Polícia dispara mortalmente contra mulher e sua filha

Polícia dispara mortalmente contra mulher e sua filha

O bairro Calucango, no município de Viana, em Luanda, registou uma manhã trágica ontem, resultante daquilo que os populares caracterizam de “mal-entendido” por parte de agentes da Polícia da Ordem pública pertencentes à Divisão daquele município, que se encontravam a fazer patrulhamento na área. Segundo testemunhas, Marcelina António (mãe), de 47 anos de idade, e Dina José Muginga (filha), de 20 anos de idade, as vítimas mortais, tentavam acudir o filho (e irmão), de nome Miro, que tinha sido interpelado pelos dois agentes da PN que faziam patrulha, sob a alegação de que a botija de gás butano que transportava era roubada.

As duas cidadãs tomaram conhecimento por terceiros que o seu familiar tinha sido interpelado quando ia à compra de gás, e os polícias alegavam que este tinha roubado a botija. Dirigiram-se ao local e, tão logo chegaram, houve troca de palavras e instaurou-se o tumulto que, infelizmente, terminou com disparos de arma de fogo, praticado por um efectivo da Polícia Nacional, e vítimas mortais. As testemunhas afirmam que os disparos, que deviam ser feitos ao ar, foram feitos à queima-roupa, pelo que Marcelina e a filha Dina, por terem sido as que estavam em “frente ao problema”, foram os alvos.

A mãe foi atingida no abdómen e no peito; e a filha, que estava grávida, no abdómen. As duas (três) perderam a vida no local, tendo a vizinhança apercebido-se primeiro da mãe, achando que Dina tinha apenas perdido os sentidos. Minutos depois, tomaram conhecimento que Dina, que estava grávida, também tinha perdido a vida. Marcelina, de 47 anos, deixa oito filhos, enquanto Dina, deixa dois filhos. O Comando Provincial de Luanda da Polícia Nacional tornou público, ontem, por volta das 16 horas, um comunicado lamentando o sucedido e condenando veementemente a acção dos agentes. Na mesma comunicação, aproveitou para juntar-se à família enlutada, neste momento de dor e luto, e endereçou os sentimentos de pesar.

Dadas as fortes suspeitas de inobservância dos princípios de actuação policial por parte dos agentes visados, encontram-se ambos detidos, para fins processuais subsequentes. Diligências prosseguem no sentido do esclarecimento total dos factos, bem como para o apuramento das responsabilidades que podem advir da referida conduta. “O facto ocorreu quando dois efectivos do Comando Municipal de Viana, em serviço de patrulha, efectuavam uma intervenção policial a uma ocorrência, decorrente de uma divergência cujos detalhes ainda estão por se esclarecer. A divergência envolve uma botija de gás butano, que se julgava ter sido roubada ou furtada, o que levou os agentes a intervirem para a recuperação da mesma e a detenção do presumível autor”, lê-se, no comunicado. A Polícia relata ainda que no decorrer da actuação, a situação terá fugido do controlo dos dois agentes, o que terá motivado os disparos que, inicialmente, visavam dispersar a multidão e vieram a produzir os nefastos resultados ora relatados.

Três mortes em menos de uma semana

Entretanto, no dia 7, ainda em Luanda, no município do Kilamba Kiaxi registou-se a morte de uma adolescente de 14 anos, por disparo de arma de fogo feito por um agente da PN, quase nas mesmas circunstâncias que as de Viana. Dois agentes da Polícia Nacional, em serviço na zona do Viaduto da Camama, ao tentarem persuadir as zungueiras para que não exercessem a actividade de venda naquela zona, estiverem envolvidos numa confusão que terminou com uma morte. Os agentes entenderam que deviam fazer disparos, facto que veio a vitimar mortalmente uma adolescente de 14 anos que por alí passava, atingida com um tiro na cabeça. A situação criou revolta entre os populares que obrigou a que mais agentes se movimentassem ao local para amenizar a população. Os agentes, segundo a PN, estão detidos.