Mais quatro altos funcionários públicos do ANC acusados de defraudar o Estado sul-africano

Mais quatro altos funcionários públicos do ANC acusados de defraudar o Estado sul-africano

Quatro altos funcionários do ANC (Congresso Nacional Africano), no poder na África do Sul, foram ontem acusados de receber subornos para facilitar a contratação de uma empresa pelos serviços prisionais sul-africanos.

O antigo director de operações da empresa de segurança Bosasa, Angelo Agrizzi, afirmou hoje perante a Comissão Zondo, que investiga a corrupção durante a presidência de Jacob Zuma (2009-2018), que subornou os altos funcionários.

Angelo Agrizzi afirmou que o antigo comissário nacional dos serviços prisionais, Linda Mti, recebeu uma mensalidade de 65.000 randes (4.686 dólares), entre outras ‘luvas’, na tentativa de influenciar a continuidade de um lucrativo contrato público de ‘catering’ entre a empresa e o ministério sul-africano com a tutela dos serviços prisionais.

Agrizzi adiantou que Linda Mti, que se demitiu do cargo em novembro de 2006, beneficiou também de uma empresa de investimentos registada em seu nome, de uma mansão no valor de 18 milhões de randes (cerca de 1,4 milhões de dólares), automóveis, férias pagas, viagens e de seviços de segurança pessoal como parte do esquema.

O antigo gestor da Bosasa implicou também o antigo director financeiro dos serviços prisionais, Patrick Gillingham, afirmando que estava também avençado pela sua empresa com 100.000 randes (7.209 dólares) por mês, acrescentando que a empresa comprou um Mercedes Benz Class E e um VW Polo para ele e a filha, respetivamente, em 2006 ou 2007.

No seu depoimento de hoje perante o juiz Zondo, Agrizzi disse que uma das empresas do grupo Bosasa, a Sondolo IT, foi contratada pelo Ministério dos Serviços Prisionais para fornecer televisores num concurso público avaliado em 200 milhões de randes (cerca de 14 milhões de dólares).

Angelo Agrizzi afirmou ainda que a Bosasa pagou mensalmente um suborno de um milhão de randes (72.100 mil dólares) a mais dois membros do partido no poder – Khulekani Sithole (antigo comissário dos serviços prisionais) e Mnikelwa Nxele (antigo comissário provincial do KwaZulu-Natal), e ao secretário-geral do sindicato de Polícias e Direitos Civis nas Prisões (POPCRU, na sigla em inglês), identificado apenas pelo nome de “Sbu”, para “olearem a engrenagem” de um lucrativo contrato para a Sondolo IT.

Iniciada em Agosto do ano passado, a comissão chefiada pelo vice-presidente do Tribunal Constitucional Raymond Zondo tem como objetivo “lançar luz” sobre os muitos escândalos que marcaram a presidência de Jacob Zuma, substituído em Fevereiro passado por Cyril Ramaphosa.

Jacob Zuma, que viveu no exílio em Moçambique durante a luta de libertação contra o anterior regime do ‘apartheid’ na África do Sul, sempre negou o seu envolvimento em atividades ilícitas.

Angelo Agrizzi, que saiu da Bosasa em 2016, revelou na semana passada que a sua empresa gastava todos os meses entre quatro a seis milhões de rands (284.007 a 431.691 dólares) em subornos, avenças e outros presentes à elite do ANC para ganhar contratos com o Estado ou empresas públicas sul-africanas.

O depoimento de Angelo Agrizzi prossegue hoje ,quarta-feira.