Polícia dispara contra cidadãos indefesos e faz um morto

Polícia dispara contra cidadãos indefesos e faz um morto

No total, foram 7 tiros que um agente do COPPOE (Comando de Polícia de Protecção de Objectivos Estratégicos) fez, tendo um deles atingido mortalmente o cidadão de 52 anos Bento Eva da Costa, e outro uma senhora de aproximadamente 45 anos, que aguarda por uma segunda intervenção cirúrgica na região da barriga. O agente reagia a um tumulto que se instalou perto do posto policial

Texto de: Romão Brandão

A manhã do feriado de ontem, 11 de Novembro, no bairro da Boa Vista, distrito urbano do Sambizanga, nasceu com a triste notícia da morte de Bento Eva da Costa, às 7h:40min. O cidadão teve a infeliz coincidência de estar no grupo de moradores da rua do Kimakienda, Blocos do Caminho de Ferro, na Boa Vista, que procurava saber as razões da agressão de um dos vizinhos por parte de agentes do COPPOE.

Agostinho Dambi, de 40 anos, era o vizinho que estava a ser agredido, com porretes e paus, dentro do posto do COPPOE que fica nas instalações da Sonangol da Boa Vista. Ele conta que foi ali parar porque um dos agentes, identificado por José Faustino, interpretou mal a uma gozação que este proferiu à filha de uma vizinha, cujo pai é também polícia.

“Ontem, estava na rua ao lado a conversar com uma vizinha, que tem o marido polícia. Na brincadeira, e porque a filha dela estava ao lado, eu disse: Andreia, filha do polícia desgraçado. Quando proferi estas palavras, coincidentemente, estava a passar o agente José, que terá pensado que o desgraçado era ele”, explica.

No dia seguinte, neste caso na manhã do feriado, o agente do COPPOE e seus colegas foram à busca de Agostinho na sua casa, exigindo que os acompanha-se ao posto. Sem mostrar resistência, e porque não sabia do que se tratava, foi com os agentes. Lá, recebeu a informação de que tinha chamado de desgraçado um dos polícias e começou a ser espancado.

Mesmo a explicar que não se tratava dele, pois o desgraçado a que se referiu no dia anterior era um outro vizinho, o pai de Andreia, continuou a ser espancado. “Me disseram que eu sou malandro e que iam mostrar-me que são eles que mandam”, disse Agostinho, que ainda tem visíveis os sinais da agressão nas mãos, braços e no rosto. Eis que a vizinhança, que se conhece toda e considera-se família, vê da parte de fora do posto da polícia (por ter as janelas envidraçadas) Agostinho a ser brutalmente espancado.

Um grupo destes procurou saber o que se passava, mas o agente, de que se diz ter agido sob efeito de bebida alcoólica, sai a disparar. Um total de sete tiros com duas vítimas “Ele fez 6 tiros e um dos colegas fez um (ao ar) para dispersar a população. Dos seis tiros, um atingiu o meu irmão na região do coração, tendo morte imediata, e outro atingiu a vizinha Sani, de 45 anos, na região da barriga, que neste momento sofreu a primeira intervenção cirúrgica no Hospital Militar de Luanda e aguarda pela segunda”, disse, Luís Kawindila, de 40 anos de idade, irmão mais novo da vítima mortal.

Luís também estava no momento do tumulto, também porque considera Agostinho como seu parente, por viverem na Boa Vista desde a sua nascença. Ele ainda procurou, de forma diplomática, conversar com um polícia para saber as razões do espancamento, mas saiu o agente José Faustino a proferir as palavras “vou matar”, tendo de seguida feito os disparos. O irmão da vítima mortal disse que só não foi atingido porque estava no lado esquerdo do agente que fez os disparos.

“Ele, apercebendo-se que matou, subiu num táxi, ameaçou com pistola o motorista para que lhe tirasse dali e pôs-se em fuga”, acrescentou. O seu irmão vivia em frente ao Posto da Polícia e, inclusive, o agente que fez os disparos o conhecia, pois várias vezes frequentava a casa de Bento para consumir bebida alcoólica.

Longe de Bento saber que algum dia seria morto por um de seus clientes habituais. Tudo o que Luís quer é que se faça justiça, pois esteve no Comando Geral da Polícia e lhe foi garantido que o acusado já está detido e que devia aparecer hoje, às 8h, para receber o número do processo e dar o devido acompanhamento.