O académico António- Fonseca afirmou, em Luanda, que a génese e desenvolvimento do pensamento cultural de António Agostinho Neto e os princípios estruturantes do seu pensamento cultural podem ser encontrados na sua poética, particularmente em poemas como “Aspiração”, “Bailarico” e “Havemos de Voltar”. António Fonseca, que falava no colóquio“Dr. António Agostinho Neto e a Cultura Nacional”, salientou que também podem ser encontrados em periódicos como “O Estandarte”, “O Estudante” ou o “Farolim”, órgão no qual Agostinho Neto publicou, em 1946, o artigo “Uma Causa Psicológica: A Marcha para o Exterior”, que terá sido a primeira teorização do Presidente, a propósito da Cultura Nacional.
O académico referiu que tal só poderá ser compreendido se nos detivermos sobre o percurso de vida do próprio fundador da Nação, desde a aldeia de Kaxikane, passando por Luanda, Coimbra, Lisboa, Malange e Bié, onde trabalhou, aos movimentos literários, culturais e publicações de que participou. Por outro lado, adiantou que não poderá ser compreendido se não for considerada a influência do Movimento da Negritude, do ideário pana-africanista e, naturalmente, do Movimento dos Novos Intelectuais de Angola e seu slogan “Vamos Descobrir Angola”. Este último Movimento, segundo António Fonseca, “combatia o respeito exagerado pelos valores culturais do ocidente (muitos dos quais caducos); incitava os jovens a redescobrir Angola em todos os seus aspectos”.
O também Presidente do Conselho de Administração do Memorial Dr. António Agostinho Neto, citando Luís Kandjimbo, referiu que no seu artigo “A geração de 40 e o slogan “ Vamos Descobrir Angola”, o autor salientava que “a sua pouca experiência impediria que a voz chegasse ao céu caso desse conselho, e achava, porém, que a mezinha apropriada para anular os efeitos perniciosos bastante do eurotropismo, seria começar por ‘Descobrir Angola’ aos novos, mostrá-la por meio de uma propaganda bem dirigida, para que eles, conhecendo a sua terra, os homens que a habitam, as suas possibilidades e necessidades, soubessem o que é necessário fazer-se, para depois querer’.
Fonseca acrescentou que este texto não terá, certamente, passado sem repercussões no pequeno meio literário luandense. Tanto assim é que Domingos Van-Dúnem, secretário de redacção do jornal Farolim à data da publicação daquele texto de Agostinho Neto, sustentou que teria recebido “aplauso público de Tomé das Neves, jurisconsulto santomense e um dos maiores arautos da causa africana, que se fixou em Luanda no final dos anos 30”. Realçou que quando, em 1949, o cabo-verdiano Filinto Elísio de Menezes, ansioso por influenciar o meio literário luandense com os ideais do Movimento “Claridade”, proferiu uma palestra promovida pela Sociedade Cultural de Angola, as suas constatações a propósito do surgimento de uma nova poesia angolana não traziam nada de novo.