Ex-administrador responsabiliza Governo pela tragédia de Março no Lobito

Ex-administrador responsabiliza Governo pela tragédia de Março no Lobito

POR: Constantino Eduardo, em Benguela

À data dos acontecimentos administrador do Lobito, Ricardo Amaro, em entrevista à Rádio Benguela, apontou o dedo ao antigo Governo central e provincial pela forma como geriram a questão das valas de drenagem do Lobito. O antigo governante afirmou que se aquela circunscrição territorial de Benguela voltar a receber quedas pluviais da proporção das de 2015, seguramente ver-se-á novamente mergulhada no cenário de há 3 anos. Recuando no tempo, Amaro diz que, em 1971, situações do género já se tinham registado na cidade dos Flamingos, nome pelo qual é também conhecida a cidade do Lobito.

Construção de novas residências

Em relação à construção de residências para os sinistrados, o agora docente universitário diz que, desde sempre o processo de decisão sobre que o tipo de casas que se construiria para os sinistrados foi da responsabilidade do Executivo local.Disse não entender as razões de alguns segmentos lhe terem apontado o dedo por ter desviado bens então destinados às famílias que viram parte das suas vidas destruídas pelas enxurradas. “Desde o primeiro momento, as doações nunca estiveram sob gestão da Administração do Lobito, mas de uma comissão criada no Governo Provincial. Os armazéns nem sequer estiveram no município do Lobito, estavam no da Catumbela”, justificou. Na altura, continuou, “seria mais fácil tentar apontar o dedo a alguém, que esse alguém assumisse o ônus de um problema tão profundo e tão grave como foi a perda de 71 vidas humanas, entre eles um sobrinho meu, filho da minha irmã”, disse.

Investigação

O académico criticou o facto de o Governo não se ter dignado a abrir uma investigação para se apurar as reais causas da tragédia de Março de 2015, à semelhança do que ocorre noutras partes do mundo quando há perdas humanas. Mostrou-se indignado com os que o acusaram de ser o responsável pela tragédia, por não ter sequer visitado as valas de drenagem que dizem nunca terem sido desassoreadas pela Administração do Lobito. “As valas estão com o mesmo problema, ou pior ainda. Só para dizer que o problema é de fundo”, para as quais vai ser necessário buscar “soluções de fundo e não paliativas”, para se evitar outras tragédias no futuro.

Amaro Ricardo informou que o Lobito tem 42 quilómetros de valas de drenagem, daí que defenda uma nova proposta de distribuição de fundos para que os municípios, em função da sua realidade, tenham condições materiais e humanas para cuidar do território. “Você dá 25 milhões de kwanzas ao Lobito e 25 milhões a um município que tem 3 mil e 400 habitantes. O Lobito tem quase trezentos mil habitantes e com os problemas que tem. Você dá o mesmo dinheiro a estas duas entidades?” questionou- se. No seu entender, o problema das valas de drenagem com que o município de que foi titular durante anos se debate é estrutural, por isso, o problema deve ser assumido pela estrutura toda, desde o Governo Provincial ao Central.