João Lourenço diz que houve “um banquete” em Angola

João Lourenço diz que houve “um banquete” em Angola

O presidente de Angola falou em entrevista ao jornal Expresso sobre o caso Manuel Vicente, e o combate para reaver o “dinheiro que saiu de Angola”. “São conhecidos os que traíram a pátria”, atira

João Lourenço, o homem que sucedeu a José Eduardo dos Santos na presidência de Angola, que esteve 38 anos à frente do país, diz que também ficou “surpreendido” quando Eduardo dos Santos deixou o poder, mas garante que não está arrependido de decisões como a exoneração de Isabel dos Santos da Sonangol.

João Lourenço diz que quer encontrar “os esconderijos do dinheiro de Angola”, dinheiro que saiu do país durante o “banquete” que se viveu ao longo de vários anos. Estas são algumas das principais ideias da entrevista ao semanário Expresso. João Lourenço diz que não houve “uma verdadeira passagem de pasta” e que não lhe foram “dados a conhecer os grandes dossiers do país”.

Apesar de João Lourenço ser o sucessor de Eduardo dos Santos, teve a imposição de um vicepresidente, Bornito de Sousa, algo que o Chefe de Estado rejeita. O Presidente afirma que a relação com Bornito de Sousa é “pacífica”. “Não temos de trabalhar só com os amigos, conterrâneos ou familiares”, diz. Quanto a afirmações de José Eduardo dos Santos demonstrar arrependimento por o ter escolhido como sucessor, João Lourenço afirma: “a questão não tem de ser colocada a mim mas a ele próprio”.

Foi uma traição? “Não me fale em traição. São conhecidos os que traíram a pátria, a nação conhece-os, sabe quem são e o que fizeram”. O combate destes “conhecido que traíram a pátria” são não para os tribunais averiguarem, mas “para a história registar”. Onde não existe arrependimento é no afastamento da filha do antigo presidente, Isabel dos Santos, da empresa Sonangol.

“Entendi que a Sonangol merecia outro Conselho de Administração e assim o fiz, e não estou arrependido de o ter feito. (…) a Sonangol está melhor do que estava”, afirma João Lourenço. Lourenço afirma que quando chegou ao poder “os cofres do Estado já [estavam] vazios com a tentativa de os esvaziarem ainda mais”. Há a promessa de que se vai recuperar “o dinheiro de Angola”, mas que não vai ser já em 2019: “vai ser um processo longo.

Isto vai acontecer em maior ou menor medida, e as pessoas que não pensem que em Janeiro de 2019 vamos anunciar: olhem, recuperámos todo o dinheiro que saiu de Angola ao longo destes anos…” “Encorajá-lo-ia [Eduardo dos Santos] a fazer isso [dizer quem beneficiou de benesses do Estado] mas, mesmo que não denuncie quem beneficiou do banquete, as figuras que de forma vergonhosa delapidaram o erário público são conhecidas…”, afirma João Lourenço.

João Lourenço refere, também, o caso Manuel Vicente, em que Portugal foi pressionado por querer julgar o político angolano num complexo caso de corrupção. O presidente diz: “a Justiça têm os seus timings. Eu não posso influenciar nem para andar mais rápido nem mais devagar. Aguardemos, portanto, pelo desfecho”.