Hospital da Cela “dá à luz” ao ritmo do gerador

Hospital da Cela “dá à luz”  ao ritmo do gerador

Texto de: Maria Teixeira enviada ao Waku-Kungo

Fotos: Lito Cahongolo

Em apenas uma hora, 160 litros de combustível são consumidos pelo gerador de 1000 Kva que assegura o normal funcionamento do Hospital Municipal da Cela, na localidade de KissangaKungo. Quantidade essa que pode parecer pouco, mas se se multiplicar por 24horas, todos os dias, e se olhar para a quantia monetária que essa unidade recebe do Orçamento Geral do Estado (OGE) para que preste assistência médica e medicamentosa às pessoas que aí acorrem, facilmente se entende a gravidade da situação.

“O gerador tem gastos mensais avultados, que nenhuma instituição pública suporta”, desabafou o director administrativo, Domingos Policarpo Fonseca, que aponta a falta de energia eléctrica como um dos maiores problemas que enfrentam. Acrescentou de seguida que “todos sabem que nenhuma instituição sobrevive de geradores, porque são fontes alternativas e o hospital da Cela não foge a regra. Se tivermos ainda em conta os custos com a manutenção, veremos que se gasta muito mais”, explicou.

Em entrevista ao jornal OPAÍS, o gestor hospitalar explicou que, por vezes, vêm-se obrigados a usar um gerador menor capacidade, limitando o fornecimento de corrente eléctrica a algumas áreas do hospital, para conter as despesas e suprir as outras necessidades do hospital. Outra medida prende-se com a limitação do horário de funcionamento das máquinas, ligadas no período diurno apenas em situações pontuais. Para economizar, funcionam somente das 18 até às 5horas da manhã, segundo Domingos Fonseca.

“O hospital tem dois geradores, mas por causa do combustível ligam apenas o pequeno que, por vezes, não suporta e vai toda a hora abaixo. Por essa razão, a maioria dos quartos fica na escuridão”, desabafou Julieta Lucamba, uma habitante que acorre ao hospital sempre que necessário.
Partos com lanternas e velas Quando tal não acontece, os serviços de parto na área da maternidade são realizados sob a iluminação de lanternas ou velas, como afirma a cidadã Delfina Augusto, mãe de três crianças. Contou que no momento em que deu entrada ao hospital para dar à luz a um dos seus filhos, o trabalho de parto começou a ser realizado à luz de velas, porque não havia tempo para esperar que fossem ligar o gerador. Só passados alguns minutos é que as velas foram substituídas pelas lâmpadas. “São situações que já aconteceram por apenas alguns minutos. Talvez um dos geradores teve algum problema naquele momento”, disse. Apesar de nunca ter passado por tal experiência, Julieta Lucamba, munícipe da comuna da Kissanga-kungo, afirmou que algumas das suas amigas não tiveram a mesma sorte e acabaram por dar à luz nessas condições.