Francisco Vidal “É nos momentos mais difíceis da humanidade que surgem as obras de arte mais edificantes”

Francisco Vidal “É nos momentos mais difíceis da humanidade que surgem as obras de arte mais edificantes”

Como é que Francisco Vidal se define socialmente?

Sou um artista visual que trabalha a pintura e o desenho.

Artisticamente?

Interessa-me o estudo de diferentes temas da cultura contemporânea. Através da disciplina do desenho desenvolvo questões e refino o meu sentido crítico.

O que mais o emociona em Belas Artes?

A Beleza construída e pensada.
Como está em termos de exposições e de residência artística? Não uso residências artísticas como espaço de trabalho. Prefiro o meu estúdio, onde tenho todas as ferramentas para me expressar, sobre todos os pontos de estudo que me tocam vindos do mundo e do universo. Luanda é a cidade onde mais gosto de expôr as minhas ideias com pinturas.

O país continua a viver momentos de crise. Até que ponto esta situação terá dificultado a sua actividade ou o surgimento de novas obras?

É nos momentos mais difíceis da humanidade que surgem as obras de arte mais edificantes. Porque elas servem mesmo para não nos desligarmos da imagem ideal daquilo que somos como humanos. E com o estudo dessas imagens e documentos, trabalhamos ideias que agora estão no espaço da utopia e do sonho, mas que no futuro voltarão a ser realidade. E teremos de novo tempos de paz e de progresso social e humano.

Que balanço faz do recém-terminado ano de 2018 e o que mais o marcou neste período?

2018 foi um ano muito trabalhoso e, por isso, penso que nos imprimiu uma necessidade de foco naquilo que é essencial.

Que acções e projectos gostaria de ver implementadas ou melhorados e não foram concretizados?

Tenho uma urgência em ver espaços e situações que vivemos e podiam ser melhoradas nas áreas da saúde, educação, justiça e nos valores básicos que elevam a nossa humanidade. O construir desses espaços elevados é um work in progress, não me parece que necessitem de alturas do ano para fazer balanços. Têm que ser e são sempre urgentes.

Quantas exposições realizou em 2018 no país e no estrangeiro?

Duas em Luanda, que são as mais importantes. Depois tive pinturas em Miami, Lisboa, Macau e Londres.

Dificuldades encontradas?

O meio artístico de Luanda pode ser muito competitivo e agressivo. Quando há cooperação entre os agentes, aparecem trabalhos mais interessantes e importantes.

Qual será o tema da sua próxima criação e onde será apresentada?

Estou a desenvolver composições de flores de algodão a óleo sobre catanas. Vou continuar este estudo até conseguir as leituras necessárias. Quero apresentar nos espaços mais pertinentes. Penso que a última apresentação no Memorial do Presidente Agostinho Neto, foi feliz e num espaço pertinente, para uma reflexão precisa e consciente.

Quando e onde iniciou a actividade artística e qual foi o título da sua primeira criação?

Sempre me conheci como desenhador, profissionalmente fui
reconhecido aos 27 anos. A última exposição teve como título e tema “Nova Angola”. A minha primeira obra-prima de pintura chama-se “A beautiful South”.

Onde a expôs e qual foi a reacção do público?

O público do Memorial respondeu muito bem às questões desta última exposição. A primeira exposição em que mostrei “Um Sul bonito” foi em Lisboa na galeria 111 e teve uma resposta da crítica bastante positiva.

Quais foram os momentos mais marcantes da sua carreira artística?

Vejo o trabalho como um somatório de experiências anteriores. Trabalho sempre para que o trabalho mais recente tenha sempre o melhor do trabalho anterior.

Os menos relevantes?

Bienal de Veneza. Porque sempre que Angola trabalha esta bienal, insiste sempre em mostrar composições, pensamentos e trabalhos medíocres.

Uma palavra para o público apreciador das artes plásticas?

Eu também sou e faço parte do público das artes visuais e das composições finas. Espero que possamos ter todos acesso ao melhor que se faz nesta área.

Para os agentes culturais?

Que façam sempre o seu melhor trabalho e que consigam e tenham sempre sucesso nos seus melhores objectivos.

Perspectivas?

Continuar aquilo que fizemos melhor no passado. Observo com atenção a vida e a cor da cidade de Luanda. Que hoje é vibrante e vive com o pensamento de mudança. Essa mudança é bem-vinda e penso que os que habitam a cidade, ou outros pontos de Angola e do Mundo vivem este momento com a certeza que estamos a construir um espaço bem mais interessante.