Utopias e medo

Utopias e medo

Para quem tenha nascidos nos anos 1970, até aos anos 1980, certamente que algumas expressões hoje muito usadas causam algum ruído no entendimento. Claro que falo daqueles com cérebro e consciência social, não dos outros, que fazem gala ao usar tais palavras, forçaram para que entrassem no nosso linguajar e, pior, deram-lhes sentido.

É que alguns meninos daqueles tempo e mesmo os vindos depois, além de adorarem dizer que existe Inverno em Angola, introduziram expressões de separação social que antes não existiam. Antes, os angolanos eram todos camaradas. Agora há o patrão e o criado.

Antes, não havia “comunidades desfavorecidas”, não havia “almoços de beneficência” antes de embarcar para a Europa, não havia “crianças carentes”, muito menos “escola pública” e “colégio privado”.

Ou, pior, “escola dos pobres” e “escola dos ricos”. Os vizinhos não se escolhiam entre si, as pessoas não viviam separadas por muros de condomínios, que põem uns quantos lá dentro e a grande maioria de pobres cá fora. Havia menos crime e mais solidariedade. Ia-se à bicha do abastecimento, com o cartão de compras, iam todos.

Sim, era um país utópico, irrealizável talvez, pelo menos daquela forma. Agora não temos utopias e também não temos um país verdadeiramente realizado, mas temos muito menos gente feliz, apesar de haver mais dinheiro, mais bens disponíveis, mais bancos, mais empresas. E o pior, temos muito mais medo.