Ocidente muda poder legítimo na Venezuela

Ocidente muda poder legítimo na Venezuela

POR: Luís Matos

Apesar dos apelos de Moscovo para resolver a crise através das negociações e impedir a sua internacionalização, a pressão externa sobre o Presidente Nicolas Maduro está a crescer rapidamente. Os Estados Unidos e os seus numerosos aliados já reconheceram o líder da Oposição Juan Guaidó como Chefe de Estado interino, a União Europeia pretende seguir o exemplo de Washington, se não se anunciarem eleições antecipadas em Caracas no prazo de oito dias. Tendo declarado o actual Presidente da Venezuela, Nicolas Maduro, um “líder ilegítimo” e reconhecendo o seu oponente político como o novo Chefe de Estado, o Governo dos EUA começou a criar uma ampla coalização internacional para uma mudança de regime em Caracas.

No último Sábado, Washington iniciou uma reunião do Conselho de Segurança da ONU, na qual a campanha global contra o Presidente Nicolas Maduro foi liderada pelo secretário de Estado, Mike Pompeo, que participou pessoalmente nas discussões, durante cinco horas, no Conselho de Segurança, advertiu que um momento de verdade estava a chegar para a comunidade mundial, quando cada país teria que fazer uma escolha. “Sem mais adiamentos, sem mais jogos. Ou você está com as forças da liberdade, ou está em aliança com Maduro e o seu caos”, alertou o chefe do Departamento de Estado dos EUA. No entanto, Washington não tem uma ideia clara de quais acções tomar para remover o Presidente Maduro. Pompeo deixou a questão de se saber se a administração dos EUA pode ir para uma intervenção militar na Venezuela.

“Não vou especular ou apresentar hipóteses”, disse ele evasivamente. Logo após a reunião do Conselho de Segurança, no decorrer da comunicação com os jornalistas, o chefe da diplomacia americana manifestou a esperança de que todos os países que se juntarem aos EUA “a separação dos seus sistemas financeiros e do regime de Maduro”, com o resultado de que todos os bens pertencentes ao povo venezuelano sejam transferidos para as novas autoridades. O principal opositor de Mike Pompeo no Conselho de Segurança, foi o Representante Permanente da Rússia, Vasily Nebenzya, que acusou o Governo dos EUA de tentar envolver o Conselho de Segurança da ONU nos “seus jogos imundos”. Segundo o diplomata russo, a resolução da crise deveria ocorrer através de um diálogo dentro do país, enquanto o último propósito de convocar uma reunião de emergência do Conselho de Segurança era “continuar a desestabilização na Venezuela”, impondo da parte dos EUA “os seus conceitos e receitas.

Em algum momento, diplomatas russos e americanos, apegados a uma guerra verbal intransigente e emocionalmente colorida, começaram a considerar a abordagem de quem disfruta de maior apoio no mundo. No início, Mike Pompeo disse que do lado de Nicolas Maduro existem apenas cinco países – Rússia, China, Síria, Cuba e Irão. E depois que o chefe do Departamento de Estado deixou a reunião, Elliot Abrams, representante especial dos EUA para a Venezuela, que adoptou a palavra em violação do protocolo, chamou a Venezuela de “satélite” da Rússia. No entanto, Vassily Nebenzya respondeu que “a Rússia, ao contrário dos EUA, não tem satélites. Além disso, o diplomata russo contou todos aqueles que falaram no Conselho de Segurança e chegou à conclusão de que Mike Pompeo enganou toda gente, e que havia mais partidários de Maduro. “Dos que falaram, 11 países da região latino-americana apoiaram o governo legítimo da Venezuela, dez países opuseram-se, e Barbados referiu-se à declaração conjunta dos países do Caribe, que também falam de não interferência nos assuntos soberanos dos Estados”, disse Nebenzya.

Então, em nossa opinião, acaba por se opor à interferência nos assuntos internos da Venezuela”, resumiu o Representante Permanente da Federação Russa. A nota optimista do diplomata russo foi tentada para ser aproveitada pelo Presidente Maduro que acompanhou a discussão em Nova Iorque, a partir de Caracas e, inesperadamente, considerou a reunião do Conselho de Segurança como um sucesso diplomático para Caracas. “Peço aplausos ao ministro das Relações Exteriores, Jorge Arreaza, vencemos a ONU. Mike Pompeo deixou a reunião”, escreveu Nicolas Maduro no Twitter, deixando claro que a tentativa de criar uma coalizão internacional contra Caracas havia fracassado. Assim, outro passo da comunidade euro-atlântica, a União Europeia, está a ponto de reconhecer o líder Juan Guaidó como chefe interino.

Os países da UE que participaram na reunião do Conselho de Segurança fizeram uma declaração conjunta, que se tornou uma ferramenta de pressão externa sobre o governo de Maduro. Eles pediram “a realização de eleições presidenciais livres, transparentes e fiáveis, de acordo com os padrões democráticos internacionais e com o procedimento previsto pela Constituição da Venezuela”. Se em oito dias uma nova eleição não for anunciada no país, diz a declaração, os principais países europeus reconhecem Juan Guaidó como chefe de Estado Interino. De acordo com o serviço diplomático europeu, a situação na Venezuela será considerada numa reunião informal de ministros das Relações Exteriores dos países da União Europeia que será realizada nesta Quinta-feira em Bucareste, Roménia.

No entanto, o Governo legítimo da Venezuela continua a ser apoiado por vários líderes globais e regionais como a Rússia, China, Turquia, Irão e África do Sul. O Ministério das Relações Exteriores da China, um dos principais credores de Caracas, pediu a todas as partes que demonstrassem moderação e resistissem “a qualquer tentativa de interferência externa”. ”Estamos a acompanhar de perto a situação na Venezuela”, disse o representante do Ministério das Relações Exteriores da RPC, Hua Chunying, no briefing. “Esperamos que todas as partes actuem racionalmente e permaneçam calmas. Nós incentivamos que se faça um acordo político por meio do diálogo pacífico dentro do marco da Constituição”. O Ministério das Relações Exteriores da Federação Russa declarou a sua disposição de cooperar com os Estados e que contribuirão para encontrar um entendimento mútuo na Venezuela.

Ao mesmo tempo, o Ministério das Relações Exteriores da Rússia observou que a intervenção armada está “repleta de consequências desastrosas” e Washington, pelas suas acções e declarações contra Caracas, demonstra “total desrespeito pelas normas do Direito Internacional”. “Tal criação intencional e, obviamente, bem pensada de “poder dual” “na Venezuela, a formação de um centro de tomada de decisão alternativo é um caminho directo para o caos das fundações do Estado venezuelano. Apareceram as primeiras vítimas humanas. Nós condenamos veementemente aqueles que estão a empurrar a sociedade venezuelana para o abismo de conflitos civis sangrentos”, disse o Ministério das Relações Exteriores da Rússia num comunicado. A porta-voz do MIREX da Rússia, Maria Zakharova, disse que “o Ocidente muda manualmente o poder na Venezuela”. “Pelo exemplo dos eventos na Venezuela, é claramente visto como a comunidade ocidental progressista, na realidade, se relaciona com o Direito Internacional, a soberania e a não-interferência nos assuntos internos dos Estados”, disse ela.

Enquanto o Exército e as forças de segurança, bem como o corpo diplomático, permanecerem leais a Nicolas Maduro, “o Exército e as Forças Armadas continuam a ser o principal reduto das autoridades. Isso significa que, apesar dos resultados decepcionantes das suas políticas, o regime de Maduro pode manter a capacidade de resistir à mudança”, disse Harold Trinkunas, vice-director do Centro de Segurança Internacional da Universidade de Stanford. O único desertor a defender a Oposição foi José Luís Silva, adido militar da Venezuela nos Estados Unidos, que anunciou que rompera com o governo de Maduro e apoia Juan Guaidó. Numa declaração do Ministério da Defesa da Venezuela, as acções do adido militar são chamadas “acto de traição e covardia em relação à Pátria”.

Agora, os EUA estão a experimentar uma estratégia de “poder coersivo” desenvolvida pelo Pentágono, sugerindo um uso complexo de sanções financeiras e operações on-line contra o país alvo, juntamente com o apoio à oposição política e à ameaça da força militar. As autoridades americanas continuam a exercer pressão aberta sobre a Venezuela com o único propósito de colocar o seu protegido na presidência. Para aumentar a pressão sobre o Presidente Maduro, os EUA impuseram sanções contra a empresa estatal venezuelana de petróleo e gás (PDVSA). Explicando a imposição de sanções contra uma empresa estatal venezuelana, o secretário do Tesouro dos EUA, Stephen Mnuchin, declarou cinicamente que ela foi para “salvar o povo da Venezuela”. Exactamente, também as empresas de petróleo e gás dos EUA “salvaram” estas companhias para o povo da Líbia e do Iraque. Agora, a maioria dessas empresas está sob controlo americano e as pessoas desses países estão finalmente imersas na “democracia”- no caos e na miséria.