A geografia da riqueza

A geografia da riqueza

Dizia-me um amigo jornalista português, certa vez, que era perfeitamente compreensível que alguns militares angolanos se tivessem tornado ricos. Uns muito ricos e outros nem por isso, mas a produzir mais dinheiro do que os civis. É que, dizia ele, os militares aprenderam a pensar de forma estratégica, aplicam nos negócios a arte da guerra, sabem como e quando ganhar vantagem e como e quando ser implacável. Não é por acaso que uma das bíblias dos gestores e líderes modernos é exactamente o livro “A Arte da Guerra”, de Sun Tzu, que viveu há mais de dois mil e quinhentos anos. Outra grande vantagem é o conhecimento que os militares têm do território angolano. Eles sabem onde estão as riquezas, conseguem prever para onde se deslocarão os interesses. Não nos espantemos que alguns militares tenham ocupados há vinte anos terrenos de que todos fugiram, julgando tratar-se apenas de mato sem valor. Os militares aprenderam a conhecer as populações rurais, os seus hábitos e como lidar com elas. A guerra deu-lhes vantagens enormes. Se alguém quiser fazer um teste, fale com um coronel ou general sobre determinada área do território e fale com um civil. O militar dirlhe- á os nomes das aldeias, dos rios e até de plantas. Ao civil, pedimoslhe uma indicação, “ya, tás a ver esta estrada? Vais assim, depois assim, e curva assim, tem lá uma aldeia e um ‘carrio’, depois volta só na segunda montanha, acho”… nem os pontos cardiais conhece, na maior parte dos casos.