Presidente do Zimbabwe interrompe viagem e regressa ao país após repressão

Presidente do Zimbabwe interrompe viagem e regressa ao país após repressão

O Presidente do Zimbabwe, Emmerson Mnangagwa, anunciou ontem que vai interromper uma visita ao estrangeiro e regressar a casa, após protestos e repressão no seu país, defendendo que deseja “um Zimbabwe calmo, estável e funcional”.“Devido à situação económica, voltarei para casa depois de uma semana muito produtiva de reuniões bilaterais de negócios”, disse o Presidente no Twitter, cancelando sua participação no próximo Fórum de Davos, que começa na segunda-feira. O país será representado pelo ministro das Finanças, Mthuli Ncube.

Emmerson Mnangagwa deslocou-se este domingo ao Cazaquistão, depois de ter iniciado a sua viagem à procura de investimento estrangeiro na segunda-feira na Rússia.

Pelo menos 12 pessoas morreram e 78 ficaram feridas com tiros na semana passada, segundo o Fórum de ONG do Zimbábwe, que documentou mais de 240 casos de agressão e tortura.

Mas essa brutal repressão é “apenas uma antecipação”, alertou o porta-voz presidencial George Charamba, citado no domingo pelo jornal do Governo The Sunday News, acusando a oposição de fomentar a desordem. Charamba acompanha o presidente na sua viagem ao exterior.

A repressão, denunciada pela ONU, está a alimentar o receio de que o Zimbabwe retome as práticas de 37 anos da presidência de Robert Mugabe, derrubado em novembro de 2017 pelos militares.

O ex-vice-presidente Emmerson Mnangagwa, 76 anos, que o substituiu, prometeu revitalizar a economia depois de duas décadas de crise, mas desde outubro de 2018 houve protestos contra a escassez, a inflação e a depreciação da moeda, que se transformaram em tumultos na semana passada, após o anúncio na segunda-feira de uma duplicação dos preços dos combustíveis.

A repressão exercida pelo exército e pela polícia, com muitos espancamentos e sequestros de opositores ou cidadãos comuns, foi fortemente criticada pela ONU.

Na sexta-feira, o Alto-Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos instou Harare a “parar com a repressão”, expressando alarme pelo “uso excessivo da força”, incluindo o suposto tiroteio com balas reais.

Georges Charamba advertiu que “o MDC (Movimento para a Mudança Democrática, o principal partido da oposição) e seus afiliados serão totalmente responsabilizados pela violência e saques”.

Cerca de 700 pessoas foram presas, a internet foi temporariamente cortada duas vezes e as principais redes sociais ainda estão bloqueadas.

O exército e a polícia realizaram uma conferência de imprensa no sábado à noite para rejeitar as acusações de brutalidade, assegurando que alguns atacantes usavam uniformes para se fazerem passar por oficiais.