Polícia pune 127 efectivos e promete demissões de “oficiais micheiros”

Polícia pune 127 efectivos e promete demissões de “oficiais micheiros”

“O que estamos a ver aqui é uma simples representação daquilo que vai ser a demissão de muitos camaradas aqui na Polícia”, garantiu ontem, em Luanda, o comandante- geral da Polícia Nacional, Paulo Gaspar de Almeida, ao presidir a formatura que oficializou a despromoção e demissão de efectivos por terem violado os regulamentos castrenses e as leis vigentes no país. Disse ter tomado contacto com uma lista onde constam os nomes de vários membros da corporação, dentre eles oficiais superiores, que poderão seguir o mesmo caminho. “Oficiais que também vão passar por aqui.

Esses ‘micheiros’ que cobram [dinheiro] ao pacato cidadão para fazer entrar as suas famílias na Polícia, mesmo sem ingresso, vão ser apanhados”, garantiu. O comissário-geral Paulo de Almeida recordou que os membros da sua corporação são servidores públicos e têm a responsabilidade de garantir a ordem e a tranquilidade. Por isso, aconselhou os que continuam na má prática a desistir. Entre os 127 punidos estão oficiais superiores, cujas patentes não foram especificadas, que cometeram infracções de homicídio voluntário e outros que receberam dinheiro de cidadãos com promessa de ingressarem na Polícia, bem como por uso indevido de arma de fogo. Segundo Paulo de Almeida, dos 127 efectivos que estão na lista para serem demitidos, 46 estão encarcerados e só não se fizeram presentes no acto porque as autoridades judiciais não permitiram. Justificou a medida dizendo que “alguns não acataram o nosso conselho, quando alertámos que não queríamos ‘batata-podre’ no nosso seio”.

A decisão do seu elenco visou dar respostas às reclamações que têm sido apresentadas por diversos estratos da sociedade, segundo as quais “o polícia está a extorquir, roubar, agredir e a apossar-se dos bens do povo”. Dirigindo-se aos efectivos reunidos no pátio da Unidade Operativa de Luanda, entre oficiais comissários, superintendentes e agentes, questionou o que é que a Polícia quer e com que tipo de Polícia contam para garantir a ordem e a tranquilidade no seio das populações. Ante o silêncio dos presentes, desabafou que “essa Polícia da desordem não posso comandar. Comigo as coisas têm que andar na linha. Temos que ter uma Polícia recta, correcta e disciplinada”, frisou.

Paulo de Almeida explicou ser objectivos da corporação manter a ordem, garantir a segurança do cidadão, transmitir confiança e protecção, de tal modo que o cidadão deve sentir-se bem quando estiver perante um agente policial. “Não podemos ser nós a desfraldar esses objectivos do Estado. Há um mês, quando nos deram a responsabilidade de capitanear a Operação Resgate, chamei à atenção de que para cumprirmos essa missão tínhamos de ser um exemplo”, recordou. Acrescentou de seguida que, “infelizmente, registámos, e continuamos a registar algumas renitências e resistências e, logicamente, nós prevenimos que todo aquele que violar e cometer actos repugnantes não poderia estar connosco”.

“Ordem Pública está a fazer yulas”

Fez saber que tem recebido muitas reclamações sobre a actuação dos efectivos que actuam na via pública. Muitas vezes complicam e exigem documentos que não existem, só para extorquirem as pessoas. Por outro lado, pede aos cidadãos para estarem mais atentos e a denunciar. Recomendou aos órgãos inspectores, às unidades e aos seus responsáveis a estarem mais vigilantes e a cumprirem as missões de vigilância e inspecção. “Antes falava-se muito do trânsito e continuam, mas hoje, a Ordem Pública também está a fazer ‘yulas’. É melhor pararem”, avisou.

16 Casos em Luanda

Só em Luanda registou-se um total de 16 casos, entre os quais, 10 por demissões e seis despromoções. Entre as demissões, duas por falsas promessas, uma conclusão, quatro por homicídio voluntário, duas por recebimento de dinheiro de cidadãos para entrarem na Polícia e uma por uso indevido de armas de fogo. As despromoções são duas por falsas promessas, duas por recepções indevidas de dinheiro, uma por subtracção de meios em viatura acidentada e uma por apropriação indevida. de bens.