Serviços de combate ao Sida em sistema adaptado no Luena

Serviços de combate ao Sida em sistema adaptado no Luena

Alguns responsáveis do sector da saúde, no Luena, província do Moxico, informaram a O PAÍS que tiveram de adaptar os serviços de aconselhamento, testagem e o seguimento do HIV-SIDA, por causa das dificuldades no capítulo dos recursos humanos especializados. “Nesse capítulo, estamos bem, mas nós tivemos de adaptar o referido atendimento nas consultas prénatais, dada à distância e à dificuldade que nós temos por carência de pessoal técnico, e enquadramo-las nos serviços pré natais, onde temos duas técnicas que são as chefes e elas é que fazem o aconselhamento, a testagem e o seguimento das gestantes que convivem com o vírus.”, disse o membros de direcção de um dos hospitais da província, que preferiu o anonimato.

Importa referir que o programa de acompanhamento local das mulheres grávidas, no Moxico, se enquadra já no âmbito da Campanha Nascer Livre para Brilhar, liderado pela Primeira-dama da República de Angola, que visa evitar que as crianças nasçam contaminadas com o Vírus de Imunodeficiência Humana (VIH). Por esta razão, a maior parte da cobertura desse programa ocorre na maternidade provincial. Ainda assim, o entrevistado não descartou a possibilidade de haver serviços disponíveis para outros cidadãos que se sintam voluntários ou agregados por via de mobilização e sensibilização.

Referindo-se às estratégias de actuação do acompanhamento em causa, na Maternidade, Anastácia Capenda, a enfermeira que se responsabiliza pelo sector de Prevenção de Transmissão Vertical (PTV), informou que há adesão de muitas mulheres grávidas, por causa do resultado positivo que os aconselhamentos das equipas materno- infantil vão desencadeando na maternidade e das recomendações dadas a estas nas primeiras consultas pré-natais. “Se as senhoras estiverem a seguir muito bem o tratamento, há fases em que registamos o nascimento de três bebés livres do VIH, mesmo sendo de mães seropositivas”, referiu a enfermeira, tendo adiantado que, nos casos em que as gestantes abandonam a medicação, complicam a condição de saúde dos filhos.

Apesar de não serem muito participativas por causa da distância que separa o bairro Social, onde está localizada a Maternidade Provincial do Moxico, e os subúrbios em que reside a maior parte das grávidas, Anastácia Capenda reconheceu que já é notável a fluidez da mensagem sobre a prevenção e combate ao Sida. “Porque, quando estão aqui no hospital, fazem algumas perguntas que nos asseguram de que sabem alguma coisa sobre a doença e suas implicações”, reforçou Anastácia. Detalhou dizendo que as mães seropositivas gerem filhos saudáveis, porque tão-logo dão entrada na maternidade, começam a fazer o corte a partir da sala de parto e fazem a continuidade em casa, com a recomendação de levarem a medicação para as crianças e, no final, quando voltamos a testar os miúdos os resultados são negativos.

Procura tardia condiciona tratamento

Outro colega, cujo nome pediu para não ser citado nesta reportagem, manifestou a preocupação pelo facto de a instituição de Saúde registar a chegada tardia das gestantes, uma situação que, para si, condiciona, e de que maneira, o aconselhamento e seguimento dos casos detectados por via do teste. “Nessas circunstâncias, o risco é maior, tornando-se também maior as dificuldades para sensibilizar e seguir os pacientes, por causa do impacto que a descoberta da nova condição impõe nelas”, realçou o interlocutor deste jornal.

Departamentos provinciais a caminho

Ao abordar a falta de uma instituição provincial que deve subentender os programas de combate ao Sida, fora de Luanda, a directoriageral do Instituto Nacional de Luta contra o Sida (INLS), Maria Lúcia Furtado, anunciou que, organização que dirige está a envidar esforços para criar os departamentos provinciais. “Esta política já consta do nosso estatuto, mas, em termos jurídicos ainda existem algumas incompatibilidades que tão-logo sejam ultrapassadas poderemos materializar a estratégia”, aclarou a integrante da coordenação técnica da Campanha Nascer Livre para Brilhar, tendo acrescentado que as seis províncias prioritárias já estão definidas.

Trata-se de Huambo, Huíla, Bengo, Cunene e Lunda-Sul, além de Luanda, onde o perfil do requerido órgão é ainda suportado pelo instituto nacional. O critério de selecção dessas províncias deveu-se ao facto de se registarem em demasia pessoas com VIH e prevalência. o que é preocupante. Segundo a directora-geral do INLS, enquanto durar o processo que levará à criação dos departamentos do género, as províncias afirmam-se com os designados Pontos Focais, órgãos responsáveis pela Prevenção e Transmissão Vertical e por outras actividades de combate ao Sida. Normalmente, estes sectores estão instalados nas maternidades provinciais com possibilidade de se estenderem para outros de calibre municipal ou comunal.

Violações de crianças preocupam autoridades

Os técnicos de saúde locais que prestaram entrevista a O PAÍS mostraram-se bastante preocupados com as violações de crianças, adolescentes e jovens que ocorrem um pouco por todo país, tendo apontado este fenómeno como uma das causas actuais de contágio do VIH-SIDA. Para eles, é necessário e urgente que a sociedade em geral se mobilize para precaver situações de insegurança dessa franja e denuncie os infractores, de modo a desencorajar a prática. Aliás, o problema constou das inquietações levantadas na apresentação da campanha Nascer Livre para Brilhar, realizada no final de Novembro, na Escola Nacional de Administração (ENAD), onde a Secretária- geral da OMA, Luzia Inglês, “Inga” também pediu que se pusesse cobro às ondas de violação que ocorrem, principalmente, na Cidade Capital.

Ainda sobre esta temática, a médica Manuela Mendes recomendou que as famílias recuperassem a responsabilidade de educar as crianças sobre a vida sexual e traçassem princípios de segurança das crianças. Solicitou aos presentes para desmistificarem o tabu alimentado por muitos seropositivos que violam propositadamente as crianças, por pretenderem que, quando se mantém uma relação sexual com uma virgem, a Sida cura. Para a psicóloga Noelma Abreu é urgente que todos assumam o compromisso de envolvência nos problemas que têm a ver com a doença. “Só assim, podemos vencer estes e outros fenómenos colaterais” frisou.