Falta de professores deixa mais de 14 mil alunos fora do ensino no Ebo

Falta de professores deixa mais de 14 mil alunos fora do ensino no Ebo

O município do Ebo, com uma superfície de 2 mil 520 quilómetros quadrados, e com uma população estimada em mais de 152 mil habitantes, distribuídos pela sede e aldeias, regista um número preocupante de alunos fora do sistema de ensino. Segundo a chefe da Educação naquela região, Domingas Nacamuasse, em entrevista exclusiva aOPAÍS, o sector que dirige comporta 40 escolas, destas, 37 do ensino primário e três do I e II Ciclo, e no ano lectivo 2018 um total de 14 mil 438 alunos ficaram de fora.

Nesta altura, o município conta com 445 professores para o ensino primário, 28 para o II Ciclo e 117 para o I Ciclo. Este número de profissionais teve sob a sua alçada um total de 32 mil e 57 alunos, dados como matriculados. Em termos de crianças fora do sistema, a comuna do Conde é a que alberga o maior bolo, com 4 mil e 12 crianças. A seguir vem a sede, com três mil e 511, Cassanje com dois mil e 785 e o sector administrativo da Chôa com duas mil e 738.

Segundo a directora da Repartição Municipal da Educação, o que está na base de tantas crianças fora do ensino no seu município não é a falta de escola, mas sim a falta de professores. “Há escolas que funcionam apenas num período, por falta de professores. Normalmente, uma escola com seis salas de aulas deve ter 12 professores para funcionar pelo menos dois turnos, caso seja do ensino primário. Isso não acontece, porque estamos mesmo com falta de professores”, disse. A directora espera que este problema venha a ser resolvido com o Concurso Público da Educação realizado no ano passado, pois acredita que serão alocados para aquele município professores capazes de darem resposta a esta aflição. “Só vamos diminuir o número de alunos fora do sistema de ensino se colocarem mais professores, porque escolas ainda temos para minimizar o problema”, reafirmou.

Magistério Primário arranca este ano

A directora da Repartição Municipal da Educação do Ebo, Domingas Ribeiro Nacamuasse, garantiu que está em construção o Magistério Primário, uma escola que vai formar professores e estará concluída em finais do mês de Março do corrente ano. Apesar de um ligeiro atrasado, o Magistério Primário entrará em funcionamento ainda no presente ano com alunos vindos da 9ª classe e pretendem engrenar na docência. Para que tudo funcione devidamente estão a contar com os professores já existentes. Primeiro far-se-á um pequeno rasteio e aqueles professores que não completarem a carga horária no II Ciclo e que tenham especialidades que correspondam aos cursos, serão aproveitados para acompanharem os alunos que farão o primeiro ano do Magistério Primário, por ser um curso que exige muita pedagogia e metodologia. Igualmente, pretendem cooperar com a Direcção Provincial da Educação.

Diante deste triste cenário, do número de alunos fora do ensino, ainda há alunos que desistem da formação. Mas, apesar de não ter dito o número de alunos que desistiram por quaisquer motivos, no ano passado, a responsável também mostrou-se preocupada com essa situação. O município do Ebo, provincia do Cuanza-Sul é rico em áreas de turismo e de lazer, mas a degradação das vias de acesso está a adiar, a cada ano que passa, o sonho e vontade de empresários nacionais e estrangeiros ligados ao ramo. Administrativamente, o município do Ebo divide-se em três comunas, nomeadamente, a sede, o Conde, Cassanje e a povoação administrativa da Chôa.

Precisa-se de, pelo menos, 360 professores

O município em questão, em termos de professores, recebeu apenas uma terça parte da necessidade e para se cobrir a necessidade precisaria de 360 professores. Ainda no ano passado, a Repartição Municipal da Educação do Ebo recebeu mais 114 professores, dos quais 83 para o ensino primário, sete para o I Ciclo, 14 para o II Ciclo (8º escalão) e nove para o II Ciclo (6º escalão). “Não satisfez a nossa necessidade, mais baixou o número de alunos fora do ensino”, disse. Neste momento, a Repartição Municipal da Educação do Ebo conta com um total de 610 professores, de vários escalões, dentre os quais três falecidos durante o ano de 2018, seis em junta médica e quatro na reforma. Ou seja, a baixa continua, segundo fez saber a responsável.

Domingas Nacamuasse disse ainda que, às vezes, o Ministério da Educação esquece- se do número de professores que entram para a reforma e mesmo enviando mais profissionais a tendência é sempre para a baixa. “Temos muitos professores mais velhos e a tendência é demonstrarem cansaço”, conta. No ano lectivo passado estiveram matriculados em todos os sistemas 32 mil e 50 alunos. Só no ensino primário têm 375 salas, no I Ciclo 48 salas e no II com 28 salas. Totalizando 451 salas de aulas.

Segundo a responsável, o maior número de crianças fora do ensino está no primário, tendo em conta o número de crianças que atingem a idade escolar. Já os I e II Ciclos encontram dificuldades, mas não muitas, porque o I é o que recebe as crianças que terminam o ensino primário (6ªclasse) para ingressarem pela primeira vez na 7ª classe. “O nosso maior problema está nas classes iniciais. Estou a falar da iniciação, por exemplo, que é uma dor de cabeça. Temos três escolas do ensino médio da 7ª, 8ª e 9ª classes e os mesmos continuam até à 12ª classe, no PUNIV que temos no município”, conta.