes saem no local onde foi operada, segundo o seu familiar, situação que a leva a deitar um cheiro desagradável.
“Quem a trouxe para casa foi uma ambulância do referido hospital. Só nos pediram que fôssemos por vezes ao hospital para fazer curativos. A direcção do mesmo hospital pediu a um enfermeiro identificado por Noé, que vive perto da nossa casa, para fazer o curativo. Se ela vive é por milagre de Deus. E a pergunta que sempre me coloco: será que com estas operações feitas ela voltará a ter filhos?”.
A família vê esgotada a esperança de Catarina melhorar, não sabem onde, nem a quem mais se dirigir e as condições financeiras não lhes permitem fazer mais intervenções. Pedem ajuda à sociedade em geral, não apenas nesta questão da correcção deste problema, mas também na questão da alimentação da mãe e do bebé.
Catarina André é órfã de mãe, vive com a tia, em condições precárias, sem comida nem leite para alimentar o bebé. Neste momento o bebé alimenta-se de quiçângua, que é a sua bebida diária, porque o estado de desnutrição em que se encontra a mãe dificulta a produção de leite para o amamentar. As noites têm sido de tremendo trabalho para a família que tenta tranquilizar o bebé. O jornal OPAÍS contactou o médico que tentou corrigir o problema da jovem Catarina, identificado por Roger, cirurgião.
O especialista disse que recebeu a jovem dois meses depois de sofrer a tal cesariana, fez cinco intervenções, e foi graças a estas que ainda está em vida. Disse ainda não ter sido ele quem fez a cesariana, apenas as correcções. “Antes das cinco intervenções feitas por mim, a jovem estava mal. Se vive é por milagre de Deus.
Desde casa acompanhamos a menina e, ainda para ajudar a família, sempre que a trazem para a consulta, no Ngangula, de regresso a ambulância leva-a a casa”, acrescentou o médico da Maternidade Augusto Ngangula que acompanha a paciente.
O que mais deixa preocupado o hospital, segundo o médico Roger, é que a família, a dada altura, parou de levar a doente ao hospital para dar seguimento ao tratamento. Dizem que a jovem está boa e que está a recuperar. “O hospital está disposto a ajudar e vamos continuar a ajudar, mas a família tem de a trazer à unidade hospitalar”, reforça.
Entretanto, o familiar de Catarina finalizou dizendo que “sempre que vamos fazer curativo da ferida no hospital, perguntam-nos quem lhe fez a cesariana, o que presumimos que os seus papéis não estão assinados por um médico. Nem o hospital sabe quem lhe fez a cesariana, nem nós sabemos É preocupante!”, lamenta, Domingos André.
OMS preocupada com o número de cesarianas
Recentemente a Organização Mundial da Saúde divulgou um relatório que aponta para o dobro do número de cesarianas realizadas no mundo, o que preocupa e fez com que a mesma organização divulgasse um guia para profisisonais da saúde, de forma a reduzir procedimentos desnecessários.
A organização ressalta no documento que a cesariana é efectiva para salvar a vida da mãe e do bebé, mas somente quando é indicada por razões médicas. De acordo com o documento, as taxas de cesarianas realizadas têm aumentado constantemente, mas sem benefícios significativos para a saúde da mulher ou do bebé.
No documento, a OMS mostra dados recentes de 150 países. Actualmente, 18,6% de todos os nascimentos ocorrem por cesariana, variando de 1,4% para 56,4%. Ainda de acordo com a OMS, por quase 30 anos, a comunidade científica internacional considerou a taxa ideal para fazer cesariana entre 10% e 15%.
A América Latina e o Caribe têm as taxas mais altas de cesariana (40,5%), seguido da América do Norte (32,3%), Oceania (31,1%), Europa (25%), Ásia (19,2%) e África (7,3%). A análise de tendências com base em dados de 121 países mostra que entre 1990 e 2014, a média global da taxa de cesárea quase triplicou (de 6,7% para 19,1%) com uma taxa média anual de aumento de 4,4%.
Os maiores aumentos absolutos ocorreram na América Latina e Caribe (de 22,8% para 42,2%), seguida pela Ásia (de 4,4% para 19,5%), Oceania (de 18,5% para 32,6%), Europa (de 11,2% para 25%), América do Norte (de 22,3% para 32,3%) e África (de 2,9% para 7,4%).
Diferentes causas e sugestões
Segundo a OMS, as causas do aumento são múltiplas. Mudanças nas características da população, como o aumento na prevalência da obesidade, ou os aumentos na proporção de mulheres que nunca tiveram filhos, mulheres idosas ou nascimentos múltiplos, foram citados como possíveis contribuintes para o aumento. Esses factores são improváveis, no entanto, para explicar o grande aumento observado e as grandes variações entre países.
Outros factores, como diferenças no estilo de prática profissional, o medo dos médicos de processos, e factores organizacionais, económicos, sociais e culturais também são citados. Segundo a OMS, a cesariana está associada a riscos de curto e longo prazo que podem se estender por muitos anos além do parto e afectar a saúde da mulher, da criança e de futuras gestações.
Esses riscos são maiores em mulheres com acesso limitado a cuidados obstétricos abrangentes. “As cesarianas também são dispendiosas, e altas taxas de cesareanas desnecessárias podem, portanto, afastar recursos de outros serviços essenciais de saúde, particularmente em sistemas de saúde sobrecarregados e fracos”, diz o documento.
A OMS sugere o uso de directrizes clínicas, auditorias de cesarianas e feedback oportuno aos profissionais de saúde sobre práticas de cesariana; bem como a exigência de segunda opinião para indicação de cesariana no local de atendimento em locais com recursos adequados.