Paulo Tonet: “Pretendemos que Massangano seja um espaço mais turístico”

Paulo Tonet: “Pretendemos que Massangano seja um espaço mais turístico”

O responsável falou também sobre o projecto que visa relançar músicas e danças tradicionais, de modo a despertar na juventude o interesse de preservar e conservar aquilo que é tradicional.

Como está a província do Cuanza Norte em termos de actividades culturais?

Em termos de actividades culturais a província apega-se um pouco no seu lema, “Cuanza-Norte, o renascer da esperança”. Estamos a fazer um trabalho profundo de identificação dos grupos que a província tem, o tipo de trabalho que desenvolvem e também sobre aquilo que é desenvolvido em cada um dos municípios.

Quais foram os grupos identificados?

Temos grupos de dança tradicional e folclóricos. A dança folclórica é aquela que cada um dos municípios tem como estilo, cultura da região e defende como o grande padrão cultural. Encontramos também grupos de danças modernas, que surgem e crescem todos os dias. Temos ainda oito grupos teatrais, de dança moderna e cantores dos vários estilos musicais. Estamos a falar de Kizomba, Semba, R & B e Afro House.

Que trabalho fazem com estes grupos?

Temos realizado visitas de constatação e mobilização, de modo a incentivar o ressurgimento dos grupos que se encontravam desfeitos. Os que se encontram em fase de crescimento damos-lhes motivação para continuarem. Esperamos que no primeiro trimestre do ano em curso tenhamos algum movimento na área cultural.

Qual é o tratamento que dão aos grupos de dança folclórica?

As nossas políticas nos últimos tempos têm sido conversar com estes grupos. O município de Ambaca, depois da província de Malanje, se calhar Luanda, é o único que tem um grupo de Marimba. Este grupo, no ano passado actuou na Feira dos Municípios e Cidades e foi muito aplaudido. Existe há mais de 20 anos e vai passando de geração para geração. Temos também grupos que fi zeram parte do 1º Festival de Dança e Música Folclórica da Região Norte, como o do Lucala, Samba Caju e Cambambe. São cerca de seis grupos antigos que ainda preservam este estilo e a execução prática no exercício cultural.

Como tem decorrido o processo de identificação dos grupos?

Estou a dirigir esta área na província há sensivelmente seis meses. É um trabalho que a anterior direcção começou, estamos a dar continuidade, com o objectivo de no ano em curso concluir o programa de massifi cação cultural. Encontramos uma monotonia neste processo, mas pretendemos que todos os movimentos culturais possam fazer-se sentir com alguma ênfase. Há toda uma intenção dos jovens realizarem actividades culturais, sem destrinças. Nós é que estamos a tentar educar a juventude, em desmistificar essas acções.

Desmistificar de que modo?

Temos acompanhado nas raves a exibição de artes cénicas, declamação de poesia e consideram a acção como actividade cultural. E não deixa de ser, mas é preciso que os amantes da poesia e trova, por exemplo, possam ir a um espaço adequado para assistir a uma sessão do género.

Quais são as manifestações culturais que têm surgido na província?

São realização de actividades de pequeno porte, para que os grupos não despareçam. Mas, o próprio gabinete tem gizado um programa massivo de distribuição e alargamento daquilo que é a realização de acçoes culturais. Isso quer a nível dos municípios e da sede provincial, que no momento tem o maior número de grupos de dança tradicional e actores. Em quase cinco municípios temos o Movimento Lev’ Arte a realizar actividades do fórum poético, trova e literatura. A nossa intenção é que esse grupo cresça e se massifique a nível dos dez municípios da província.

Que dificuldades eles apresentam para a realização de actividades?

A província do Cuanza-Norte carece de quase tudo. É preciso que reconheçamos que o tempo levou consigo infra-estruturas, condições técnicas e tudo mais. Estes jovens que hoje querem surgir não têm estúdios, aliás, a província nunca o teve. Hoje há jovens que montam estúdios, produzindo artistas locais, que dão corpo às actividades culturais realizadas nas grandes efemérides, como a Feira do Dondo. Temos um marasmo de dificuldades que precisam ser ultrapassadas, de acordo ao tempo e as condições que nos forem apresentadas. Não temos espaços e condições financeiras, mas é preciso fazermos as coisas acontecerem.

Que mensagens de incentivo dão a estes jovens?

Tudo isso passa em transmitir que é necessário um sacrifício de ambas as partes. Do Governo, que tem a responsabilidade de criar as politicas, e da parte deles, que são os executores, de fazer com que as coisas aconteçam.

Em termos de intercâmbio cultural, como tem sido?

Nos últimos tempos temos feito intercâmbios culturais com algumas províncias, como a de Malange e Bengo, principalmente na vertente teatral. Essas duas províncias províncias têm sido as que mais intercalam connosco. Já fomos a Malanje muitas vezes e eles já estiveram cá duas ou três. O que temos estado a fazer é algum trabalho para, no ano em curso, implementar o programa de massificação cultural.

Como será este programa?

A nossa intenção com as províncias são várias. Como este agora, o processo de formação de novos actores para o teatro. Já temos alguns contactos avançados com o grupo Horizonte Njinga Mbandi, que tem a prorrogativa de não ser só um grupo teatral, mas também uma escola de artes, que tem formado artistas de teatro e até de cinema. Estamos a falar também das outras disciplinas artísticas.

As artes plásticas, que impacto têm na província?

Um pouco fraca. Temos o Samba Caju a destacar, o município do Cazengo e Ambaca, onde a produção de artigos de arte com bordão é muito forte. Temos também Gonguembo e Bolongongo. A nossa província é um tanto ou quanto tradicionalista nas artes. Estamos a fazer um levantamento dos sítios e monumentos históricos da província, artes e munições de cada município, culturas e peças de artes possíveis de serem conservadas. Este trabalho está a ser orientado pelo Ministério da Cultura e o Governo da província reforça, nos orienta a fazer um levantamento

Quando será concluído este projecto e qual é a finalidade?

É óbvio que não podemos dizer que é um trabalho que em dois anos vamos fazer, porque estamos a trabalhar com uma equipa muito pequena. Em situações normais, havendo condições financeiras, teríamos contratado uma empresa para fazer todo esse trabalho. É um levantamento arsenal, histórico-cultural da província. Infelizmente não temos essas condições, por isso somos nós quem trabalhamos. Então, sobre o que temos à grosso modo, podemos dizer que o nosso acervo é muito grande.

Que tipo de acervo estamos a falar?

Estamos a dar continuidade neste projecto e a nível de estudo está a ser mais aprofundado. É óbvio que um festival de dança e música folclórica, que foi feito na região, hoje vai começar a ser feito a nível da província. A intenção é de despertar na juventude o interesse de preservar e conservar aquilo que é tradicional, da nossa cultura e da região. É também o relançamento e reaproveitamento das músicas tradicionais da região, independentemente de olharmos para as peças arqueológicas que a província tem, mas as danças, canções, os ritmos devem ser conservados e preservados, mantidos para as posterioridades.

E sobre os monumentos históricos e sítios, já foram catalogados?

Temos mais de 90. Alguns foram propostos ao Ministério da Cultura, para elevarmos a património histórico nacional. A nossa primeira grande luta neste momento é o município de Gonguembo e Massangano. Este último já tem monumentos históricos, como a Praça dos Escravos, construída no século XVI pelos portugueses, e ainda não passou nesta categoria. Fizemos uma proposta, dado a história do espaço e da própria região, assim como do país. Temos ainda nesta região o primeiro tribunal da era, a Fortaleza de Massangano, a primeira igreja da região e de África, a Igreja de Nossa Senhora da Victoria, o Tumulo de Paulo Dias de Novas e o Cemitério dos Capuchinhos. Massangano, pelas características históricas que tem está agora a ser projectado para a requalificação, para torná-lo mais turístico.

Quando pretende implementar o projecto de requalificação?

Nós não temos o poder de fazer essa acção. Fazemos o estudo a nível interno, que foram propostos ao ministério da Cultura. Essa instituição faz o estudo mais aprofundado, os acompanhamentos, em função dos dados e informação que passamos, e depois é levada à consideração superior. Nem sequer é o ministério que por si só faz esta atribuição. É preciso passar ainda por outras entidades superiores.

Mas há já uma resposta?

Não temos resposta, mas há uma que vem sendo feita desde 2016. São dois anos que vimos batendo na mesma tecla, na perspectiva de termos isso para nós. Se ganharmos a graça de ter a Praça de Escravos como mais um património dentro da comuna de Massangano, é possível nos próximos tempos considerarmos esta região parte do Património Histórico Nacional. Isso porque encerram nele vários patrimónios da história do país.

Qual é o impacto que a Feira de Artesanato do Dondo tem na província?

É um projecto que defende o historial do Cuanza. O que se pretendia é que ela tivesse um processo evolutivo no quadro das realizações, mas as conjunturas do próprio país tem complicado naquilo que são as concretizações, as acções que o próprio ministério tinha. Hoje por si só, o ministério já não vê condições técnicas de manter esse desiderato para si, e quer passar para a província. Mais concretamente ao próprio município Cambembe, região do Dondo.

Então, a feira passará a ser realizada pelo município do Cambambe?

É um memorando a ser estudado. Tem sido discutido há dois anos e encerra vários aspectos, como técnicos. Tem sido um esforço do próprio Governo, para que a feira se mantenha, que cresça e não pare Ministério da Cultura entendeu que a feira não deve morrer. Tem sido esta a nossa política, discutir os pontos de referência para à passagem da responsabilidade deste projecto. A nossa política é que no ano em curso consigamos realizar em Agosto, e realizar um evento onde todos nos revemos.

Em termos de turismo como está a província?

Não temos recebido visitantes frequentemente. Em Massangano, devido à peregrinação em Agosto, temos recebido visitantes nacionais e estrangeiros. Só em 2017 tivemos cerca de 5 mil. Em 2018 a meta chegou quase a 7 mil. A perspectiva é que ele continue a crescer. Há um trabalho de requalificação, quer da marginal do Dondo, como da própria comuna do Massangano, dadas as características turísticas e económicas que apresenta. Se tudo correr bem, se as aprovações permitirem, nos próximos anos estaremos bem.