Combate ao VIH/SIdA carece de mais de USD 30 milhões por ano

Combate ao VIH/SIdA carece de mais de USD 30 milhões por ano

O nosso país precisa de um total de 38 milhões de dólares/ano para fazer face aos programas de prevenção, tratamento e combate ao VIH/SIDA, revelou a esse jornal o secretário-executivo da Associação Angolana de Serviços de Sida ( ANASO), António Coelho. Segundo o líder associativo, a resposta comunitária ao VIH/SIDA é garantida pelas organizações da sociedade civil com muitas dificuldades devido à escassez de recursos financeiros.

Esta situação tem feito com que haja redução nas campanhas comunitárias de combate, o que pode fazer com que o número de infecções aumente. De acordo com António Coelho, o sector privado em Angola não financia projectos ligados à doença, apesar de terem noção da sua responsabilidade social. “Os doadores internacionais estão a abandonar o país devido ao facto de Angola ser classificada como país de nível médio e o Governo ter fundos limitados, o que faz com que a resposta nacional sobre o VIH e SIDA dependa da contribuição destes órgãos internacionais.

Órgãos como o Fundo Global, a USAID, o Banco Mundial, a União Europeia, entre outros”, frisou. António Coelho, que falava ao OPAÍS à margem do encontro anual da sua organização, fez saber ainda que a falta de sustentabilidade para garantir uma resposta mais eficaz à luta contra SIDA tem afugentado as organizações da sociedade civil. Por isso, o número de organizações da sociedade civil de luta contra a doença diminuiu de 315, em 2013, para 99, em 2018.

“Essas organizações vivem fundamentalmente de projectos e, quando eles terminam, a maioria das organizações ficam inoperantes. Recomenda-se a elaboração de planos estratégicos de longo prazo, bem como a realização regular de assembleias gerais de prestação de contas e renovação de mandatos para que tenham legitimidade para falar e representar as suas comunidades”, sugeriu.

De acordo com o activista, reconhece- se que as organizações estejam afectadas também pela crise que o país vive e os poucos doadores que existem tendem a apoiar um número limitado de actos.

Por outro lado, o problema do ambiente legal que permite às organizações trabalharem sem restrições e desenvolverem campanhas públicas, bem como prestar serviços às comunidades tem de melhorar, fundamentalmente no que toca à isenção de impostos e à anulação de alguns decretos que comprometem o trabalho das organizações da sociedade civil. “A comissão nacional de luta contra a SIDA reuniu-se em 2018.

A Primeira-Dama da República está envolvida numa campanha denominada Nascer Livre para Brilhar, visando reduzir o número de crianças que nascem seropositivas em Angola no âmbito do PTV. Portanto, nota-se ganhos neste aspecto”, apontou. Em relação ao fornecimento de serviços nas comunidades, o secretário da ANASO disse que, infelizmente, continua a faltar diálogo comunitário e uma maior participação das comunidades no processo de luta contra a epidemia. “Hoje, já há maior confiança do Governo na capacidade das organizações da sociedade civil em fornecer serviços.

As próprias ONG têm estado a trabalhar no sentido de cimentar essa confiança através de um diálogo mais saudável com o Governo”, notou. Taxa de prevalência discutível Por outro lado, Antonio Coelho fez saber que o nosso país continua a ter sérios problemas na recolha e tratamento dos dados ligados à doença.

Conforme revelou, os 2% de taxa de prevalência continua a ser questionada e compromete os esforços na mobilização de recursos para a resposta nacional ao VIH/ SIDA.

Já no que toca à questão da gestão logística, também está a comprometer os esforços para aceleração da resposta. Segundo o especialista, as constantes rupturas de medicamentos anti-retrovirais, testes, reagentes e demais produtos de saúde podem comprometer as acções e as metas estabelecidas.

“As organizações da sociedade civil comprometem-se em 2019 a fazer uma auditoria social mais eficaz ao Governo e a ajudar na busca de soluções que ajudem o país a vencer a SIDA até 2030”, desafiou.

Neste ano, a ANASO vai realizar a assembleia geral de renovação de mandatos e o encontro nacional sobre saúde comunitária, para melhorar a sustentabilidade da resposta ao VIH/ SIDA através de um amplo processo de advocacia que permita ter mais fundos domésticos e facilitar o acesso a esses fundos.