A odisseia de ter de percorrer o Cuanza em busca de saúde

A odisseia de ter de percorrer o Cuanza em busca de saúde

Os cidadãos são forçados a proceder deste modo pelo facto de não existir na comuna uma unidade hospitalar em funcionamento para atender os 24 mil e 700 habitantes. Para a devida viagem, em busca de assistência médica dos seus familiares, desembolsam de 3 mil Kwanzas por pessoa. Aqueles que não dispõem de tal quantia financeira são obrigados a “fazer das tripas o coração”.

Todavia, a travessia é feita apenas das 4 às 14 horas, pelo que se alguém tiver um malestar das 15 às 3 horas da manhã do dia seguinte, deverá “clamar” a Deus pela sua saúde para que o seu estado não se altere para pior.

A viagem tem sido desgastantes tanto para os doentes como para os seus acompanhantes, chegando alguns deles a falecer ao longo do trajecto. E quando isso acontece, não mais vão até ao local pretendido, deste modo, regressam à sua residência, a fim de realizar o óbito e o funeral no mesmo dia.

Algumas vezes, quando o facto ocorre no Dondo, o corpo é levado até à morgue e para chegar até Massangano, onde é velado, os familiares são obrigados a alugar um barco. Nalguns casos, a angústia que se apossa deles durante a viagem não termina ao chegarem à unidade hospitalar do Dondo. Agastados com a situação, os munícipes de Massangano apelam ao Governo Provincial do Cuanza-Norte, no sentido de serem socorridos.

A cidadã Isabel António declarou que na ausência de barcos, o administrador local, Luís Rodrigo João, disponibiliza o
seu carro para acudir aos munícipes. “Apesar do bom atendimento no centro do Dondo, nem sempre temos valores para a passagem. Dependemos dos produtos do campo, que pouco consegui
mos comercializar”, lamentou.

Centro médico aguarda por técnicos

Para acudir essa situação, que remonta a décadas, foi erguido um centro médico na aldeia sede de Massangano. A nossa equipa de reportagem pôde constatar que o mesmo comporta um banco de urgência e duas salas de internamento bem como uma farmácia.

Entretanto, só não está ainda em funcionamento por falta de equipamentos e recursos humanos. Francisco Artur, que muitas vezes teve de atravessar o Corredor do Kwanza de barco, em busca da sua saúde e dos seus familiares, apela para a abertura imediata no referido centro, de modo a tranquilizar os habitantes que muito têm sofrido.

Quanto à ocorrência de mortes durante a viagem, o presidente da Comissão de Moradores da comuna sede de Massangano, Domingos Filho, contou a este jornal não serem constantes, mas ainda assim considera constrangedor o facto de os habitantes verem seus familiares a perder a vida no meio no rio. “E triste quando isso acontece. Precisamos de ver as coisas a funcionar porque temos aqui crianças que precisam ser assistidas constantemente”, apelou.