Operação resgate “destapa” fragilidade do sector comercial

Operação resgate “destapa” fragilidade do sector comercial

O encerramento de superfícies comerciais, na sequência da “Operação Resgate”, revela que, durante muito tempo, grande parte dos comerciantes em Luanda, na sua maioria estrangeiros, trabalhava ilegais, sob o olhar “atento” dos serviços de fiscalização.

A maior parte dos pequenos e médios estabelecimentos comerciais e de prestação de serviços espalhados pelos principais bairros e avenidas da capital do país encontra-se, desde a noite de Segunda-feira, encerrada. São lojas diversas, cantinas, recauchutagens, oficinas, roulottes, quiosques e outras infra-estruturas que ontem não abriram as portas, na sequência da mega “Operação Resgate” que decorre em todo país. Tal como constatou OPAÍS, as avenidas Deolinda Rodrigues, Pedro de Casto Van-dunem “Loy”, rua dos Comandos, avenida Ngola Kilunji, 7ª Avenida, Calemba-2, rua direita do Camama e em algumas artérias da cidade do Kilamba, nestes locais, constatou-se o encerramento da maior parte dos estabelecimentos comerciais que, num passado recente, movimentavam milhares de populares provenientes de várias partes de Luanda a fim de comprarem e comercializar produtos diversos.

Porém, o encerramento destas superfícies, na sua maioria pertencentes a cidadãos estrangeiros, sobretudo oeste-africanos, revela que, durante muito tempo, estes operadores comerciais trabalhavam na ilegalidade, sob olhar “atento” dos serviços de fiscalização que, a todo instante, deambulam pele cidade. No entanto, com a “entrada em cena” da “Operação Resgate”, que juntou forças de diversos ramos do Ministério do Interior e de outros órgãos do aparelho do Estado, funcionários e os proprietários dos estabelecimentos comerciais passaram o dia desolados, sem expediente algum. No intuito de atender à procura, alguns proprietários destas lojas tentavam, sem sucesso, comercializar os seus produtos, como peças de reposição, na clandestinidade, atendendo os compradores em locais impróprios, como nos quintais, janelas e nos becos, mas, horas depois, eram “barrados” pelas forças de ordem pública.

Em conversa com o nosso diário, um dos comerciantes, sedeados na rua Pedro de Casto Van-dunem “Loy”, no sentido Shoprite-Sanatório, “atirou” a culpa às repartições do Estado pela ilegalidade, alegando existir demora no tratamento da documentação exigida para a legalização de um estabelecimento comercial de pequeno porte, como o seu. Contou que muitos dos seus colegas são, por vezes, obrigados a passar horas e dias em grandes filas só para tratarem de documentos simples, como o alvará comercial. “Não trabalhamos assim porque queremos. O Governo demora para legalizar a nossa situação e nós não temos mais o que fazer senão abrir assim a loja, uma vez que temos produtos que não aguentam muito tempo”, frisou. Visivelmente agastado, o comerciante nigeriano desabafou que “o Estado quer que nos organizemos, mas é também o próprio Estado que precisa se organizar”.

Amigo dos fiscais

Outro comerciante, de nacionalidade maliana, proprietário de uma cantina na avenida Deolinda Rodrigues, disse que só não legalizou a sua actividade comercial até ao momento por ser amigo dos fiscais. Conforme explicou, trabalhava com o alvará de um amigo, mas, desde que este regressou ao seu país tem vindo a trabalhar apenas com uma licença provisória que lhe foi dada por um amigo fiscal. “Desde que o meu boss levou o alvará, tenho trabalhado com uma licença. Nunca tive problemas com os fiscais, por existir ajuda mútua”, atestou.

Dificuldades

Durante a ronda feita pelo OPAÍS, constatou-se que o encerramento destes estabelecimentos comerciantes está a causar sérios constrangimentos na vida dos populares, sobretudo aos que vivem em bairros sem praça ou lojas legalizadas. Muitas donas de casa estão a ser obrigadas a deslocar-se longas distâncias para adquirirem produtos de primeira necessidade que eram comercializados nas cantinas espalhadas pelo interior da maior parte dos bairros de Luanda. “Essas cantinas já nos ajudavam. Com o encerramento estamos a passar mal. Não sei o que será das nossas vidas nos próximos dias. Se o primeiro dia já está assim difícil, imagino que vamos sofrer muito”, desabafou Teresa Miguel, dona de casa.