Longa receia ter uma comunidade sem jovens

Longa receia ter uma comunidade sem jovens

A desconfiança deve-se ao facto de a localidade não possuir escolas do ensino secundário, o que obriga as famílias a mandarem os infanto-juvenis para outras paragens, a fim de prosseguirem os estudos

Texto de: Alberto Bambi

O coordenador do bairro Kalamba – Longa, na comuna do Cabo Ledo, município da Quiçama em Luanda, Jeremias Venda Quirinda, manifestou a sua preocupação por causa da falta de escolas do nível secundário do I e II Ciclo, onde os adolescentes e jovens podiam frequentar classes entre a 7ª e 9ª e o ensino médio.

“Esta situação, que é preocupante para todos os pais e encarregados de educação, pode levar-nos a não termos, no futuro, uma classe juvenil residente, porque mesmo quando estes miúdos terminarem os estudos noutras localidades, não vão querer voltar para aqui, por falta de emprego”, disse o coordenador do Longa, tendo adiantado que tal situação já se regista com os primeiros jovens que saíram do bairro para se formarem em Porto Amboim e no Sumbe, na província do Cuanza-Sul, bem como noutras paragens da capital do país. Jeremias Quirinda informou que a vila de Kalamba possui apenas uma escola primária de seis salas de aulas e o mesmo número de professores que não residem na localidade, mas se encontram instalados aí por exigência do ofício.

O êxodo ou despovoamento é, por isso, justificável, na opinião do coordenador, devido à falta desses níveis. “Quando o menino completa 12 anos já tem de sair do bairro”, realçou.

O desejo da equipa administrativa local é que o Estado construa pelo menos uma escola onde se leccionem classes entre a 7ª e a 9ª, de modo a adiar a saída dos meninos da referida idade. “Se isso acontecer, as crianças estarão a completar 16 anos, quando tiverem necessidade de dar continuidade à formação fora do seu habitat”, referiu o entrevistado que, desta vez, o fez nas vestes de encarregado de educação, tendo salientado que o melhor seria mesmo ter instituição escolar do I e II Ciclo.

Citando o seu exemplo, referiu que tem um filho de 14 anos que já está fora do Longa há alguns anos, e isso não era bom para o processo de instrução do rebentos, porque a família tinha quota-parte de contribuição na educação dos seus rebentos.

Relativamente a indicativos de emprego, revelou a existência de um empresário que está a implementar um projecto no sector agrícola há mais de dois anos. Atendeu à solicitação dos moradores para a construção de uma escola.

“Mas por causa da crise, as obras pararam, segundo o que eu soube do próprio empresário. Como vai ser uma escola de 12 salas, estamos a rezar para que o empresário conclua com a empreitada, de modo a minimizar a nossa situação”, disse o interlocutor deste jornal, que recebeu a promessa do executor do projecto de concluir com as primeiras seis salas neste ano, para, no próximo, acabar com a segunda parte.

Se tudo isso correr bem, de acordo com o coordenador da Kalamba, os responsáveis já projectam pedir ao Estado, para lhes enviar professores qualificados para lecionarem as disciplinas das classes em falta, no sentido de arrancarmos com este nível escolar.

Emprego a gotas

O coordenador sabe que a disponibilidade de emprego podia resolver parte do problema do êxodo juvenil, mas sublinhou que a realidade do bairro não lhes oferece muito espaço de manobra. “Mesmo assim, activamos a política de atracção de empresários que se dispõem a investir na localidade, a fim de proporcionarem emprego para os nossos jovens e alguns adultos”, realçou o líder que, neste capítulo, agradeceu o dinamismo dos responsáveis da única empresa por si antes referenciada, que ocupa o pessoal local em algumas empreitadas assalariadas.

Pelo que O PAÍS ficou a saber, no início, o referido empresário empregava 100 cidadãos residentes no bairro Kalamba, mas, devido à propalada crise económica, o investidor reduziu essa oferta para metade. A residência dos professores facilita a dinâmica.

A distância que os separa do casco urbano de Luanda deixou de ser uma preocupação maior para a coordenação de Kalamba, porque o governo envidou esforço para construir uma casa do tipo T4 destinada a alojar os docentes que são enviados para o Longa.

“É uma residência de luxo e a melhor daqui do bairro, por isso os professores terão condições de acomodamento”, gabou-se Jeremias Quirinda, tendo recordado que todos os educadores da escola primária já residem na referida habitação.