Tribunal interroga mulher do suposto bilionário tailandês

Tribunal interroga mulher do suposto bilionário tailandês

Manthita Pribwai, mulher do alegado bilionário tailandês acusado de liderar um grupo de cidadãos expatriados que tentou burlar 50 mil milhões de dólares ao Estado Angolano, foi ontem interrogada no Tribunal Supremo, em Luanda. A cidadã de 28 anos, de nacionalidade tailandesa, casada com o criador e presidente do Conselho de Administração (PCA) da Centennial Energy Thailand Company, tem dois filhos, um de 6 e outro 3 anos idade, que se encontram no seu país. Ela faz parte de uma delegação, constituída por oitos indivíduos de nacionalidades tailandesas e canadiana que chegaram ao país a 27 de Novembro de 2017, alegadamente para estabelecer parcerias de investimento.

Em declarações à instância do juiz da causa, Domingos Mesquita, esclareceu que veio ao país na condição de vice-presidente da referida empresa e de mulher de Raveeroj Rithchoteanan, de 51 anos. Instada pelo juiz conselheiro do Tribunal Supremo a esclarecer sobre o ano em que foi criada a empresa, disse não ter em mente e que só passou a fazer parte dos seus quadros há quatro anos, porque o seu marido não queria que ela trabalhasse. Apesar de ser sócia da empresa onde exerce o cargo acima referido, a sua acção limita-se a prestar assistência ao marido e a acompanhá-lo sempre que necessário. Em contrapartida, aufere mensalmente o equivalente a 2.000 dólares norte-americano.

Questionada pelo juiz da causa sobre a quem pertencem os 50 mil milhões de dólares que diziam ter disponíveis para investir em projectos de caris social e humanitário em Angola, respondeu ser da Centennial Energy Thailand Company. Insatisfeito com a resposta, Domingos Mesquita insistiu, procurando saber onde foi que a empresa de que diz ser sócia conseguiu tais valores, ao que Manthita Pribwai esclareceu que a empresa pertence ao seu marido e que acredita nas palavras dele. “Portanto, este dinheiro vem do trabalho”, frisou. A sua resposta, descontextualizada, deixou os juízes mais intrigados, por considerarem esse elemento como fundamental para se esclarecer o mistério à volta destes fundos, cuja existência ainda é duvidosa. Domingos Mesquita refez a pergunta e a arguida reafirmou que o dinheiro pertence a essa empresa, sediada na Tailândia. “Como é que a Centennial conseguiu esse dinheiro?”.

Ante a insistência, aparentemente calma e serena, a arguida retorquiu que até onde sabe, o seu marido tem trabalhado com o Banco Central das Filipinas. Manthita Pribwai disse que desde que ingressou na empresa participou na concepção de projectos que serão implementados na República da União de Myanmar, na República Democrática Popular do Laos e na Tailândia, que se encontram ainda em fase de estudo de viabilidade. À semelhança do seu marido Raveeroj Rithchoteanan, afirmou que o convite para vir investir em Angola partiu dos empresários canadianos Andre Louis Roy e de Pierre Rene Tchio Noukekan, que foram à Tailândia, em Outubro, apresentar-lhe projectos que tinham para investir em Angola e que precisavam de fundos para os concretizar.

A proposta foi analisada e aprovada numa das reuniões do Conselho de Administração da referida empresa. Na altura, não conheciam nenhum dos angolanos com os quais foram arrolados no processo como arguidos, nomeadamente Norberto Garcia, ex-director da extinta Unidade Técnica para o Investimento Privado (UTIP), o general José Arsénio Manuel, presidente da cooperativa Ondjo Yetu, afetca às Forças Armadas Angolanas, Celeste de Brito, empresária, e Christian Albano de Lemos, sub-inspector da Polícia que alegadamente prestava serviço de tradução aos tailandeses. Confrontada com um dos documentos anexados aos autos que alegadamente contém o swift (código bancário) enviado pelo Banco Central das Filipinas a Raveeroj Rithchoteanan, a arguida disse que nunca viu o documento, não estava muito focada no trabalho uma vez que o seu marido é quem tratava de tudo. Este processo tem dez arguidos, sendo quatro tailandeses, quatro angolanos, um canadiano e um eritreu.

Riqueza terá vindo de ex-presidente das Filipinas

As informações que constam nos autos dando conta de que os 50 mil milhões de dólares fazem parte de uma fortuna que pertenceu ao ex-Presidente das Filipinas Ferdinando Marcos, não passaram despercebidas ao juiz da causa. Domingos Mesquita questionou a tailandesa de 28 anos se já tinha ouvido falar do ex-Presidente das Filipinas Ferdinando Marcos, ao que respondeu negativamente. Indo directo ao assunto, instou-a a pronunciar-se se sabia se o dinheiro que diziam ter disponíveis para investir em Angola pertenceu ao ex- Presidente filipino, falecido a 28 de Setembro de 1989, ao que respondeu não saber se teria vindo dele.

Respondendo a um dos juízes assessores, esclareceu que tinha conhecimento de que o seu marido trazia dois cheques emitidos pelo Banco Central das Filipinas, um de 50 mil milhões de dólares e outro de 99 mil milhões de dólares. Todavia, somente o primeiro estava direccionado para Angola. Manthita Pribwai esclareceu que Raveeroj Rithchoteanan recebeu o cheque de 50 mil milhões de dólares no Aeroporto da Bangkok (Tailândia), no dia 26 de Novembro de 2017, dias antes de chegarem a Angola, das mãos de uma funcionária sénior do Banco Central das Filipinas, identificada apenas por Fátima.

Contrariamente às cartas de chamada da UTIP e do Fundo de Apoio Social (FAS), que diz terem recebido antes de virem ao país, a carta supostamente assinada pelo vice-Presidente da República, Bornito de Sousa, foi entregue ao seu parceiro durante os dias que ficaram hospedado no hotel Epic Sana, pelo prófugo Pierre Rene Tchio Noukekan. Por outro lado, confirmou que Raveeroj Rithchoteanan, além de PCA da Centennial Energy Thailand Company criou e preside uma fundação com o seu nome vocacionada a ajudar pessoas pobres a implementar projectos sociais e de desenvolvimento das comunidades carenciadas a nível mundial. Mas, de momento, trabalham apenas em países asiáticos. Explicou que a diferença entre ambos consiste no facto de a Centennial Energy Thailand Company realizar investimentos e a fundação, financiada pelo seu próprio mentor, fazer doações. O PAÍS Quinta-feira, 24 de Janeiro de 2019 3